Literacia em saúde no olho de uma transformação dos direitos da pessoa

 

Professora Doutora Cristina Vaz de Almeida, Presidente da Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde (SPLS), Diretora da Pós-Graduação em Literacia em Saúde (ISPA)

 

 

 

A literacia em saúde é preservar a confiança. É preservar a segurança. É preservar a acessibilidade. A literacia em saúde é proteger e defender os direitos humanos.

Reforça a confiança porque ao desenvolvermos intervenções que melhoram as competências das pessoas, isto é, ao garantir que elas incrementam os seus conhecimentos, capacidades e atributos, estamos a aumentar o nível de literacia em saúde. Investimos nas pessoas ao longo do ciclo de vida: no seu saber, no saber fazer o que lhes pedimos que façam para defender e proteger a sua saúde.

Com este investimento estamos a gerar empoderamento e controlo da sua vida. Estes fatores são geradores de maior autoestima, e, por isso, também de uma maior confiança nas decisões acertadas em saúde que toma minuto a minuto.

A literacia em saúde reforça a segurança, porque se os profissionais desenvolverem uma estratégia de melhor acesso, compreensão e uso dos recursos, vão diminuir os eventos adversos em saúde, tanto nas organizações de saúde como nos grupos e nas comunidades, e a literacia em saúde contribui assim para uma maior segurança societal.

A literacia em saúde reforça a acessibilidade, porque ao tomar decisões acertadas no domínio da prevenção das doenças, na promoção da saúde, e mesmo nos cuidados, abre e deixa aceder, de forma mais fácil, um campo protetor e fortalecido junto das populações vulneráveis.

Literacia em saúde é ainda um determinante para os direitos humanos, porque dá voz e espaço para que as populações possam dizer por si o que são as suas reais necessidades. A literacia em saúde vai além das determinações regulamentares unilaterais. A manifestação das suas reais necessidades impacta nas políticas públicas, que são assim mais ajustadas às comunidades. A voz do cidadão, sobretudo o mais vulnerável, dá mais forma e força aos ecossistemas que se querem mais saudáveis, porque fazemos intervir todos. Todos devem ter voz e não serem substituídos. Entre as populações mais vulneráveis estão as pessoas mais velhas, as pessoas com deficiência, as pessoas migrantes, as pessoas LGBT, as pessoas com doenças crónicas, entre outras, em todo o ciclo de vida, que pelo seu perfil não têm tantas e iguais oportunidades.

Nunca o mundo, as organizações e os investigadores tiveram tantos dados sobre as desigualdades ao longo do ciclo de vida. Temos dados sobre os milhões de meninas e mulheres sem educação, temos dados sobre violência doméstica. Sabemos que a carência económica é preditora de populações mais obesas, com mais hipertensão, mais diabetes, mais doenças cardiovasculares e oncológicas. Os dados falam por si. Então, havendo tantos dados, o que é preciso fazer? É preciso ouvir mais os cidadãos e fazer intervenções à medida das suas necessidades. Investir mais na promoção da saúde que é promotora de maior literacia em saúde.  Este tem sido o nosso trabalho na Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde.

Face a este enquadramento, posso afirmar que investir na literacia em saúde, nas competências, no esclarecimento do maior conhecimento, na garantia de uma execução para um estilo de vida saudável, mais duradouro, autónomo e independente, a literacia em saúde vem de forma inequívoca proteger e defender os direitos humanos, criando sociedades mais conscientes e sustentáveis.

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