Manter o património

 

 

A Archeocélis é uma empresa em atividade há 18 anos, com o principal foco nos serviços de investigação arqueológica, nomeadamente trabalhos que salvaguardem o património. A Business esteve em entrevista com Célia Coelho, CEO e uma das primeiras mulheres a entrar na arqueologia em Portugal enquanto empresária.

 

Célia Coelho, CEO

Qual a abrangência dos vossos serviços?

Os serviços da Archeochélis cobrem os mais variados contextos, inseridos no âmbito da arqueologia e da gestão de património. Damos resposta em áreas tão diferentes como a realização de estudos de impacte ambiental, acompanhamento arqueológico de obra, escavações de emergência nos diferentes meios – terrestre ou aquático, prospeção arqueológica, conservação e restauro de património, antropologia e investigação laboratorial de arqueologia nos mais variados períodos históricos, desde a pré-história à contemporaneidade. Os serviços relacionados com a gestão patrimonial em ambiente de obra acabam por ser os mais procurados.

Na maioria, estes trabalhos inserem-se no âmbito da arqueologia de carácter preventivo ou de emergência, atuando em empreendimentos públicos ou privados como o exemplo das construções rodo e ferroviárias, obras de saneamento, distribuição de águas e gás, implementação de linhas de alta tensão, reabilitação urbana, construção de barragens e empreendimentos turísticos. Todas as obras têm como objetivo principal a salvaguarda do património cultural e a posterior divulgação científica dos resultados obtidos.

O vosso campo de atuação centra-se no território nacional ou vai além-fronteiras?

A maioria dos serviços decorrem em território nacional. Mesmo atravessando bastantes desafios económico-sociais ao longo dos anos, o país tem apresentado uma grande capacidade de perseverança e vontade de fazer mais e melhor. Os portugueses são cada vez mais sensíveis à importância da História e da Arqueologia, o que tem permitido a acentuada evolução destas duas ciências e o desenvolvimento dos prestadores de serviços associados. Mas a abertura a novas oportunidades é da maior relevância para o nosso crescimento. Têm sido realizados alguns trabalhos de arqueologia subaquática fora do país.

 

Têm uma equipa diversificada em termos de conhecimentos e formação? Ou procuram também colaborações para prestar um serviço com maior qualidade?

O nosso maior foco é prestar um serviço de elevada qualidade e profissionalismo. Nesse sentido, optou-se por encontrar um equilíbrio saudável entre os dois formatos. Uma equipa diversificada fortalece a capacidade de resposta e adaptação a um novo desafio. A disponibilidade para colaborar com elementos externos e técnicos mais especializados permite-nos reforçar essa capacidade e abraçar projetos de maior dimensão e/ou de conteúdo mais específico. Devem ser avaliadas as necessidades de cada intervenção e encontrar a melhor solução com o objetivo final de um bom trabalho, baseado num bom balanço custo-benefício.

Como tem visto a realidade da área, no que diz respeito à presença da mulher? 

É com agrado que vejo a presença da mulher a crescer no meio e a deixar bons resultados. A diversidade de perspetivas e contribuições em qualquer área é essencial para o seu desenvolvimento. A variedade abre espaço a novas interpretações, novos métodos, novas formas de trabalhar, com uma visão mais fresca, atualizada e estimulante. E são nestes pontos que vejo as melhorias introduzidas pela presença feminina.

Se não fui a primeira mulher arqueóloga empresarial, terei sido seguramente das primeiras. Quando iniciei o meu percurso profissional, deparei-me com um mundo, à partida, inóspito, onde eu chegava a ser a única mulher em obra. Nesse contexto geral, tive que ir desbravando um caminho que não estava, à partida, traçado para uma mulher. Esse foi um desafio muito pessoal para mim, porque senti que estava a percorrer mais um bocadinho desse caminho de luta que não era só minha, era nossa, das mulheres. E criei a minha empresa, assumi o meu nome e sinto que ganhei o meu espaço próprio neste mundo da arqueologia.

Onde podemos evoluir e muito é na naturalidade com que se lida com essa diversidade. A mulher ainda tem de lutar muito para ser “ouvida” no meio e tem de estar constantemente a provar as suas capacidades e qualidades. Uma vez formada equipa, voz igual para os dois géneros é o que se mais anseia.

A mulher tem uma visão mais detalhada das situações, está mais atenta aos pormenores. A arqueologia é uma área em que essas características são fundamentais?

Essas características são, de facto, essenciais na arqueologia e estas somam-se a intuição e sensibilidade ao que nos rodeia. A arqueologia é uma área extremamente complexa, uma vez que estuda e interpreta acontecimentos e realidades do passado, que, como tal, não podemos aceder diretamente. Resta-nos explorar a realidade atual e procurar marcas e vestígios deixados pelos nossos antecessores. As características referidas permitem potenciar essa busca e a informação recolhida na mesma. Além disso, é um campo onde o trabalho de equipa se revela altamente produtivo e onde a sensibilidade, atenção e intuição femininas mostram ser grandes contribuições para uma saudável interação entre os elementos e consequente incentivo à partilha e discussão de dados, com elevado ganho para à produção laboral e para o conhecimento científico.

 

 

Um dos grandes objetivos da arqueologia passa por manter o nosso património, mas também reinventá-lo. A Archeocélis tem tido um papel determinante nesse sentido?

Perante os atuais desafios económicos e sociais, a proteção do património parece necessitar de passar para segundo plano. No entanto, compreender as nossas ações ao longo do tempo, ajudam a clarificar a nossa forma de interagir com o mundo agora. Um conhecimento mais alargado sobre os processos e dificuldades que nos envolveram, pode trazer pistas sobre como agir no futuro. Exemplo disso são alguns dos grandes desafios ambientais, como a era glacial ou a migração para outros continentes com diferentes condições atmosféricas e recursos disponíveis e a forma como os ultrapassámos e sobrevivemos. Estes apresentam pontos em comum com a situação ambiental muito discutida no presente. São com pontos como este que se tem procurado aproximar o público da sua História e envolvê-lo na investigação arqueológica, incutindo-lhe o desejo de defender o património e aprender com ele.

A Archeocélis quer contribuir e dar o exemplo para esta mudança de mentalidade. Mudança esta que envolve uma maior interação e colaboração entre as várias áreas de intervenção no país e a partilha de conhecimento. Deste modo, a Archeocélis tem trabalhado no sentido de acolher diferentes campos de investigação, desenvolver a interdisciplinaridade da sua equipa, promover a troca de ideias, gerar produção científica e incentivar a sua exposição e acesso a todos.

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Morada: Avenida D. Afonso V, nº16, 5º esq./2870-137 Montijo, Portugal

Tel.: 289 357 500

E-mail: geral@archeocelis.com

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