Feridas na boca: saiba o que pode indicar

As feridas na cavidade oral podem variar de aspeto, de tamanho e podem ser um alerta para doenças sistémicas ou para o cancro oral.

 

Dr.ª Margarida Marques (OMD9236), Médica Dentista no Trofa Saúde Vila Real

 

 

Os sinais e sintomas mais descritos são: “feridas, bolhas, manchas ou vermelhidão com ou sem sangramento, edema e principalmente dor. Descrevem uma sensação de queimadura ou formigueiro em redor da área afetada, a boca mais seca e “sensação de cortiça”. Dependendo do tamanho e da sua localização, dificultam as tarefas diárias como alimentação e a fala.

As causas mais comuns de lesões na boca são:

  1. A afta, cientificamente chamada de estomatite aftosa, caracteriza-se pelo surgimento de uma ou várias úlceras arredondadas, podendo surgir em qualquer local da boca, como lábio, língua, bochecha, palato ou garganta, causando muita dor e dificuldade na mastigação e na fala.
  2. Irritações físicas por traumas como mordidas acidentais, trauma por fraturas de dentes, hábitos tabágicos (mascar e/ou fumar), próteses mal ajustadas, aparelhos ortodônticos ou ser consequência de uma escovagem traumática. Podem também surgir irritações químicas por contato da mucosa com alimentos muito ácidos ou quentes, ou contato com fármacos como ácido acetilsalicílico, antibióticos, anticonvulsivantes, Barbitúricos, medicamentos quimioterápicos, ácido tricloroacético ou alguns produtos de Higiene oral.
  3. Infeções víricas, especialmente Herpes Simples e Herpes Zoster que leva ao aparecimento de pequenas bolhas dolorosas na boca, principalmente nos lábios e palato, que podem estar acompanhadas de vermelhidão, comichão e ardência, podendo desaparecer em cerca de 10 a 14 dias. (outros exemplos de infeções virais: vírus Coxsackie (Pé, mão, boca muito comum em crianças na idade pré escolar), Citomegalovírus, vírus Epstein-Barr, HPV ou HIV, gripe e Sarampo).
  4. Infeções fúngicas por Cândida (mais comum).
  5. Infeções bacterianas como: Gengivites (sendo a mais agressiva a gengivite ulcerativa necrosante aguda), periodontite (infeção do tecido ósseo), implantite (infeção dos implantes), Gonorreia e Sífilis (doenças sexualmente transmissíveis).
  6. Doenças sistémicas como: Doença de Behçet, Penfigoide bolhoso ou pênfigo vulgar, Doença celíaca, Neutropenia cíclica, Eritema multiforme, Doença inflamatória intestinal, Deficiência de ferro, Doença de Kawasaki, Leucemia, Discrasias sanguíneas, síndrome de Stevens-Johnson, Trombocitopenia trombótica, Deficiência de vitamina B, C (escorbuto), B12 e E.
  7. Outras patologias orais como Síndrome da boca ardente, Líquen plano, língua geográfica, xerostomia e cancro oral (6º cancro mais comum em todo o mundo).

Avaliação e diagnóstico das lesões orais é o único método de prevenção e tratamento do cancro oral. Apesar dos avanços ocorridos nos últimos anos no diagnóstico e tratamento do cancro oral este continua a ter uma taxa de mortalidade bastante elevada. Estima-se que cerca de 6 em cada 10 doentes de cancro oral morram nos 5 anos após a data do seu diagnóstico.

Assim, quando uma ferida dura mais que 2 semanas ou é acompanhada por outros sintomas, como dor de cabeça, febre, dor na garganta e dificuldade em mastigar é importante que recorra a um Médico Dentista para a sua avaliação. Pode ser necessário a realização de uma biópsia de forma avaliar as alterações morfológicas dos tecidos garantindo o diagnóstico e o plano de tratamento correspondente.

O Médico Dentista está na linha da frente para a deteção precoce destas lesões mas a vigilância é crucial para a sua deteção. É importante que realize o autoexame em casa, realizando a palpação e a visualização da sua boca em frente ao espelho e esteja atento a alterações e sinais de alerta. Mantenha uma boa higiene oral e marque consulta de medicina dentária a cada 6 meses e sempre que detetar alguma lesão suspeita.