Investir em Castanheira de Pera: um Passado de Indústria, um Futuro de Inovação

António Henriques, Presidente

António Henriques, Presidente da Câmara Municipal de Castanheira de Pera, em entrevista à Business Portugal, relata o passado de Castanheira de Pera como importante polo industrial do país e aponta o caminho para um futuro promissor.

 

A implantação industrial foi o motor de desenvolvimento de Castanheira de Pera, que chegou em tempos a ser o terceiro polo da indústria de lanifícios no país. Como chegaram até aí?

Castanheira de Pera tem uma tradição ligada à pastorícia e à produção de lanifícios, esta última o grande destaque da nossa história. A primeira fábrica do concelho foi fundada em 1860, por José Antão, e marcou a passagem da manufatura dos lanifícios para a maquinofatura através da instalação de uma fiação mecânica com o complemento da roda hidráulica, fazendo uso da fonte natural de energia que era a nossa Ribeira de Pera. Posteriormente, a visão empreendedora de António Alves Bebiano, Visconde de Castanheira de Pera, instalou nos Esconhais a terceira maior fábrica de lanifícios do país, chegando a empregar 600 trabalhadores. Novas oficinas de tecelagem e fábricas se seguiram, chegando a funcionar 12 em simultâneo,  num surto de desenvolvimento que aumentou exponencialmente a demografia do concelho e nos estabeleceu como o terceiro centro nacional da indústria de lanifícios.

No último quartel dos anos 80, a indústria entrou em declínio. Apesar da tentativa em acompanhar as constantes mudanças da época, as fábricas não comportaram a evolução tecnológica que avançou a uma velocidade alucinante e dispensou alguma mão de obra, deixando a que sobrou pouco qualificada e muito envelhecida, uma vez que os trabalhos fabris eram pouco atrativos devido aos baixos salários. Em adição a isto, também as novas exigências do mercado contribuíram para a estagnação da produção, como o aumento das importações do mercado asiático e as transformações no mundo da moda que, gradualmente, descartaram algum uso da lã.

Desde a falência das fábricas, o concelho enfrenta um acentuado declínio demográfico. O investimento em turismo, com a abertura da Praia das Rocas em 2005, foi apresentado como um novo paradigma de desenvolvimento da economia local, alternativo à dependência da indústria de lanifícios em falência, mas não resolveu a preocupante questão da queda populacional. Queremos agora combater o turismo sazonal, que não capta novos habitantes, e promover Castanheira de Pera todo o ano, através da aposta em Turismo Ativo, Turismo Industrial e Turismo de Natureza. Acreditamos que a estratégia deve passar por potenciar os ex-líbris do concelho, a fauna e flora da nossa serra da Lousã, a ribeira de pera e os seus muitos açudes, as praias fluviais e o património industrial que ficou do passado. Acreditamos ainda que uma indústria pujante não está apenas escrita no passado de Castanheira de Pera, temos pensadas medidas para captação de investimento que anteveem um futuro promissor.

 

A respeito da captação de investimento, o executivo liderado pelo António Henriques pouco depois de assumir funções, em 2021, abriu um Gabinete de Apoio ao Investimento. Que outras medidas tem pensadas?

O Gabinete de Apoio ao Investimento, para além das candidaturas municipais, tem como objetivo auxiliar novas empresas a instalarem-se em Castanheira de Pera e foi um dos primeiros projetos a implementar porque reflete a prioridade do executivo para com a captação de investimento no concelho. Entendemos que o investimento na criação e/ou reconversão de novas infraestruturas e equipamentos para atração e fixação de novas empresas é fundamental para responder à queda demográfica que enfrentamos. A nossa estratégia considera 4 tipos de investidores:

– Empresas que poderão ter interesse e sentir vantagens em se fixar no território pela proximidade aos recursos disponíveis, com destaque para os sectores do turismo e da floresta, neste caso compete ao Município melhor promover esses recursos.

– Empresas e pequenas atividades produtivas desenvolvidas pelos residentes, neste caso o objetivo passa por potenciar a ligação já existente do empreendedor ao território, por exemplo, através de apoios à formação profissional e à criação de emprego.

– Empresas que escolhem o território com base nas condições atrativas e competitivas do local, neste caso, temos medidas como a transformação de antigas fábricas de lanifícios em condomínios empresariais ajustados às necessidades das empresas e a preços acessíveis (algumas zonas industriais, até agora devolutas, já se encontram divididas em lotes, como a Barros III e a Retorta). No caso das empresas que não encaixem nos lotes existentes, temos um projeto em curso para a aquisição de novos lotes empresariais para construção de raiz, adaptada às necessidades dos investidores.

– Empresas com uma forte componente tecnológica, neste caso já temos interessados em investir na área das energias renováveis, na construção de casas pré-fabricadas e no sector têxtil com foco na inovação.

A nível fiscal, saliento a isenção de aplicação da derrama sobre o lucro tributável sujeito e não isento de IRC.

A sustentabilidade é o tema premente do momento, em especial a necessidade de poupança energética. Considera estas questões na sua estratégia de captação de investimento?

Sim, a sustentabilidade precisa de ser ponderada em tudo o que fazemos. Somos um território com uma componente natural muito forte que é crucial preservar.

É intenção do Município recuperar o património cultural e paisagístico ligado aos açudes que poderá passar pelo reaproveitamento do potencial hidroelétrico. Neste momento, em parceria com a IG Energy e o IST, está em fase de estudo o projeto-piloto para a instalação de uma mini-hídrica no açude da Praia das Rocas, que será possivelmente enquadrável na criação de uma comunidade energética no incentivo à produção de autoconsumo de energias renováveis. Este tipo de investimento energético sustentável pode ajudar as empresas que se fixarem em alguns dos condominios industriais a reduzir as despesas de energia e a contribuir, significativamente, para a redução da produção carbónica.

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