Opinião de Salgado Borges – Óculos de sol: Os cuidados que os olhos nos merecem

É Diretor Clínico da Clinsborges, Coordenador dos Serviços de Oftalmologia dos Hospitais Privado da Boa Nova / Dia da Maia e da Lenitudes-Oftalmologia. Licenciado em Medicina e Cirurgia pela Faculdade de Medicina do Porto, em 1990, doutorou-se na mesma Faculdade, na área de Oftalmologia. Desde 1976 até 1998, exerceu funções docentes na Faculdade de Medicina do Porto. Nos últimos 20 anos, realizou mais de 2000 procedimentos refrativos, cerca de 800 transplantes de córnea e mais de 11000 cirurgias de catarata e glaucoma. Entre 1998 e 2013 foi o Diretor do Serviço de Oftalmologia do Hospital São Sebastião (CHEDV). É ainda Professor Convidado da Universidade Fernando Pessoa, desde 2005. Integrando um vasto currículo conta com mais de 150 publicações, tendo recebido 27 distinções/prémios nacionais e internacionais.

À primeira manifestação de luz surge o gesto imediato de colocar uns óculos de sol. Ficam bem ao rosto e sempre trazem algum conforto aos olhos. No entanto, o modelo e o preço são geralmente sobrevalorizados em relação à capacidade protetora das lentes.
A questão assume dimensões ainda mais gravosas se considerarmos que a sua utilização pode implicar efeitos nocivos, superiores à decisão de andarmos no dia a dia sem óculos de sol. O alerta é lançado por Salgado Borges, oftalmologista, que lembra a existência de determinados grupos de risco, designadamente as pessoas idosas e as crianças, que requerem precauções acrescidas.
A explicação é simples e de ordem clínica. Tomando os mais pequenos como exemplo demonstrativo, diz Salgado Borges que, “por volta dos três – quatro anos de idade, o cristalino – a lente dos nossos olhos -, não tem capacidade para filtrar a radiação ultravioleta, pelo que é fundamental a proteção com óculos de sol adequados, além do também importante recurso a chapéus ou bonés, capazes de aumentar a área de proteção”.
Mas há outros segmentos da população que, por um conjunto de fatores, precisam de ter uma atenção especial no momento da aquisição de uns óculos de sol, cujas lentes devem necessariamente absorver 99 a 100 por cento da luz ultravioleta, tanto a UV-A como a UV-B.
Salgado Borges refere, a propósito, “as pessoas que vivem junto à praia – local onde se verifica um maior reflexo do sol sobre a água e a areia – são mais predispostas a lesões na retina”.
Isto porque, prossegue o especialista, “há diversos trabalhos que sustentam que a exposição prolongada e cumulativa dos indivíduos às radiações UV aumenta a suscetibilidade à Degenerescência Macular relacionada com a Idade, ou DMI”, uma doença que atinge principalmente pessoas com idades superiores a 55 anos, e que resulta do envelhecimento da mácula, a zona mais sensível da retina.
Um desses estudos, realizado nos EUA, demonstrou que as populações de pescadores têm uma predisposição maior para desenvolverem a DMI do que os restantes indivíduos. Na mesma linha de orientação, há investigações em Portugal que evidenciam uma menor tendência, entre as populações rurais, para apresentarem aquela patologia.
Além dos fatores de ordem ambiental, e que demandam a correta prescrição de uns óculos especiais de proteção, também a alimentação e suplementos de vitaminas/ antioxidantes são fundamentais para atrasar ou reduzir a gravidade da DMI.
Salgado Borges aconselha a adoção de uma “dieta equilibrada e rica em antioxidantes como a luteína e a ingestão de vitaminas, entre elas a C, pois estes são elementos capazes de proteger a retina dos efeitos nocivos das radiações UV”.
Mas a DMI não é o único problema resultante da exposição prolongada à luz UV, pois são vários os relatos de outras doenças a nível dos olhos. Salgado Borges destaca o “desenvolvimento de tumores da pele que circunda o olho e do melanoma intraocular, situações que têm sido ultimamente associadas à influência da radiação ultravioleta”.
O oftalmologista refere, ainda, “os riscos em que incorrem os pacientes submetidos a cirurgia às cataratas, uma vez que, depois de retirado o cristalino, se as lentes intraoculares não tiverem proteção adequada com os filtros ultravioletas, o perigo é bem maior”.
No entanto, se a qualidade da lente é uma exigência a não descurar, já a cor constitui um elemento de menor importância, obedecendo quase exclusivamente muitas vezes a critérios de gosto pessoal.
Apenas a ressalva, diz Salgado Borges, para “os óculos demasiado escuros, que não significam necessariamente maior proteção para os olhos. A sensação de conforto e de segurança é falsa, pois há uma maior dilatação da pupila e um aumento significativo de percentagem de radiação UV que não é filtrada adequadamente.”
Em conclusão, o aumento das atividades ao ar livre facilita a exposição aos ultravioletas da luz solar. Esta proteção terá de ser adaptada ao doente concreto, lembrando-nos de que a maior transparência e menor pigmentação do olho da criança, do operado às cataratas e ainda das pessoas com olhos claros obrigam a maior proteção do que no adulto com olhos castanhos.

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