Da paixão pela cozinha ao sucesso no mercado alimentar
Ana Paula Teixeira, Fundadora da DHC Food Experience, revela como a paixão pela culinária a levou a criar o seu próprio negócio. Desde a construção da credibilidade até a adaptação às crises económicas, Ana Paula discute os desafios enfrentados pela DHC e a importância de selecionar parceiros de qualidade. Carla Martins, licenciada em Marketing e Comunicação, juntou-se à irmã em 2001 e, desde então, têm caminhado lado a lado no percurso da DHC, formando uma equipa unida e complementar, e que integra vários colaboradores que as acompanham desde o inicio da empresa e outros que se foram juntando e que se continuam a juntar, sempre com uma cultura de coesão, foco no cliente e na satisfação do consumidor final.
Como surgiu a ideia de fundar a DHC Food Experience e o que a motivou a iniciar este negócio?
Desde cedo desenvolvi o gosto pela cozinha, já com 14 anos gostava de cozinhar, uma vez por semana, para a minha família. Inventava receitas, gostava de inovar. Inicialmente, não tinha este projeto em mente. A minha vida académica estava relacionada à investigação e diplomacia no campo das Relações Internacionais. Após concluir um Mestrado em Estudos Africanos, fui trabalhar para uma editora. Quando esta fechou para férias, decidi trabalhar na empresa de meu pai (Despachante/Transitário), devido à minha paixão pelo trabalho acabei por ficar e mudar o meu rumo profissional. Esta mudança abriu-me a porta a outros contatos e fui então convidada para ser responsável no mercado nacional, por uma empresa espanhola no setor alimentar, o que me levou a ingressar no mundo da alimentação. Quando surgiu a oportunidade, agarrei a ideia de criar uma empresa que pudesse trazer para o mercado português produtos inovadores e lancei a DHC Food Experience em 1997.
Quais os principais desafios enfrentados desde a criação da empresa até aos dias de hoje?
Nos primeiros anos, foi necessário estabelecer credibilidade e confiança. Eu era jovem, uma rapariga na casa dos vinte anos e estava sozinha nesta empreitada. Portanto, o maior desafio foi mostrar que era capaz e construir credibilidade no mercado, tanto em relação aos parceiros de vendas e compras, quanto aos parceiros internacionais. De seguida, o crescimento sempre foi um desafio constante. Optei por um crescimento gradual, sustentável, evitando a diversificação. Há sempre a tentação de seguir outros negócios, mas mantive o foco nos produtos refrigerados, embora também tenhamos alguns produtos de temperatura ambiente e mais diferenciados. Outro desafio foram as crises, como a de 2008, na qual foi necessário nos adaptarmos. Mais recentemente, a pandemia também afetou o setor alimentar. Felizmente, como somos uma empresa pequena e flexível, conseguimos superar esses obstáculos. Além disso, a instabilidade dos preços das matérias-primas foi um desafio significativo no início do ano passado. Em 26 anos de empresa, nunca tinha assistido a aumentos de preços superiores a 20%. Isso impacta o preço para o consumidor e forçou-nos a redirecionar a nossa estratégia. A aprendizagem e adaptação às mudanças são uma constante e um desafio desde o primeiro dia.
A DHC destaca-se por oferecer produtos alimentares inovadores e saudáveis. Como a empresa acompanha e antecipa as tendências de consumo para manter-se atualizada e atender às demandas do mercado?
É fundamental estarmos atentos às tendências e até mesmo antecipá-las. Para isso, estamos constantemente conectados às redes sociais e realizamos muitas viagens a diferentes mercados, por via da restauração, lojas retalhistas e da especialidade e feiras internacionais. Viajamos bastante, principalmente pelo mercado europeu, pois o mercado é global e as tendências são regionais. A restauração é especialmente importante para compreender as tendências, pois estas, geralmente, começam com um chefe, e a partir daí procuramos os produtores. Além disso, participamos em feiras, visitamos supermercados e lojas especializadas. Exploramos cidades e diferentes regiões de vários países para descobrir o que cada um tem de melhor. Sejam produtos regionais, nacionais ou tradicionais, a nossa missão tem sido procurar os melhores parceiros. Se é sorte, intuição ou capacidade, não sei ao certo, mas temos excelentes parceiros de longa data e novos parceiros a juntarem-se a nós. Os nossos clientes institucionais são fantásticos, desafiam-nos constantemente e queremos sempre superar as expectativas.
A empresa tem como compromisso selecionar os melhores produtos e estabelecer parcerias com fornecedores de prestígio nacional e internacional. De que forma avaliam e selecionam esses parceiros para garantir a qualidade dos produtos oferecidos?
Desde logo pela notoriedade dos produtos e marcas, pela presença em determinados canais de referência da distribuição (para quem produzem e vendem), através de visitas in loco e naturalmente os certificados de qualidade reconhecidos internacionalmente são um fator fundamental. Nas visitas às fábricas, observamos os departamentos de qualidade, realizamos análises e acompanhamos todo o processo. Nem todos os fabricantes que selecionamos conseguem passar por esta avaliação. Às vezes, ficamos muito empolgados com um produto, mas quando chegamos à fábrica, não sentimos a confiança necessária e não avançamos com a parceria. Este passo é crucial para se tornarem nossos parceiros. Outras, percebemos que não agregamos valor e que a parceria não faz sentido por essa razão.
