Abarca Seguros: o despertar do setor

Fernando Morales, CEO

A Revista Business Portugal entrevistou Fernando Morales, CEO, por forma a ficar a conhecer a Abarca Seguros e como esta empresa se distingue no mercado.

 

Como e quando nasceu a Abarca Seguros? Por que razão se estabeleceram em Portugal?

A ideia de criar a Companhia em Portugal surgiu já há mais de cinco anos. O nosso ambiente de trabalho era Ibérico, e Portugal era um país bastante atrativo para o mercado de seguro de caução, para além de estar totalmente adaptado ao regime de Solvência II, com o qual não seriam exigidos esforços adicionais após a criação da Companhia, uma vez que a mesma nasceria já adaptada a este Regime. Este terá sido um dos principais motivos.

Quais são as principais diferenças entre os mercados, nomeadamente, o espanhol e português?

A dimensão das operações é geralmente maior no mercado espanhol, o que é lógico devido ao tamanho dos projetos, para além das empresas espanholas estarem mais habituadas a disponibilizar informação, o que é comum no seu dia-a-dia. As empresas portuguesas ainda têm alguma relutância em fornecer informações e atualizá-las durante a vigência da Garantia.

Desde a entrada da Abarca no mercado português que se assiste a um despertar deste setor, embora aceitemos que tal não é devido apenas ao mérito da Abarca, admitimos que tivemos muito a ver com esse facto.

O mercado português de seguro de caução está a crescer nos últimos anos a um ritmo excelente, e isso graças ao trabalho ‘didático’ das Seguradoras na sensibilização do seguro de caução relativamente às garantias bancárias.

O volume de prémios brutos emitidos de Seguro de Caução no mercado português era, há três anos, de 2.5 milhões de euros, agora é cerca de oito milhões. Embora não seja um mercado de 60 milhões como o espanhol, é provavelmente um mercado que pode chegar aos 20 milhões de euros, pelo que é nossa convicção que há ainda caminho para crescer neste setor. Por outro lado, a Administração Pública em Espanha está mais habituada a lidar com seguros de caução, aceitando substituí-los por outros seguros de caução, ou garantias bancárias, etc.

Dependendo das circunstâncias do momento, as empresas trocam os certificados de diferentes companhias ou até mesmo garantias bancárias por seguros de caução ou depósitos em dinheiro. Na Administração Pública Portuguesa, em geral, não é muito usual substituir garantias durante a vida das mesmas. Elas são entregues aquando do seu pedido inicial, permanecendo até ao fim.

Que perfil de pessoas emprega a companhia?

Temos pessoas com larga experiência no setor segurador e com grande entusiasmo. Quando contratamos, não procuramos um protótipo de pessoa, procuramos uma atitude, um desejo de encarar novos projetos e desafios. Temos jovens, mas igualmente temos pessoas que poderiam já estar aposentadas, segundo critérios administrativos, mas o seu desejo e entusiasmo permitem-nos contar com elas.

É claro que a formação e a experiência são importantes e são levados em conta, mas reitero que isso não é tudo para trabalhar num projeto como o nosso.

Como descreveria a sua carteira de clientes?

Temos empresas de todos os setores e de todas as dimensões, desde empresas de construção, de serviços, entre outras. Muitas delas utilizando pela primeira vez o seguro de caução.

Que balanço faz destes anos de atividade?

O balanço é muito positivo, a nossa mensagem tem subjacente a existência de uma forma diferente de fazer as coisas, respeitando a mais pura ortodoxia do setor, mas dando também um pouco de “ar fresco” a este ramo de seguro, que vem há décadas fazendo as mesmas coisas, e da mesma maneira.

Inicialmente, quando se tenta passar esta mensagem, a resposta é de alguma desconfiança, perante um setor muito conservador como este, mas quando se discute o seu racional, fala-se sobre novos nichos de mercado, novos subprodutos e retira-se os complexos que existiam perante a Banca, creio que a mensagem é entendida no setor.

A Abarca está também em Itália. Como está a correr a operação?

Temos autorização para operar na Itália há alguns meses e quisemos estar em Itália porque é um dos mercados mais importantes do mundo no âmbito do seguro de caução, com mais de 600 milhões de euros em prémios brutos emitidos. Porém, o nosso entusiasmo não nos impede de ver a realidade e a atual a situação que se vive em Itália, com certas mudanças políticas e legislativas, talvez não seja o momento ideal para iniciar as operações.

É verdade que apostamos neste mercado, mas resolvemos fazê-lo pouco a pouco, de forma mais soft, estudando quais os setores de atividade a quem apresentaremos as nossas garantias e qual o perfil das empresas. Acima de tudo, a nossa ideia é dar apoio e ajuda às empresas portuguesas e espanholas com presença naquele país, e que pretendem realizar operações neste mercado.

