O que deve saber sobre Dermatite Atópica e Urticária

A alergia cutânea constitui uma das áreas mais interessantes no âmbito da especialidade de Imunoalergologia. Inclui essencialmente 3 patologias: urticária/ angioedema, dermatite atópica e dermatite de contacto.

A urticária atinge cerca de 20-30% da população pelo menos uma vez na vida. A maioria dos casos é de urticária aguda, com resolução em menos de 6 semanas, mas cerca de 1% da população geral tem urticária crónica (mais de 6 semanas).

A sua causa não é evidente em muitos casos, mas raramente está relacionada com doenças graves. Dentro das causas mais frequentes de urticária aguda temos infeções víricas, alergia a alimentos, medicamentos ou picada de insetos (surge habitualmente até 2h após ingestão/ exposição e desaparece em média após 8-12h;)se ocorrerem sintomas de outros órgãos em simultâneo, como por exemplo dificuldade respiratória, dor abdominal e vómito, tonturas e prostração, deve suspeitar-se de Anafilaxia, que é uma emergência médica e exige tratamento no Serviço de Urgência. O tratamento da Urticária é numa primeira fase, feito com medicamentos anti-histamínicos. Os corticoides injetáveis ou orais são utilizados em situações excecionais e por períodos curtos, apenas em caso de crise aguda de difícil controlo e perante prescrição médica. Outros medicamentos que atuam no sistema imunológico (omalizumab), estão reservados para quadros graves e podem ser utilizados caso a caso.

A dermatite atópica é uma doença inflamatória crónica cutânea que afeta cerca de 10-20% das crianças e 2–10% dos adultos em países desenvolvidos. Clinicamente, a doença manifesta-se por secura e prurido (comichão), com aparecimento de lesões em locais diferentes dependentes da idade. A sua origem resulta da interação entre muitos fatores, alterações da barreira cutânea, predisposição genética e desequilíbrio imunológico. É essencial a hidratação da pele através de cremes específicos, por vezes é necessário aplicar cremes com medicamentos capazes de diminuir a inflamação e a comichão. Nas formas moderadas a graves é necessário utilizar comprimidos imunossupressores para controlar a doença, mas que acarretam mais efeitos secundários; em casos selecionados pode ser necessário recorrer a imunomoduladores biológicos como o dupilumab por via subcutânea e de uso exclusivo hospitalar. A Dermatite de contacto resulta de uma reação de hipersensibilidade a compostos químicos que podem estar presentes em tintas, corantes, vernizes, borrachas, couro ou cabedal, cosméticos ou produtos de higiene diária como desodorizantes ou champôs. No diagnóstico é útil realizar testes de contacto (que permitem identificar a substância que causa a dermatite). Estes testes consistem em colocar um adesivo no dorso com várias substâncias em pequena quantidade que poderão potencialmente causar alergia. Ao fim de 48 a 72h deve ser feita a leitura dos resultados. No caso de serem positivos, deve ser evitado o agente causador.

8 de julho – Dia Mundial da Alergia

Um terço dos portugueses sofrem de alergias

Assinalou-se no passado dia 8 de julho o Dia Mundial da Alergia, uma iniciativa conjunta da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Mundial da Alergia (OMA), com o objetivo de alertar as populações para a importância do diagnóstico e tratamento devido das doenças alérgicas. Estima-se que um terço dos portugueses sofram de alergias, contudo, há dados que sugerem que metade dos europeus tem algum tipo de doença alérgica. Desde a rinite, à sinusite, à urticária, passando pela dermatite atópica e pela asma, as doenças alérgicas podem assumir formas mais ligeiras ou mais graves, podendo, algumas delas, ser causa de grande morbilidade e até de mortalidade, como é o caso do angioedema hereditário, das imunodeficiências ou da anafilaxia.

Em contexto de pandemia, o acesso às consultas de especialidade e aos exames complementares de diagnóstico comprometeu o seguimento adequado de muitos doentes, deixando-os desprotegidos, nomeadamente nas fases mais críticas do ano, em que é típico o agravamento das reações alérgicas.

Professora Doutora Cristina Lopes

Coordenadora do Grupo de Interesse da Alergia Cutânea da SPAIC e Coordenadora da Unidade de Imunoalergologia, Unidade Local de Saúde Matosinhos

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