A DHC lida com produtos refrigerados e de qualidade superior. Quais são os principais desafios em relação à rotatividade, prazos de validade, conservação e manuseamento desses produtos? Como garantem que esses aspetos sejam tratados com o devido cuidado?
Essa é a alma do nosso negócio e não posso revelar todos os detalhes. Posso, no entanto, dizer que é uma área que continua a ser acompanhada muito de perto por mim, pois é esse o nosso valor acrescentado e é aí que reside a base para a performance e rentabilidade da empresa. Não é fácil, principalmente porque antecipamos as tendências e os hábitos de consumo. Temos todo o risco relacionado ao stock, realizamos as entregas assim que recebemos as encomendas. Ou seja, se a encomenda chega hoje, ela é expedida no mesmo dia e entregue em qualquer ponto do país em de 24 horas. Em contraposição, as compras e previsões são efetuadas com entre duas e cinco semanas de antecedência, dado que trabalhamos com fábricas de países como Dinamarca, Reino Unido, Holanda, Bélgica, Alemanha, França, Espanha, Itália, Suíça e Grécia, com planos de produção bem definidos e dias de transporte de acordo com a localização geográfica. Investimos desde cedo em tecnologia e sistemas, desenvolvemos soluções adaptadas às nossas necessidades e contamos com o apoio técnico e informático. Além disso, temos uma equipa de colaboradores experientes, alguns deles estão connosco há muito tempo e conhecem bem o mercado. Contamos com a ajuda dos clientes, que fornecem algumas previsões, que nem sempre se concretizam, mas na maioria das vezes são uma boa ajuda. Além disso, há uma comunicação constante e estreita com a equipa comercial. Sem uma comunicação sólida e diária, não é possível fazer uma boa gestão de stock, entender as ações e tendências de consumo. Há muitos fatores envolvidos e há sempre riscos, mas preferimos ter quebras a ter ruturas, para não falhar com os clientes. Os produtos que não se vendem, são doados ao Banco Alimentar Contra a Fome, naturalmente ainda dentro da vida útil do produto. Todo este processo ocorre semanalmente, tudo começa e termina a cada semana. Às sextas-feiras, respiramos fundo e às segundas-feiras, recomeçamos.
Além das funções comerciais e logísticas, a DHC também se envolve em atividades como marketing, comunicação e promoção. Pode nos falar um pouco sobre a estratégia de marketing da empresa e como valorizam a marca e os produtos?
Desde logo a proximidade com o consumidor e a comunicação no ponto de venda e a esse nível fazemos todas as ações em coordenação e parceria com os nossos PN B2B. Temos cerca de 24 marcas e cada uma delas tem uma estratégia e abordagem de comunicação própria. Entre elas, está a nossa Marca PASTA DO DIA, na categoria de massas refrigeradas e em relação á qual temos total autonomia. Transversalmente, a nossa comunicação é direcionada para os consumidores no ponto de venda. Participamos em folhetos, realizamos ações promocionais e degustações, promovemos concursos, como oferta de viagens. Um ponto de melhoria é a nossa comunicação nas redes sociais, que hoje desempenham um papel determinante e em relação ao qual ainda temos muito para fazer.
O mercado alimentar é altamente competitivo e está em constante mutação. Como a DHC se mantém relevante e competitiva nesse cenário em constante evolução? Existe alguma estratégia ou abordagem específica adotada?
Paixão, proatividade, dinamismo, dedicação e uma equipa forte e coesa. Contamos com muitas ideias de novos elementos e boas parcerias. É importante ter um bom produto, ampliar a oferta e garantir o suporte para o sucesso da mesma. Mas não basta ter um bom produto, é necessário que toda a logística, o acompanhamento comercial e a comunicação sejam eficazes. O que nos diferencia, e é realmente o nosso valor agregado, é a combinação de todos esses fatores, permitindo que o produto chegue aos consumidores, esteja sempre disponível e tenha um preço competitivo.
Pode-nos contar um pouco sobre as últimas novidades e produtos que a DHC vai lançar? Quais são as expectativas para o futuro da empresa em termos de inovação e crescimento?
Há alturas em que não encontramos muitos produtos de relevância para lançar, mas felizmente há outros em que temos muitas novidades e que lançamos de forma faseada e gradual, pois temos de o fazer de forma sustentada e de acordo com a recetividade do mercado. Há alguns anos que temos vindo a falar da renovação da imagem da nossa marca PASTA DO DIA, que estava prevista acontecer antes da pandemia. Fomos protelando e chegou finalmente o momento. Será já no final deste ano que a nova imagem será lançada e com ela novos produtos. Vamos também integrar mais algumas marcas no nosso portfólio entre o final de 2023 e inicio de 2024.