Centro Tecnológico das Indústrias do Couro: Inovar para antecipar o mercado
O Centro Tecnológico das Indústrias do Couro (CTIC) foi fundado em 1992, por iniciativa dos empresários de curtumes e representa hoje parte integrante desta indústria. Localizado na capital nacional dos curtumes, Alcanena, oferece um serviço de apoio e de desenvolvimento e inovação tecnológica às empresas do sector. O diretor geral, Alcino Martinho, falou à Revista Business Portugal para desvendar a relevância do CTIC no setor.
É uma das artes artesãs mais antigas e em Portugal é elevada à sua excelência. O couro é associado à nobreza e sinónimo de qualidade, sendo o calçado português um dos exemplos mais flagrantes em que o couro se referencia, mas esta matéria prima de alta qualidade é também procurada por outros mercados de luxo, por todo o mundo: roupa, mobiliário, marroquinaria e interiores de aviões e automóveis.
No seguimento da evolução do mercado dos curtumes surgiu uma estrutura capaz de dar respostas às constantes exigências do sector e à sua dimensão tecnológica. “O CTIC nasce numa época em que a indústria de curtumes conheceu um desenvolvimento importante, nos finais dos anos 80, aliado a um crescimento significativo do setor do calçado. A indústria de curtumes acompanhou e deu resposta às necessidades deste setor ter matéria prima, até porque o calçado nacional é muito caracterizado pela utilização de couro. No início dos anos 90, sentiram a necessidade de ter uma entidade que os apoiasse nos aspetos tecnológicos, na melhoria de produto, na elevação dos níveis de produtividade e qualidade e tudo o que está associado”, começou por contar Alcino Martinho. Hoje, o CTIC dá resposta em vários sentidos: inovação e desenvolvimento, certificação, sustentabilidade ambiental, economia circular e eficiência energética, automação e digitalização, segurança do trabalho, segurança alimentar e formação. “A inovação e o desenvolvimento tecnológico são parte dos processos mais importantes, assentam essencialmente em trabalhos de investigação em que estudamos soluções com outras entidades do sistema científico e tecnológico. Percebemos as necessidades das empresas e apresentamos soluções”, referiu o diretor geral.
Necessidades da indústria dos curtumes
A evolução tecnológica veio trazer novas soluções à indústria dos curtumes. A tecnologia veio permitir dar novas respostas às exigências da moda, na criação de couros com novas cores mais vivas e extravagantes e com uma grande diversidade de aspetos finais; de tal forma que peles de tipos considerados exóticos e de animais que estão protegidos devido ao risco de extinção, são atualmente possíveis de ‘fabricar’, criando ‘réplicas’ a partir de outras peles, como por exemplo dar a aparência de pele de réptil a uma pele de vaca, ou a aparência de uma pele de leopardo a uma pele de ovelha. Todavia, a sustentabilidade energética e a responsabilidade social e ambiental representam grandes desafios que este setor tem enfrentado, sendo de salientar que atualmente o couro fabricado tem praticamente um valor zero de pegada de carbono; assim como as exigências colocadas pelos elevados padrões da indústria da moda e do automóvel conduziram a novas variantes de curtume, mais inócuas. “Queremos tornar a pele amiga do ambiente e do homem, que não seja prejudicial a quem a usa”, explicou Alcino Martinho, um dos grandes objetivos do CTIC. Mas os desafios passam também pela diferenciação dos produtos, da promoção da imagem, do design, da criatividade e da renovação constante das coleções. O couro tem vindo a ser alvo de imitações e campanhas agressivas por parte de produtos concorrentes, na maioria sintéticos derivados do petróleo, pelo que é premente o reforço das ações em defesa da autenticidade do couro.
Sendo um setor cada vez mais exportador, a internacionalização é uma realidade que deve ser encarada: “estamos num mercado aberto e há muitos países que conhecem e apreciam a qualidade do couro produzido em Portugal”, destacou o diretor geral.
“É também importante elucidar um dos grandes paradigmas em volta dos curtumes. Nesta indústria não há o abate animal. Transformamos um subproduto da indústria alimentar, das carnes. Ou seja, ninguém abate animais para lhes tirar a pele, apesar de haver muitas campanhas nesse sentido, muitas vezes distorcidas. Nós reaproveitamos e valorizamos um subproduto, que doutra forma seria um resíduo, transformando-o num produto nobre e apetecido”, concluiu Alcino Martinho.
Uma aposta na inovação e no desenvolvimento tecnológico
A dinâmica do CTIC tem vindo a crescer ano após ano, do apoio técnico até às necessidades adjacentes de toda a indústria, o CTIC tem-se demarcado por antecipar as necessidades das empresas e assim estar prontamente preparado para dar uma resposta capaz de ajudar a crescer todos os seus associados. “Fomos evoluindo em recursos humanos e aí houve um crescimento estruturado, alargando as respostas e as competências. Estamos agora numa fase em que queremos abordar outras áreas, isto tem a ver com a evolução da sociedade e as tendências dos mercados. Queremos impulsionar a economia circular, que é o reaproveitar e reutilizar de produtos que de outra forma seriam resíduos. Para elevar os seus níveis de competitividade, as empresas devem recorrer a novos sistemas que lhes permitam agilizar processos, para o que é fundamental a aplicação dos conceitos da Indústria 4.0. Pretendemos pois promover a implementação de soluções de automação e digitalização na indústria, permitindo melhorar produtividade, eficiência e flexibilidade e controlar melhor os processos”, concluiu.