Opinião de Salgado Borges – Olho Seco: Doença ocular do século XXI

Diretor Clínico da Clinsborges, Coordenador dos Serviços de Oftalmologia dos Hospitais Privado da Boa Nova / Dia da Maia e da Lenitudes-
Oftalmologia. Embaixador em Portugal do TFOS (Tear Film & Ocular Surface Society)

O “Olho Seco” é um verdadeiro problema de saúde pública: mais de 15 por cento dos adultos (cerca de um milhão e meio de portugueses) apresentam queixas de dor ou desconforto ocular na sequência desta condição. Neste contexto, podemos definir o olho seco como o desajuste entre a quantidade/qualidade da secreção lacrimal e as necessidades de lubrificação da superfície do olho. A lágrima forma uma película que recobre o globo ocular e a face interna das pálpebras, para que estas, durante o pestanejo, passem suavemente sobre o olho sem o “arranhar” ou danificar, funcionando como o óleo de uma máquina.
Na sua vida profissional, os indivíduos são expostos a inúmeros fatores ambientais identificados como fonte de secura ocular. Refira-se, por exemplo, a utilização prolongada dos ecrãs e a diminuição do pestanejo; a exposição aos poluentes ambientais; o tabaco e o seu efeito na destabilização da película lacrimal; a humidificação deficiente e o aumento da evaporação da lágrima, bem como o aumento crescente das viagens de avião. É ainda de salientar a maquilhagem, que liberta substâncias indesejáveis, quebrando o equilíbrio da película lacrimal; as lentes de contacto que dividem o filme lacrimal provocando uma maior tendência para a sua evaporação; as técnicas de cirurgia refrativa, em particular o LASIK, que provocam uma secura ocular por desenervação da córnea.
O olho seco manifesta-se por um conjunto de sinais e sintomas não específicos, entre os quais se contam a sensação de picada ou de corpo estranho, o ardor e o lacrimejo excessivo. Na colheita da história clínica, deve desde logo procurar encontrar-se alguma relação entre essas queixas e fatores ambientais, uso de lentes de contacto ou toma de medicamentos, tais como antidepressivos, anti-hipertensores ou anti-histamínicos. É importante a identificação do atingimento de outras mucosas, tais como a bucal ou vaginal. Deve também questionar-se sobre a existência de doenças crónicas gerais inflamatórias ou doenças do foro imunológico, tais como o Lúpus ou a Síndrome de Stevens-Johnson.
A produção de lágrimas é igualmente afetada por fatores hormonais, sabendo-se que o olho seco é mais frequente nas mulheres após a menopausa. Outro fator importante é a idade; assim, após os 60 anos a produção de lágrimas é cerca de 25 por cento da verificada no jovem adulto.
Além da história clínica cuidada é fundamental a realização de um exame oftalmológico rigoroso, após o qual poderá estabelecer -se o diagnóstico clínico de olho seco. Se o olho apresenta ardência/picada, tratar-se-á de um olho seco; no caso de haver prurido intenso será provavelmente uma alergia e no caso de colar e apresentar secreção abundante estaremos provavelmente na presença de uma conjuntivite bacteriana.
Atualmente dispomos de tecnologias inovadoras e não invasivas, tais como o Keratograph ou o ThearLab, que nos permitem diagnosticar a presença de um olho seco predominantemente evaporativo ou causado por hipossecreção lacrimal.
Comum ao tratamento de todas as situações de olho seco é a administração de lágrimas artificiais. Em especial, há que ter cuidado com o uso de lágrimas artificiais com conservantes, uma vez que estes podem ter efeitos tóxicos e ser indutores de alergias, e que por si só podem agravar a situação de olho seco. Assim sendo, deve recorrer-se ao uso de lágrimas artificiais, mas com ácido hialurónico, sem conservantes ou fosfatos.
Hoje em dia possuímos novas armas terapêuticas como o uso de anti-inflamatórios não esteroides, corticoides ou ciclosporina. Novos tratamentos tais como a Luz Pulsada ou o Plasma Rico em Plaquetas (Endoret), são duas tecnologias recentes de que dispomos também para tratar situações de olho seco moderado ou grave.
Em conclusão, para prevenir e tratar um olho seco, para além da utilização de lágrimas artificiais, é fundamental alertar os grupos de risco para este problema, nomeadamente os idosos, evitar o uso prolongado dos computadores e a permanência em ambientes adversos.

Centro Integrado de Olho Seco (CIOS)

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