Contactologia

Perante a limitação funcional da visão provocada por um erro refrativo é geralmente possível optar por uma de três abordagens: a utilização de óculos de correção, a utilização de lentes de contacto ou a cirurgia refrativa, amplamente difundida, seja praticada por técnicas de laser, seja por colocação de lentes intraoculares. Apesar das técnicas de cirurgia refrativa serem cada vez mais abrangentes e seguras, a utilização de lentes de contacto continua a ser uma excelente forma de correção.

As lentes de contacto são muitas vezes usadas como alternativa aos óculos, permitindo obter a mesma acuidade visual, com melhoria da qualidade de vida, com a vantagem não limitarem a visão lateral, permitindo, maior liberdade na prática de atividades desportivas e recreativas. Também pode ser usada para fins cosméticos, modificando a cor dos olhos, com a utilização de lentes “gelatinosas” coloridas.

Luís Torrão – Médico Oftalmologista do Hospital de São João


Em alguns casos, as lentes de contacto proporcionam melhor visão do que os óculos, em pessoas portadoras de queratocone (doença que leva a deformação da córnea), anisometropia (graus muito diferentes entre os dois olhos) e astigmatismo irregular (deformidade da córnea).

Existem essencialmente 3 tipos principais de lentes de contacto: as lentes hidrófilas, as lentes rígidas permeáveis aos gases e as lentes híbridas.

As lentes Hidrófilas são muitas vezes conhecidas pelo nome de lentes “gelatinosas”, devido ao material que foi mais popular no seu fabrico, os polímeros de Hidrogel. Atualmente as lentes “gelatinosas” de silicone-hidrogel permitem manter os mesmos níveis de conforto com aumento da permeabilidade ao oxigénio. Hoje é possível corrigir uma grande variedade de erros refrativos, miopia, hipermetropia, astigmatismo regular e presbiopía (perda de acuidade visual para perto). As lentes hidrófilas podem ser de longa duração, sendo mais conhecidas as lentes “anuais”, ou “descartáveis”. As lentes “descartáveis” podem ser trimestrais, mensais, quinzenais ou diárias. As lentes descartáveis diárias tornaram-se muito populares pela sua segurança diminuindo o risco de infeções e reações alérgicas na superfície ocular.

As lentes “rígidas” são mais resistentes, mais fáceis de limpar, corrigem quase todos os tipos de ametropia, e podem ser usadas simultaneamente com a maioria dos colírios. Entretanto, podem ser desconfortáveis durante o período de adaptação e são mais fáceis de se deslocarem. As lentes “gelatinosas” são confortáveis desde o primeiro dia de utilização e raramente se deslocam, porém proporcionam menor nitidez em certos astigmatismos.

As lentes “híbridas” são uma composição de uma lente de contacto rígida central com uma lente hidrófila periférica. Procuram aliar as vantagens dos dois tipos de lentes de contacto; a boa capacidade de correção de irregularidades da córnea das lentes “rígidas” e o conforto das lentes hidrófilas. Este tipo de lentes utiliza-se essencialmente na correção visual de pacientes com algumas doenças da córnea, das quais a mais conhecida é o Queratocone. Atualmente este tipo de lentes é frequentemente substituído por lentes rígidas permeáveis ao gás de grande diâmetro vulgarmente conhecidas por “lentes esclerais” pelo seu apoio na esclera.

As principais complicações provocadas pela utilização de lentes de contacto resultam de utilização abusiva ou de má manipulação da lente de contacto. Devido ao contacto com os olhos, a utilização de lentes necessita de acompanhamento pelo médico oftalmologista. Embora sejam seguras em pacientes bem-adaptados e controlados, podem ocorrer algumas complicações oculares, sendo a infeção a mais temida.

O atual contexto de pandemia levantou muitas dúvidas acerca da possibilidade de aumento de risco de infeção por SarsCov2 em portadores de lentes de contacto. Na verdade. a utilização de lentes de contacto não aumenta o risco de infeção. A implementação de cuidados de higiene mais rigorosos, particularmente a higienização das mãos ao colocar e retirar as lentes de contacto deve fazer parte das nossas novas rotinas de prevenção. O contacto das mãos com os olhos é a maior fonte de contágio pelo que deve ser evitada.

 A utilização de lente de contacto é uma prática que requer cuidados bem estruturados que pode melhorar muito a qualidade de vida dos pacientes, mas que não deve ser menosprezada.

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