ENA: Junte a sua à nossa energia!
(ENA) é uma associação sem fins lucrativos, criada em 2006, que desenvolve atividades nas áreas do ambiente e da energia e que visa o desenvolvimento sustentável da comunidade onde se insere, atuando enquanto promotora da alteração de comportamentos e hábitos de utilização dos recursos e envolvendo os diversos agentes locais de modo a criar uma cultura energética e ambiental verdadeiramente eficiente. Sérgio Marcelino, presidente desta agência, e Cristina Daniel, administradora delegada, foram os porta-vozes da ENA para esta nossa edição.
Sediada na Península de Setúbal, a área de intervenção da ENA abrange os municípios de Palmela, Setúbal e Sesimbra. Esta agência tem desenvolvido e participado em projetos com repercussões nas áreas energética, ambiental, económica, sociodemográfica e territorial, numa região, a Arrábida, que reúne atividade industrial e tecnologia de ponta, florestas, agricultura e artesanato, infraestruturas turísticas e áreas naturais.
Através de atividades técnicas, projetos de investigação e cooperação, campanhas de sensibilização, informação e formação, a ENA disponibiliza conhecimento e assessoria aos municípios, freguesias, entidades públicas e privadas, associações, indústria, centros tecnológicos, universidades, população escolar e cidadãos.
A ENA participa ativamente na RNAE – Rede Nacional de Agências de Energia fazendo parte da direção como vogal, e é membro associado da Energy Cities, participando na elaboração e discussão de políticas e estratégias internacionais e nacionais nos temas do ambiente e da energia, bem como projetos específicos de cooperação. Desde 2006, a ENA trabalha em vários projetos europeus, nacionais e locais, estabelecendo parcerias e desenvolvendo atividades específicas que permitem adquirir conhecimentos e experiência para o desenvolvimento e aplicação dos projetos.
As atividades da ENA distribuem-se pelas seguintes linhas de ação:
1 – Eficiência Energética;
2 – Fontes de Energia Endógenas e Renováveis;
3 – Mitigação e adaptação às alterações climáticas;
4 – Mobilidade, acessibilidade e transportes sustentáveis;
5 – Ambiente, energia e clima nos projetos municipais e planeamento urbano;
6 – Sensibilização, educação, informação e comunicação;
7 – Criação de parcerias e participação em redes nacionais e internacionais;
8 – Desenvolvimento de projetos e novas formas de financiamento.
Quais as principais dificuldades com que a ENA se depara no exercício da sua atividade?
Sérgio Marcelino: As dificuldades são facilmente identificáveis. Primeiro, as agências de energia não estiveram sempre presentes na nossa vida. A nossa foi criada em 2006 e quando aparece a ENA a debitar informações e a propor aos municípios várias mudanças, é natural que se criem algumas barreiras. A verdade é que os municípios têm uma dinâmica muito própria já enraizada e quando se apresenta alguma mudança essa é encarada com alguma resistência.
Eu recordo-me que, quando tomei posse em 2009, havia técnicos na Câmara Municipal que questionavam o que era a ENA, no entanto, hoje em dia, tendo em conta o trabalho que foi feito e temos vindo a fazer, já somos totalmente aceites e reconhecidos.
Momento de viragem na Arrábida
Os municípios de Palmela, Setúbal e Sesimbra encontram-se perante uma enorme mudança de mentalidades e utilização dos recursos da região. Neste sentido, a ENA, com o objetivo de consciencializar a comunidade, está neste momento a desenvolver e promover, entre outros, três projetos financiados pelo programa de Cooperação Territorial Interreg Med.
O Compose é um projeto de três anos cujo principal objetivo é aumentar o contributo das fontes de energia renováveis locais nas estratégias e planos energéticos de comunidades rurais em 11 regiões do Mediterrâneo. Através da troca de conhecimentos, experiências e abordagens inovadoras para aumentar a consciencialização sobre a importância da eficiência energética, as entidades participantes neste projeto têm implementado 15 ações-piloto, demonstrando o potencial de medidas de eficiência energética e de introdução de fontes de energia renováveis nas comunidades locais, contribuindo não só para economias de energia, mas também demonstrando as oportunidades de desenvolvimento e replicação das medidas em outras regiões.
