Despertar consciências

Inês Carvalho, psicóloga clínica

Inês Carvalho deu os primeiros passos no mundo da Psicologia quando, em 2007, tomou a decisão de se tornar Psicóloga Clínica. Em plena pandemia, arriscou e avançou com um novo projeto, que dá a conhecer em entrevista à Revista Business Portugal: MIND.ABLE.

 

Como surge a sua ligação ao mundo da Psicologia?

Se tivesse que procurar uma data para definir o início deste percurso, não sei se a encontraria. Lembro-me de, desde muito cedo, querer saber mais sobre o corpo humano, a mente e a ligação entre tudo o que somos. Mas, sobretudo, de ter uma vontade enorme de aproveitar o que a vida me foi dando de forma ativa e consciente. Escolher de forma consciente. Talvez possa dizer que a paixão pelo mundo da Psicologia vem muito associada a esta vontade de compreender e ajudar a compreender. Tudo isto se veio a materializar em 2007, com a decisão de me tornar Psicóloga Clínica e daí decorre todo o percurso que tenho vindo a fazer.

 

Considera que a pandemia veio despertar a consciência da importância da saúde mental?

As situações de crise e catástrofe costumam despertar consciências, sim. A realidade altera-se sem aviso prévio e muitos dos pilares-base da nossa construção, enquanto pessoas, são postos em causa. As rotinas são alteradas, o que antes era um dado adquirido deixou de o ser e precisamos de nos adaptar. E estas alterações tiveram impacto. Já vai havendo uma maior consciência sobre a importância de cuidarmos do nosso cérebro e das nossas emoções. Talvez falte ainda passarmos a investir nisso. Fazer disso uma prioridade tão válida como a de nos alimentarmos bem ou fazermos exercício físico: alimentar e exercitar a mente. É um caminho que tem que ser percorrido. E, como todos os caminhos, precisa de ser alavancado. A Ordem dos Psicólogos Portugueses tem feito um trabalho incrível neste sentido. Caberá a cada profissional dar continuidade a este processo de consciencialização.

 

Em plena pandemia, criou a MIND.ABLE. O que a moveu e em que consiste o projeto?

Falávamos de que as situações de crise podem ser ótimas para “despertadores de consciência”. Também aconteceu comigo. Todo o trabalho passou a ter que ser feito através de vídeo-consultas, as famílias que acompanhava estavam mais instáveis e percebi que, para que o processo fosse efetivo, seria preciso mais. É aqui que surge a MIND.ABLE. Como extensão do trabalho clínico que faço e como meio de consciencialização de que a saúde mental importa e tem, verdadeiramente, impacto no nosso bem-estar global. É uma plataforma digital de otimização e promoção de comportamentos e rotinas saudáveis do ponto de vista da saúde mental. Fala-se criteriosamente sobre ciência e propõem-se desafios práticos que façam do autocuidado um tema com espaço assíduo na nossa agenda. Agora, MIND.ABLE é consciencialização. No futuro, havemos de evoluir para outros produtos.

 

Quais foram os maiores desafios que enfrentou?

Empreender não é tarefa fácil. Implica risco, esforço. Implica ainda mais numa altura de grande incerteza como a que vivemos. Implica sairmos da nossa zona de conforto e a presença digital não é (era), de todo, o meu lugar seguro. Investi tempo e imprimi esforço nisso. Acredito que podemos transformar os desafios em oportunidades.

 

As consultas de Psicologia podem melhorar a vida das pessoas. Como se propõe a ajudar quem a procura?

Sem dúvida. O impacto que um melhor conhecimento de nós próprios tem nas diversas áreas da nossa vida é impressionante. E a proposta é clara: aprender a conversar connosco próprios. Perceber em rigor o que se passa cá dentro e trabalhar a partir daí. Perceber o que nos deixa ansiosos, do que temos medo, o que não nos deixa dormir, o que nos preocupa, o que mais valorizamos, o que nos impede de sermos criativos, produtivos, compreensivos e trabalhar a partir daí. Encontrar estratégias e desenhar um caminho. No fundo, desenhar o mapa interno que nos dá as coordenadas para que nos sintamos confortáveis e capazes de escolher. Para isto, é preciso de ajuda de um profissional especializado. E é nisto que posso ajudar.

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