Lentes de contacto

As lentes de contacto constituem um notável auxiliar da visão, capazes de satisfazer uma pluralidade de necessidades oftalmológicas e cuja correta utilização e vigilância pelo oftalmologista  garantem a sua eficácia e segurança.       

Segundo a Organização Mundial de Saúde, os erros refrativos são o problema oftalmológico mais comum em todo o mundo e a principal causa de baixa visão quando não corrigidos.

Estes incluem a miopia (dificuldade em ver ao longe), a hipermetropia (dificuldade maior em ver objetos próximos) e o astigmatismo (dificuldade em focar objetos próximos e distantes), que podem ser corrigidos com recurso a óculos, lentes de contacto ou cirurgia refrativa.

Embora o primeiro conceito de lentes de contacto remonte a 1508, por Leonardo da Vinci, no Codex of the eye, Manual D, foram os avanços científicos e tecnológicos significativos dos últimos anos que as tornaram numa opção cada vez mais eficaz, prática e segura. Existem em múltiplos formatos, capazes de satisfazer quase todas as necessidades oftalmológicas.

As lentes de contacto são pequenos dispositivos circulares graduados, colocados em contacto direto com a córnea (a superfície transparente mais anterior do olho) e cuja utilização apresenta uma série de vantagens. Comparativamente com a utilização de óculos, as lentes melhoram a qualidade e o campo de visão, sobretudo em erros refrativos mais elevados; são também mais cómodas em estilos de vida mais ativos, sendo resistentes às quebras e ao embaciamento (uma queixa cada vez mais frequente com a utilização de máscaras no contexto da pandemia COVID). Por outro lado, esteticamente podem ser mais apelativas para alguns pacientes.

As lentes podem corrigir os 3 tipos de erros refrativos, individualmente ou de forma combinada. Existem diferentes potências ou dioptrias adequadas a cada caso. As lentes esféricas corrigem a miopia e a hipermetropia e as lentes tóricas corrigem o astigmatismo. A presbiopia, ou dificuldade de visão de perto, é outra anomalia da visão que surge a partir dos 40 anos e que agrava com a idade. Hoje em dia, também já é possível corrigi-la com lentes multifocais. A versatilidade continua,e determinadas doenças da córnea que causam baixa visão, como o queratocone, também podem ser corrigidas. As lentes híbridas ou esclerais são opção nos casos mais avançados.

Quanto à sua durabilidade, as lentes podem ser descartáveis ou convencionais. As primeiras são de utilização diária, quinzenal ou mensal, são lentes maleáveis (“moles”), de mais fácil adaptação. As lentes convencionais, conhecidas como rígidas gás permeáveis, são também de uso diário mas com durabilidade até dois anos, são lentes mais “rígidas” e difíceis de tolerar, embora corrijam mais eficazmente erros refrativos mais elevados.

A utilização de lentes de contacto deve ser sempre precedida de observação cuidada pelo oftalmologista, garantindo que não existe nenhuma contraindicação à sua utilização, nomeadamente infeções palpebrais, alergias oculares crónicas ou doença grave do olho seco. Além disso, os utilizadores devem ser observados regularmente, garantindo deteção e tratamento precoce de potenciais efeitos adversos de uma incorreta utilização.

Por fim, determinados cuidados devem ser assegurados pelos pacientes. A manipulação das lentes deve ser sempre precedida de uma boa higienização das mãos: as lentes entrarão em contacto direto com a superfície ocular, podendo causar úlceras de córnea, infeções graves passíveis de provocar perda irreversível da visão. Da mesma forma, os cuidados de higiene das lentes e do respetivo estojo devem ser diários, com recurso a soluções próprias e nunca a água corrente ou soro fisiológico. A limitação do número de horas de utilização e a sua remoção nos períodos de sono são também fundamentais para assegurar uma adequada oxigenação da córnea, evitando o desenvolvimento de outras complicações.

Sandra Rodrigues-Barros

Fellow do European Board of Ophthalmology

Oftalmologista no Hospital Garcia de Orta, Departamento de Córnea, Catarata e Cirurgia Refrativa

Oftalmologista no Hospital CUF Cascais e Clínica CUF Almada

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