“Estou a envelhecer, e agora…?”: A influência da tecnologia num envelhecimento ativo

Longe vão os tempos, em que o bem-estar se encontrava intimamente relacionado com o nível económico. Hoje, os aspetos sociais, ligados ao bem-estar físico e psíquico, tomam proporções fundamentais e de especial relevância, para o equilíbrio da vida dos nossos idosos.

Aida Nunes, Município de Murça

O envelhecimento deixou de ser apenas associado a um bem-estar de saúde e passou a ser percebido como um conceito mais amplo, mais abrangente, devido em parte, às necessidades sentidas pelos indivíduos inseridos num mundo globalizado. Esta nova perspetiva de olhar, mais holística, onde as pessoas idosas surgem como um todo integradas numa sociedade, por vezes pouco justa, coloca a tónica num bem-estar geral outrora inimaginável.

Se, por um lado qualidade significa um estado de excelência em que um indivíduo se encontra, o termo vida vai muito mais além, indica um estado completo de atividade funcional incluindo o seu comportamento, o acompanhamento e desenvolvimento, ou seja, o seu estilo de vida em geral. Portanto nesta população, aquilo que se pretende é a junção dos dois conceitos “qualidade e vida”, na essência da sua designação individual.

A OMS define o conceito de envelhecimento ativo como “um processo de otimização de oportunidades para a saúde, participação e segurança, para melhorar a qualidade de vida das pessoas que envelhecem (…)”. Vivemos numa sociedade envelhecida, em que o número de idosos supera, em larga escala, o número de jovens, tornando necessário a adoção de medidas capazes de fazer face a esta situação. Torna-se premente tentarmos definir políticas e estratégias globais, mas também à escala local, no sentido de se alcançar o primordial objetivo de um envelhecimento ativo. Tal como refere a OMS,       é importante que a população envelhecida se mantenha ativa, participante e integrada na sociedade.

E é neste sentido, que o Município de Murça, enquanto entidade Coordenadora, em parceria com os Municípios de São João da Pesqueira e Tabuaço, e os Centros Sociais e Paroquiais de Trevões e Castanheira do Sul, desenvolveram o Projeto “Idoso Ativo – Abordagens Integradas para a Inclusão Ativa no Douro”, um projeto pioneiro, no âmbito da intervenção com a população Idosa, no sentido de potenciar intervenções com caracter inovador, de experimentação social e de animação territorial, tentando envolver redes sociais sub-regionais. Esta iniciativa visa uma intervenção integrada para a inclusão ativa, por via de abordagens locais inovadoras de desenvolvimento social, relacionando estratégias locais em articulação com as políticas públicas de inclusão social, combate à pobreza e aumento da empregabilidade.

A razão de ser deste desafio é a existência de vários idosos que vivem sozinhos, alguns em contextos socioeconómicos difíceis, mas sobretudo porque vivem cada vez mais isolados e inseguros, devido, em grande parte, às dificuldades físicas que lhes vão criando condicionalismos diários propícios a um quadro de risco eminente. Ou seja, no fundo o principal contributo deste projeto, em termos de desafio societal, prende-se com a saúde, alterações demográficas e bem-estar da população idosa, tentando contribuir para que tenham um envelhecimento ativo, autónomo e saudável.

Posto isto, neste momento, estão a ser apoiados 20 idosos, por município, que vivem sozinhos e que manifestaram interesse em participar nesta experiência piloto, sendo que para o efeito foram instalados, em cada uma das habitações, um Sistema Dótima, permitindo que cada idoso, de forma simples e autónoma, possa controlar e gerir automaticamente a iluminação de casa, a entrada de pessoas, a emissão de alertas de movimentos e de temperatura excessiva, entre outras funções específicas a cada situação.

Na realidade o objetivo central deste projeto é assegurar um sistema que lhes permite ter maior segurança, diminuindo situações de potencial risco ou emitindo alertas quando estas sucedam, promovendo simultaneamente a autonomia pessoal de cada um, oferecendo uma resposta individualizada, ajudando assim a combater o isolamento social. Através desta tecnologia, conseguimos uma abordagem integral e com uma perspetiva holística de cada um, enquanto indivíduos únicos, reforçando a sua segurança e integridade física, favorecendo e incentivando a sua capacidade de intervenção, promovendo a aquisição de responsabilidades e a participação no seu processo de decisão, no que respeita à seleção das opções de configuração da intervenção.

Outro ponto fundamental tão ou mais importante, na minha opinião, é a constituição das famílias como parte interessada no processo, uma vez que estas são chamadas à participação, de forma voluntária, no sentido de acompanhar, intervir e colaborar com uma rede de apoio, entre parceiros, complementando de forma coordenada toda a intervenção. Foram criadas condições efetivas para que a própria família possa perceber o dia-a-dia dos seus idosos, mesmo estando afastados, permitindo-lhes inclusivamente incentivar uma vida mais ativa.

Este projeto, surge como uma solução tecnológica para uma problemática comum a praticamente todo o nosso território, do interior de Portugal, prosseguido com o acompanhamento de uma equipa técnica especializada, que trabalha todo o plano de desenvolvimento individual no que respeita a competências pessoais, sociais e afetivas, orientando e promovendo atividades que proporcionam a cada idoso, uma vida mais ativa e socialmente mais rica.

Estes objetivos são prosseguidos e concretizados através de visitas domiciliárias, intervenção efetuada pelos técnicos municipais, que prestam todo o apoio individualizado na resposta às necessidades de cada um, nomeadamente no que respeita à alimentação, saúde e desenvolvimento de atividades concretas, resultantes da concertação de um compromisso formal entre as partes (Idoso, família e parcerias).

A titulo conclusivo e após ter tentado explicar um projeto socialmente gigante, de uma forma simplista, acho de facto pertinente referir que, tal como salientou o Prof. Niehans “ não podemos acrescentar anos à vida, mas podemos acrescentar vida aos anos (…) ”. E é com este pensamento que eu, enquanto Técnica Superior de Serviço Social do Município de Murça, tento desenvolver diariamente o meu desempenho tendo por base, não aquilo que efetivamente temos, mas aquilo que poderemos ter se lutarmos por novas formas, novos métodos, novas intervenções, mesmo que simples, mas que possam fazer a diferença na vida de cada idoso. Não me importa se são 20, 30 ou 40, aqueles que conseguem aceder a estas intervenções, mesmo que fosse apenas 1 eu estaria feliz porque fiz a diferença…

 

 

Aida Cristina Pires Nunes

Licenciada em Serviço Social, pela Universidade de Trás os Monte e Alto Douro

Pós-Graduada em Direção e Sustentabilidade das Organizações Sociais, pela Universidade Lusíada Vila Nova de Famalicão

Pós-Graduada em Gestão das Organizações Sociais, pela Universidade Lusíada de Vila Nova de Famalicão

Atualmente a exercer funções de TSSS no Município de Murça

Associada do Giro HC – Associação de Pessoas com Pré-Diabetes em Portugal

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