Como avalia a importância do Projeto COMPOSE?
Cristina Daniel: O COMPOSE teve início em novembro de 2016 e terminará em outubro deste ano, por isso já está em fase de recolha dos resultados dos projetos-piloto. Este projeto é muito interessante e nós temos tido demonstração de interesse de outros projetos internacionais relativamente ao que estamos a fazer aqui, nomeadamente no caso da Biovilla, que consiste num espaço de experimentação e inovação nas temáticas da sustentabilidade, sediado em Vale de Barris, no concelho de Palmela. Aqui foram instalados diversos equipamentos com base em fontes renováveis de energia. Foram instaladas bombas solares para irrigação de pomar e hortas, um grelhador e um forno solares e um desidratador solar de grandes dimensões que serve para secar e desidratar os produtos resultantes da exploração agrícola da Biovilla. Este desidratador, aliás, está a servir para acelerar o processo natural de conservação de sementes de espécies florestais autóctones e a sua utilização para a reflorestação, a nível nacional, em áreas afetadas pelos fogos. O outro projeto piloto do COMPOSE está localizado em Sesimbra Natura Park, que abrange uma área de 867 hectares de usufruto turístico da natureza, consistindo na instalação de 44 módulos fotovoltaicos para produção de energia para autoconsumo.
Este projeto COMPOSE pretende o aumento da eficiência energética e das energias renováveis para o desenvolvimento local das comunidades rurais, servindo de inspiração e acabando por ser transversal em muitas áreas.
E o que nos traz o Projeto ESMARTCITY?
Cristina Daniel: Este projeto, de 30 meses, teve o seu início em 2018 e está centrado nas questões das cidades inteligentes. Contando com 16 parceiros de 10 países da região mediterrânica, o ESMARTCITY considera o desenvolvimento de projetos piloto, prevendo-se, no caso da ENA, a aquisição e instalação de sistemas de monitorização de consumos de energia elétrica. Estes equipamentos vão ser instalados em 24 edifícios municipais dos três concelhos (Palmela, Setúbal e Sesimbra), cuja informação vai ser transmitida em tempo real.
Toda esta informação, por um lado, vai capacitar os municípios de ferramentas para planearem e melhorarem os consumos desses edifícios, porque sabem aquilo que consomem, onde consomem e, portanto, vão ter maior poder de decisão. Por outro lado, vai ajudar os municípios, enquanto educadores junto dos cidadãos e outras entidades, a divulgar boas práticas, incentivando entidades e cidadãos a alterar os seus comportamentos.
Mas ainda nos falta falar de um outro projeto…
Cristina Daniel: O Projeto EnerNetMob, com duração de 48 meses, foi também iniciado em 2018, contando com um consórcio de 15 parceiros de 11 países da região mediterrânica e pretende criar redes de cooperação inter-regionais para a promoção de sistemas de transporte sustentável e da intermodalidade de baixo carbono. Trata-se de um projeto muito centrado na mobilidade elétrica. No caso da ENA, será desenvolvido um Plano de Mobilidade Elétrica que vai abranger a região da Arrábida, o que significa trabalhar os municípios de Palmela, Setúbal e Sesimbra como um todo, uma vez que o seu elemento comum é a Serra da Arrábida, não descurando, contudo, as características, problemas e expetativas de cada, um no que diz respeito à mobilidade. O EnerNetMob também visa desenvolver projetos-piloto, dirigidos aos setores público e privado, para partilha de soluções ao nível da mobilidade elétrica (como “e-car sharing”, “e-car pooling”,”e-bike”) e capitalizar e partilhar políticas e estratégias inter-regionais para o transporte elétrico, bem como normas comuns e orientações de conceção para sistemas de mobilidade elétrica.