Gráfica Lousanense 140 anos de inovação, resiliência e tradição

A Gráfica Lousanense comemora 140 anos, afirmando-se como referência no setor das Artes Gráficas em Portugal. Ana Torres, Diretora Comercial e Marketing, guiou-nos pela história da empresa, marcada pela inovação constante, superação de desafios e uma transição geracional exemplar, assim como as suas perspetivas para o futuro.

 

 

Ana Torres, Diretora Comercial e Marketing

 

 

A Gráfica Lousanense celebra este ano um marco histórico: 140 anos de existência. Fundada em 1885, sob o nome «Tipografia Lousanense», a empresa tem atravessado gerações, adaptando-se aos desafios de cada época e mantendo a sua relevância no mercado. “A nossa história tem momentos curiosos. A empresa foi fundada debaixo de um palácio monárquico para imprimir jornais a favor da República”, partilha Ana Torres.

Desde a sua origem, a gráfica destacou-se pela capacidade de inovar e pela visão progressista dos seus líderes. O trisavô de Ana Torres, um intelectual fora do sistema, teve um papel determinante na fundação da tipografia, utilizando-a como um meio para promover ideias republicanas numa altura em que o país vivia sob o regime monárquico. Mais tarde, o bisavô ao trabalhar na Universidade de Coimbra, trouxe para a gráfica a produção de livros, transformando esta área na principal especialização da empresa. A evolução da gráfica não se limitou à adaptação tecnológica e ao crescimento empresarial. Também a liderança feminina é uma característica que marca a história da organização. “A minha bisavó, avó, a minha mãe e a minha irmã, Filipa Ribeiro Torres (atual gerente), assumiram papéis fundamentais na gestão do negócio”, destaca. Este legado de liderança feminina reflete-se na forma como a empresa encara os desafios do presente, com uma gestão inclusiva e orientada para o futuro.

No próximo dia 1 de maio, a Gráfica Lousanense dará início às comemorações dos seus 140 anos com a apresentação oficial do seu rebranding. O ano será ainda marcada pelo lançamento de um livro que retrata a história da empresa, um testemunho essencial para preservar a memória e os valores que têm guiado o negócio ao longo dos anos, bem como momentos de partilha entre colaboradores.

Desafios e superação

Ana Torres descreve o percurso da Gráfica Lousanense como uma travessia marcada pela evolução tecnológica. “Começámos com a tipografia manual, onde as letras eram esculpidas em madeira, passando depois para a tipografia mecânica com o uso do chumbo, e mais tarde para o offset. Fomos sempre acompanhando todas as mudanças tecnológicas e hoje a impressão digital sem nunca saltar etapas”.

Não foram poucos os obstáculos enfrentados ao longo do caminho. Um dos momentos mais críticos aconteceu quando um grupo empresarial adquiriu sete dos principais clientes da gráfica e impôs uma redução drástica de preços. “Recusámos essa condição, pois significaria trabalhar sem rentabilidade. A reestruturação foi dolorosa, mas necessária. Graças à coragem da minha mãe e da minha irmã, conseguimos superar essa fase”, relembra.

A própria trajetória de Ana é um reflexo da busca pela excelência. Licenciada em Gestão de Marketing, trabalhou em agências de publicidade e multinacionais como a Bosch, em Madrid. “Sempre soube que, para ser uma boa gestora, precisava de experiência fora da empresa da família”, explica. Mas em 2011, um telefonema da irmã trouxe-a de volta. “Disse-me que precisavam de mim. Então soube que era o momento de voltar, essa foi uma decisão consciente dos desafios e muito acertada”.

A inovação foi outro pilar essencial na transformação da gráfica. Em 2014, a gestora viajou sozinha para Düsseldorf, onde visitou a maior Feira de Artes Gráficas do mundo. “A minha mãe incentivou-me a ir sozinha, para descobrir o futuro. Voltei com a convicção de que precisávamos de uma máquina de impressão digital, mesmo quando a ideia parecia absurda”. Atualmente, a impressão digital é uma peça-chave no portefólio da empresa, permitindo pequenas tiragens e personalização.

 

 

Ana Torres, Ana Ribeiro e Filipa Torres

 

 

 

Estratégias para a longevidade

Para Ana Torres, o segredo do sucesso intergeracional está na forma como o testemunho é passado. “Eu acredito que o grande sucesso está muito ligado à capacidade de quem está a sair de passar o testemunho de forma tranquila, sem receios excessivos de que algo possa correr mal”, destaca. Este equilíbrio entre confiança e orientação tem permitido que a empresa se adapte às mudanças do mercado, especialmente num setor onde as transformações digitais são “profundas e constantes”.

A visão estratégica da Gráfica Lousanense vai além da adaptação tecnológica. Ana destacou a importância da ligação entre a Academia e a Indústria como um dos pilares do desenvolvimento sustentável da empresa. “Sempre acreditei na importância da ligação entre a Academia e a Indústria. Por isso, estamos a desenvolver projetos com o Instituto Politécnico de Tomar”, revela. Esta colaboração tem resultado em iniciativas que não só modernizam os processos de produção, mas também promovem a formação de novos talentos.

