Inovar em cada solução biotecnológica
Há 30 anos no mercado, o iBET-Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica (www.ibet.pt) atua em diversas áreas de investigação, tendo sempre em conta um rigoroso controlo de qualidade. Pedro Cruz, Chief Technical Operations Officer, conversou com a Revista Business Portugal sobre o trabalho que estão a desenvolver nas àreas farmacêutica e agroalimentar.
O iBET é um instituto de investigação de referência. Poderia começar por recordar a génese do projeto e quais os objetivos com a criação do mesmo.
O iBET foi criado há 30 anos com o objetivo de fazer a ponte entre a investigação académica e as necessidades na indústria. O propósito de então mantém-se ainda hoje: elevar a competitividade da investigação e da indústria nacional para níveis internacionais. Sendo uma organização sem fins lucrativos, o iBET tem objetivos ainda mais abrangentes como desenvolver e disseminar conhecimento, proporcionar emprego de alto valor e altamente qualificado. Tudo isto são aspetos importantes que diferenciam o instituto.
Em 2019 criaram a unidade “Late Stage R&D and Bioproduction Unit”. Em que consiste esta unidade?
A unidade divide-se em duas partes: “Late Stage R&D and Bioproduction Unit”, cada uma delas com competências específicas. A Late Stage R&D dedica-se ao desenvolvimento de bioprocessos para a produção de moléculas terapêuticas inovadoras, enquanto que a “Bioproduction Unit” tem como objetivo produzir e purificar estas mesmas moléculas. As nossas principais áreas de atuação são proteínas recombinantes, vacinas, vetores de terapia génica e produtos para terapia celular. Este material é depois utilizado na investigação feita nos laboratórios iBET ou nos laboratórios dos nossos parceiros. Para além da “Late Stage R&D” e da “Bioproduction Unit”, o iBET tem ainda a ASU (Unidade de Serviços Analíticos) que se distingue pela capacidade para realizar análises de produtos biológicos em condições de Boas Práticas de Fabrico (GMP), ou seja, analisar a qualidade de um produto com potencial terapêutico para uso humano ou veterinário e determinar se cumpre os requisitos necessários para ser administrado a um paciente. Todas estas unidades têm uma função de suporte à “I&D” na medida em que não basta desenvolver um novo produto, é preciso criar condições para o levar até ao mercado, não pelo iBET diretamente, mas através dos parceiros com quem trabalhamos. É por isso que as unidades de suporte se têm vindo a especializar, tanto na produção como nos serviços analíticos.
Qual a importância da renovação, pela terceira vez, da certificação GMP?
Os serviços analíticos que são GMP operam segundo as boas práticas de fabrico. É uma unidade acreditada pelo Infarmed e DGAV, a nossa intenção é continuar a ter essa certificação. A qualidade é a base de tudo. Manter o “selo e standard” da qualidade nos nossos serviços é uma constante, por nós, pelos nossos parceiros e pelos pacientes. Se não tivermos isso, não conseguimos cumprir com o nosso propósito de excelência.
Quais são os serviços que não requerem certificação GMP?
À partida todos os ensaios podem ser realizados em condições não GMP caso não haja essa necessidade. Análise de aminoácidos, ensaios de quantificação de produto, ensaios em modelos celulares, e análises de espetrometria de massa são alguns dos serviços que fazemos rotineiramente em condições não GMP. São essencialmente serviços de suporte para a investigação que se faz no iBET e nos laboratórios dos nossos parceiros.
Quando estamos a produzir ou analisar material destinado a ensaios clínicos ou uso terapêutico, necessitamos de garantir que todo o procedimento é realizado em condições GMP. Pelo contrário, quando o objeto de análise está ainda numa fase de desenvolvimento precoce podemos realizar exatamente as mesmas análises em ambiente não GMP. Realço que, mesmo nos serviços que não são GMP, o iBET garante a qualidade máxima dos resultados e o uso dos mesmos equipamentos e tecnologia de ponta que nos permitem apurar em detalhe as características do produto.
No que diz respeito aos Serviços Analíticos, que investigações estão a decorrer?
No campo dos Serviços Analíticos, proteínas terapêuticas, terapia génica e celular são de destacar. Os produtos que têm passado por nós têm como área de implementação o cancro, medicina regenerativa e doenças raras. Por exemplo, no iBET desenvolvemos projetos de terapia génica desde fases mais precoces, como o desenho dos vetores virais terapêuticos, até fases mais avançadas, como a sua produção e a análise GMP. Durante todo o processo analisamos vários produtos, em termos de qualidade e de segurança. Só assim saberemos quais poderão seguir para ensaios clínicos. O iBET está a transformar-se num HUB de desenvolvimento e de inovação muito valorizado pelos nossos parceiros nacionais e internacionais. Temos partilha de investigadores entre unidades e entre nós e os nossos parceiros. Há muita partilha de conhecimento, informação, competências, bem como o desenvolvimento de novas parcerias internas e externas que permitem a criação de novas soluções e tecnologias.
Que tipo de indústrias recorre a estes serviços de investigação?
Temos uma grande diversidade de clientes e parceiros, quer na indústria farmacêutica, quer na indústria agroalimentar. Posicionamo-nos ainda nos mercados nacional e internacional. Embora distintas, estas indústrias apresentam grandes complementaridades em termos de equipamentos, tecnologias e know-how, nomeadamente na componente analítica, um dos pontos fortes do iBET, a par com o desenvolvimento de processos.
Em 2019 comemoraram o 30º aniversário do iBET. Que balanço nos faz destas três décadas dedicadas à investigação?
Foi um crescimento muito grande. Temos assistido a um aumento de competências e de diversidade de áreas de especialização. O facto de o iBET nunca ter perdido a ligação ao mundo académico e ter mantido a investigação no centro das suas atividades permitiu-nos desenvolver competências e capacidades únicas. Ao mesmo tempo, a ligação privilegiada ao tecido empresarial deu-nos a capacidade de antever necessidades e de nos posicionar estrategicamente. No global foi esta sinergia que tornou o iBET um centro de referência em biotecnologia a nível internacional.
Acreditamos que o futuro passa pelo contínuo desenvolvimento de novas competências e parcerias. Queremos assim ser cada vez mais interventivos na inovação de forma a criar mais emprego qualificado e atrair mais investimento para Portugal.