Costa Verde: Expansão necessária mas ponderada

Carlos Teixeira, presidente do conselho de administração

2019 será o ano em que Porcelana Costa Verde terá um aumento a nível de infraestruturas, de recursos técnicos e humanos e que irá expandir a empresa em cerca de 40 por cento.

A empresa surgiu em 1991 quando alguns elementos da empresa Porcelanas da Quinta Nova foram convidados a começar um novo projeto. Carlos Teixeira, o atual presidente do conselho de administração, faz parte desse grupo que fundou a empresa e que se manteve nela até aos dias de hoje acompanhando todo o caminho percorrido. Esta empresa é criada com a particularidade de a distribuição ir para a indústria. “75 por cento do capital inicial da Costa Verde era dos distribuidores o restante estava entre os membros da administração”, explica Carlos Teixeira. Os distribuidores têm uma importância muito elevada nesta área porque por tradição as vendas eram e ainda hoje no nosso caso são feitas através dos distribuidores.

A indústria de porcelanas tem características diferentes do que podemos esperar numa indústria têxtil ou de calçado. O presidente explica que ou a empresa nasce logo para ser grande ou dificilmente chegará a esse patamar. Ao contrário de outras indústrias que crescem organicamente através da aquisição de maquinaria, a indústria das porcelanas está muito dependente do tamanho dos fornos. “Se temos uma empresa pequena, temos um forno pequeno daqueles de abrir e fechar, intermitente, que tem uma capacidade de sete a oito metros cúbicos. Outra coisa é começar com um forno contínuo, como é o nosso caso, de 70 metros de comprimento que coze cerca de 14 toneladas de porcelanas (equivalente a 45 mil peças) por dia”.

O processo fabril passa por três fases distintas. Existem três fornos: o primeiro de chacota, o segundo de vidrado e o terceiro de decoração. Isto implica que, desde logo, a montante existam equipamentos e mão de obra que permita produzir esta enorme quantidade de peças e que a jusante existam departamentos de embalagem, de estamparia, de marketing, comercial, análise de mercados, financeiro e administrativo que permitam dar resposta e escoarem estas 45 mil peças de produção diária.

Expansão e investimento

Logo de início havia a consciência que o objetivo era ser uma grande fábrica de porcelanas e, sendo assim, o investimento inicial teve de ser proporcional aos objetivos. No entanto, após 26 anos de existência existe a necessidade de aumentar a empresa. “Este projeto podia ter surgido de duas formas: ou por decisão nossa ou porque o mercado nos empurra”. Carlos Teixeira explica que o caso da Porcelanas Costa Verde é por uma questão de imposição do mercado que felizmente continua a aceitar muito bem os nossos produtos e a fábrica, neste momento, e na sua capacidade atual, não tem possibilidades de responder e prestar o serviço a que habituamos os nossos clientes. “Para além disto, acreditamos que esta é a altura correta para investir e expandir e que é uma decisão firme e bastante ponderada”.

O investimento é de sete milhões de euros e a empresa vai contar com o apoio do programa ‘Portugal 2020’. “Este investimento vai permitir um aumento de produção de cinco milhões de peças por ano. O aumento vai ser feito potencializando os equipamentos e recursos já existentes, aliados aos equipamentos e à tecnologia de ponta em que vamos investir”.

Uma das inovações é a implementação de um forno híbrido que foi desenvolvido nos últimos quatro anos em parceria com a Universidade de Aveiro e com o Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro. “Vai ser o nosso principal investimento na inovação e consecutivamente uma aposta na engenharia e capacidade de inovação portuguesas que pode ser um avanço significativo nesta área dos fornos. Os restantes equipamentos serão os mais modernos do mercado, a tecnologia de última ponta, de origem alemã”.

Um mercado mais abrangente

O foco vai continuar a ser o mercado hoteleiro e da restauração como tem sido desde o final do século passado. “A Europa é cada vez mais o sítio em que todos gostariam de viver e anseiam visitar. Esta vaga de turismo do Porto, Lisboa, Algarve e até mesmo em Aveiro é a prova de que esta foi uma boa aposta e que vai continuar a ser, porque cada vez vamos ter mais turistas que vão dinamizar a nossa hotelaria e restauração”. Isto é válido para Portugal, como para a Europa e diria mesmo o resto do Mundo. Explica ainda que são peças como pratos, chávenas e pires o que mais produzem e que acredita dificilmente, pelo menos no médio prazo, algum produto venha substituir a porcelana.

Uma das preocupações é vender a preços acessíveis sem esquecer a qualidade que lhes é característica. O design é também um ponto fulcral, mas admitem que muitas vezes o mais simples é o que funciona melhor. A primeira linha que desenvolveram e produziram com o apoio de um dos maiores estúdios de design do Mundo na área da porcelana, o Studio Levien de Londres, a linha Duo, ainda hoje uma das linhas que mais vendem no mundo inteiro, vendeu até hoje cerca de 15 milhões de euros, “esta uma das razões porque continuamos a manter uma estreita colaboração com o Studio Levien ainda nos dias de hoje”.

A rede de clientes é neste momento um ponto a ser trabalhado e reforçada. Existem contactos que estão a ser estabelecidos e que vão permitir que a Porcelanas Costa Verde entre em novos mercados, logo que a atual capacidade de resposta aumente. É também importante para a empresa conseguir ter uma presença mais forte no mercado português satisfazendo melhor as suas necessidades. Neste momento, 75 por cento da produção é para exportação.

Os recursos humanos como um motor de arranque

Encontrar mão de obra não tem sido tarefa fácil para a Porcelanas Costa Verde. No início da sua fundação a dificuldade era encontrar trabalhadores qualificados visto que a maior parte deles vinha da produção agrícola. A zona que agora é uma zona industrial era antes uma zona rural sem acessos. Hoje em dia, a dificuldade não é tanto pela qualificação, mas sim pela vontade de virem trabalhar por turnos e num ambiente fabril.

Com a expansão, a ideia é “contratar cerca de 80 a 90 colaboradores. Este aumento de capacidade de produção com este número de trabalhadores só é possível porque esperamos conseguir várias sinergias com a fábrica actual e desta forma conseguirmos uma muito maior produtividade da mão de obra. Neste momento a empresa já tem 358 colaboradores”.

Atualmente, a empresa está a aplicar duas estratégias para conseguir no curto e médio prazo recrutar novos colaboradores. Uma delas com visão num futuro mais próximo é a de recrutar os portugueses que, por exemplo, em tempos emigraram para a Venezuela e agora estão a voltar. Numa estratégia para um futuro mais longínquo, “dinamizamos visitas das escolas para que os miúdos de 13 e 14 anos conheçam a realidade do que é hoje o ‘chão de fábrica’ e que não tem nada a haver com a imagem que ainda hoje, sobretudo os pais dessas crianças têm deste mesmo ‘chão de fábrica’. O objetivo é que eles ganhem o gosto pela área industrial. Na maioria das vezes, esta mentalidade tem de ser alterada não só nos jovens, mas também nos pais que não vêm nos empregos fabris o futuro dos filhos”.

De agora em diante, a empresa tem de tentar fazer um esforço para satisfazer as necessidades dos clientes, mas também dos colaboradores. “Pensar no futuro de uma forma sólida e acreditar que tem um bom futuro, mas que precisa de todos os recursos a trabalhar como uma equipa motivada e interessada”, remata Carlos Teixeira.

 

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