Outro projeto ambicioso que reflete a preservação da história do setor é a criação de um museu dedicado às Artes Gráficas. “Um dos nossos sonhos é restaurar máquinas antigas e criar um museu/pavilhão onde se possa reviver a história das Artes Gráficas, proporcionando uma experiência única interativa e de aprendizagem”, afirma a empresária. Este espaço promete ser um tributo à evolução das Artes Gráficas e uma plataforma educativa para as novas gerações.

Novas iniciativas

Ana Torres revelou as novas iniciativas que pretendem transformar a identidade da empresa. Entre os projetos mais promissores está o lançamento de uma plataforma dedicada à edição de autor, um nicho de mercado com elevado potencial. “Algumas pequenas empresas já trabalham este segmento, mas atuam sobretudo como intermediárias entre autores e gráficas. O que estamos a criar é diferente: uma plataforma de impressão de livros de autor e uma linha própria de papelaria”, releva.

O primeiro passo desta iniciativa será dado a 1 de maio, com o lançamento oficial do projeto «Papel de Tinta». Este conceito, segundo a Diretora Comercial, nasceu da ideia de personalizar produtos e garantir que sejam 100% portugueses. “Um dos aspetos mais desafiantes deste projeto é o reaproveitamento de sobras da produção, transformando-as em blocos, cadernos e outros artigos sustentáveis. Em vez de deitarmos fora material que poderia ser reciclado, estamos a dar-lhe uma nova vida, criando produtos únicos”, explica.

Paralelamente, a gráfica tem vindo a consolidar a sua presença no segmento industrial, colaborando com empresas multinacionais e farmacêuticas na produção de manuais de instruções, catálogos, rótulos e outros materiais gráficos. A capacidade de organização interna e o cumprimento rigoroso dos prazos têm sido determinantes para o sucesso neste setor: “Nestas indústrias, um atraso na entrega pode comprometer a produção, e nós assumimos essa responsabilidade com seriedade”, acrescenta.

Com o objetivo de aperfeiçoar ainda mais os processos internos, a empresa está a implementar um sistema inovador de gestão e orçamentação de produção. “Este sistema permitirá acompanhar os processos em tempo real, otimizando a tomada de decisões e a produtividade”, destaca.

 

 

 

 

 

Futuro promissor

Com uma abordagem inovadora e um olhar atento às tendências tecnológicas, Ana Torres acredita que o setor está a atravessar uma transformação profunda, impulsionada pela personalização e pela eficiência produtiva. “A grande tendência para o futuro será a personalização e a capacidade de fazer com rentabilidade pequenas tiragens”. O objetivo é permitir produções pequenas a um custo acessível, sem comprometer a qualidade”. Assim, a evolução tecnológica desempenha aqui um papel crucial: “A tecnologia já permite imprimir um livro de forma quase instantânea, mas a qualidade ainda não é suficiente. Acredito que, com a evolução das máquinas, será possível oferecer um produto altamente personalizado e acessível”, prevê. Um exemplo desta visão é a plataforma de livros de autor da gráfica, que já adota este modelo de personalização.

O percurso até aqui foi desafiante, mas recompensador. “Lembro-me de quando disse à minha irmã que um dia faríamos dez livros por dia. Ela achou que era uma loucura, mas hoje essa é a nossa realidade”, recorda. Ana diz que é esse um dos fatores de sucesso, aliar a sua vontade de ir mais além, com o profissionalismo e conhecimento técnico da sua irmã Filipa Torres. Contudo, destaca ainda o espírito colaborativo da empresa: “Quanto mais trabalharmos em conjunto com os nossos colegas do setor, melhor será para todos. Para mim, a concorrência não é um problema, mas uma oportunidade”. Acrescentando ainda que a colaboração será um dos pilares fundamentais para o setor: “Acredito que o futuro das Artes Gráficas está na colaboração, na inovação e na globalização”.

Apesar da aposta na inovação e na expansão global, sublinha que certos valores permanecem inalteráveis. “A nossa proximidade e o nosso compromisso com a qualidade nunca irão mudar. Este é o caminho que escolhemos, e seguimos com orgulho e determinação”.

Mensagem de inspiração

Ana Torres espera inspirar outros a superarem os seus desafios e construírem as suas próprias histórias de sucesso. “Acredito que a vida é feita de desafios, conquistas e aprendizagens, mas não desistam à primeira dificuldade. Mesmo quando as coisas parecem difíceis, não podemos desanimar”, sublinha.

A empresária destaca ainda a relevância de pedir apoio e aprender com os outros. “Eu, pessoalmente, nunca tenho vergonha de pedir ajuda, e com determinação e fé, a sorte também aparece”, reconhecendo que o apoio recebido ao longo da sua trajetória foi essencial para o seu crescimento.

Assim, a Gráfica Lousanense é um exemplo notável de como a tradição e a inovação podem coexistir de forma harmoniosa. Com uma forte liderança e uma visão clara do seu propósito, esta empresa familiar tem-se adaptado às mudanças do mercado, mantendo-se fiel aos seus valores e à qualidade que a caracteriza desde a sua fundação.

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