A legislação dos países em que estão presentes, é favorável ao exercício da companhia?

Em ambos os países verifica-se uma legislação pouco específica para este tipo de seguro. Acreditamos que este seguro é técnico e especializado o suficiente para que lhe seja dedicada uma legislação especial e diferenciada da que é dedicada aos restantes ramos de seguro.

Essa falta de regulamentação específica significa que muitas vezes os modelos que são utilizados para o seguro de caução são uma cópia perfeita dos modelos utilizados para as garantias bancárias, o que causa muitos problemas, já que são produtos distintos, e a forma pela qual os riscos deste tipo de garantias são subscritas pelas companhias de seguros é totalmente diferente da dos bancos.

Quais são as vossas expectativas de crescimento?

Gostaríamos de continuar a crescer de forma sustentada, mantendo um relacionamento de longo prazo com nossos clientes, mas sem cometer erros na subscrição dos riscos, ou seja, a nossa prioridade não assenta no crescimento pelo incremento na emissão de prémios de seguro, pois reconhecemos que esta lógica poderia por consequência aumentar os nossos custos com sinistros. De facto, a nossa taxa de rejeição é muito elevada, porque procuramos riscos controlados e bem estudados, embora para isso tenhamos que sacrificar a nossa produção e o volume de prémios emitidos.

Quais os principais desafios para a Abarca?

Consolidarmo-nos como líder no mercado português e ser uma referência nos mercados em que operamos, Espanha, e em breve em Itália, mas quem sabe, talvez também em algum momento noutros países da U.E.

Pretendem avançar para outros mercados? Quais?

O ambiente natural em que Abarca deve crescer é a UE, e não descartamos essa possibilidade ao longo do tempo, embora seja verdade que temos excelentes relações com companhias sediadas em toda a América Latina, o que nos permite encontrar soluções para empresas portuguesas e espanholas com presença nesses mercados.

Temos igualmente boas relações com seguradoras que operam neste sector em países como Angola, Cabo Verde, etc.

Presentemente, vamos focar a nossa atividade nos mercados em que estamos presentes, não afastando nunca a possibilidade de procurarmos uma solução através dos nossos parceiros, sempre que algum cliente nos solicite apoio nesses países.

Quais são os principais desafios das seguradoras de caução?

O principal desafio é poder competir numa base de igualdade com as entidades financeiras. Devemos remover o complexo, e das empresas também, para que este tipo de operações só possam ser realizadas pelos bancos, porque agora existem outras alternativas, igualmente boas, e legalmente autorizadas.

Atrevo-me a antecipar uma colaboração muito próxima entre os bancos e as seguradoras em determinados projetos de grande dimensão, em que podem as duas instituições “andar de mãos dadas”.

O que significa para a companhia o rating de B+ Stable atribuído pela agência de rating norte americana A.M. Best Company?

Isso significa um grande sucesso. Uma seguradora que com menos de dois anos de vida no mercado alcança este rating seria impensável para muitos.

Mas mais do que o rating, o que mais nos orgulha é que a atribuição do mesmo teve por base, para além da solvência, o grau de profissionalismo que foi atribuído à equipa de gestão da Abarca. Entendemos que a nossa Companhia sem os seus colaboradores não seria o que é, são as pessoas que dão valor a uma empresa como a nossa e sem elas a Abarca nunca teria chegado aqui.

Por onde passa o futuro da Abarca Seguros?

Fazendo um pouco de adivinho, creio que o futuro da Abarca passa pela inovação. Acredito firmemente que este fator deva existir. Se quisermos ser competitivos, temos de trazer coisas diferentes, novas formas de ver o mercado, novas maneiras de subscrever riscos e, em especial, detetar novos nichos de negócios e produtos, onde antes ninguém imaginava.

Não estou a dizer que isso é fácil, mas acredito firmemente que é possível e que daqui a alguns anos seremos reconhecidos por este trabalho de inovação.

Tentamos alterar o estado atual do mercado de seguro de caução, queremos mudar o “status quo” no que se refere ao equilíbrio entre as Entidades Financeiras e as Companhias de Seguros. Queremos que quando os clientes se dirigem à Abarca procurem uma maneira diferente de fazer as coisas. É claro que assumimos que existem produtos e setores que têm pouco espaço para inovação, e aí também queremos estar, porque também gostamos dos projetos fáceis, mas queremos que, quando as empresas estejam perante um projeto fora do comum, pensem imediatamente na Abarca. Isso não significa que façamos milagres, o que não poderá acontecer, mas pelo menos estudaremos se esse milagre é possível.

Estamos conscientes de que a nossa forma de estar no mercado não parecerá adequada para todos, mas temos pessoas que acreditam fortemente nesta linha de atuação e, por outro lado, temos detratores, mas é algo com o qual temos que nos habituar a viver, tentando superar os desafios da melhor maneira possível.

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