Diana Aquino: “A sociedade pensa que temos que ser supermulheres”
Diana Aquino pertence à segunda geração presente na administração de um grande grupo de empresas sediado da zona centro do país. A propósito do Dia Internacional da Mulher, conversámos com a empresária sobre o papel que a mulher tem desempenhado na sociedade portuguesa, principalmente enquanto líder das organizações.
O tema da igualdade de género e de oportunidades é, cada mais, alvo de debate e análise na sociedade portuguesa. Apresente-nos a sua opinião e visão sobre o tema.
Em relação a este tema, penso que existe uma certa ideia pré-concebida na sociedade portuguesa de que a mulher tem de ser uma ‘supermulher’ para poder abraçar o papel de mãe, de mulher e de gestora. Existem muitos exemplos de que a mulher tem de preterir uma coisa à outra quando se depara numa encruzilhada em certo ponto da sua vida. São efetivamente muitas responsabilidades para uma só pessoa. Mesmo que essa ideia se esteja a esbater nos dias de hoje, a sociedade, principalmente no âmbito empresarial, ainda não está mentalizada de que a mulher terá de ter sempre um lugar garantido quer escolha estar com os filhos durante um ou dois anos, quer escolha ter mais que dois filhos, etc. Já existem várias políticas em outros países da UE nesse sentido e penso que o mesmo terá de ser feito também em Portugal.
Defina o que é, para si, a liderança no feminino.
Acho que devido à condição inerente de sermos mulheres, a liderança no feminino é diferente da liderança no masculino. Observo todos os dias que as mulheres têm aptidão para serem líderes de uma outra forma que os homens. Está sempre presente o rigor e a disciplina, mas também a sensibilidade e o espírito critico.
Existem várias caraterísticas que definem um líder. Quais são as mais importantes?
Nos dias de hoje, em que o mundo muda a olhos vistos, a característica que defino como mais importante é a adaptabilidade, tanto no que acontece fora como no que acontece dentro da empresa. Um líder tem de ser flexível ao ponto de ouvir os que os outros dizem durante uma reunião de duas horas, mas também de lhes mostrar um caminho difícil e complexo numa apresentação de 10 minutos. E talvez também passa por criar empatia, construindo no dia a dia uma relação de confiança com os outros.
Acredita que essas caraterísticas são inatas nas mulheres ou têm de ser trabalhadas, independentemente do género do líder?
Como se costuma dizer, ‘há pessoas que não nasceram para ser líderes’, e efetivamente o carisma é uma característica que é inata à pessoa. Mas, por outro lado, existem muitas características que se podem adquirir com a aprendizagem e com a experiencia de vida. Ser líder é também um processo evolutivo, e como tal, sou da opinião que nunca deveríamos deixar de querer aprender.
Baseada na sua experiência como empresária é correto afirmar que muitas mulheres só se apercebem que são líderes natas quando lhes é dada a oportunidade de abraçar um cargo de chefia?
Talvez não. Hoje em dia, já há muitas mulheres que se querem afirmar e que, por isso, se destacam. Talvez não com o intuito de serem chefias, mas sim de fazerem um bom trabalho e de chegarem ao fim do dia satisfeitas com os objetivos que atingiram. Pode ser talvez uma demonstração de falta de ambição. Mas isso acontece porque somos mulheres e a nossa biologia não nos deixa demonstrar uma ambição desmedida em subir na carreira. Mas, efetivamente chegar a um cargo de chefia torna-se uma evolução natural com base no trabalho que desempenha e nas características que demonstra. Em todo o caso, e com o exemplo de tantas empreendedoras que temos no nosso quotidiano, eu diria que no subconsciente de cada mulher está sempre um pensamento de que é possível chegar longe e de que é possível ser-se líder de uma pequena ou grande organização.
Existem personalidades femininas que a inspiram? Quem são?
Felizmente, na nossa história, temos muitos casos de mulheres que marcaram época e que foram, e ainda são um exemplo de vida. Vêm-me à cabeça, por exemplo, Madre Teresa de Calcutá, Marie Curie, Amelia Earhart, a Princesa Diana, entre tantas outras.
Atualmente, talvez Michelle Obama pois tem uma voz ativa e influencia comportamentos, principalmente nos jovens, e também Jacinda Ardem, primeira ministra da Nova Zelândia, a primeira mulher a levar a filha bebé para assembleia da ONU.