Doença Coronária

 

Carlos Braga e Eduardo Infante de Oliveira Associação Portuguesa de Intervenção Cardiovascular

A doença coronária aterosclerótica caracteriza-se pela formação de placas decorrente da deposição de gordura e cálcio na parede dos vasos sanguíneos que irrigam o coração, as artérias coronárias, levando à sua obstrução progressiva e à consequente diminuição do fluxo de sangue rico em oxigénio e nutrientes necessário para o normal funcionamento do músculo cardíaco. Este processo é gradual ao longo de anos.  Contudo, a instabilização / rotura súbita de uma placa leva à formação de um coágulo sanguíneo à sua superfície que vai obstruir subitamente o fluxo sanguíneo, causando um enfarte.

 

Existem múltiplos fatores de risco para o desenvolvimento da doença coronária. Alguns não são modificáveis, como a idade, o sexo masculino e a história familiar de doença coronária, mas há outros que são modificáveis e que podem ser controlados com alterações ao estilo de vida ou medicação, como o excesso de peso, o sedentarismo, o tabagismo, o consumo excessivo de álcool e níveis elevados de pressão arterial, colesterol e açúcar no sangue.

 

A doença coronária é uma doença crónica comum na sociedade moderna, atingindo em Portugal quase meio milhão de pessoas. É importante relembrar que as doenças cardiovasculares continuam a ser a primeira causa de morte em Portugal, correspondendo a cerca de 30% de todas as mortes por ano.

 

O principal sintoma associado à doença coronária é a angina de peito, uma sensação de aperto, queimadura ou opressão no meio (esterno) ou no lado esquerdo do peito (precórdio), podendo também atingir o pescoço, o queixo, as costas, os braços ou até mesmo o estômago, com duração habitualmente inferior a 10 minutos, sendo despoletada pelo esforço e aliviada pelo repouso. Esta dor pode ser acompanhada de falta de ar/dificuldade em respirar, suores, náuseas, tonturas e mal-estar geral. No caso do enfarte agudo do miocárdio, os sintomas são semelhantes, mas geralmente mais intensos e de duração mais prolongada, podendo surgir de forma súbita, mesmo em repouso. A doença coronária também pode passar despercebida durante anos, manifestando-se mais tarde por sintomas de insuficiência cardíaca, como o cansaço fácil com o esforço, ou de morte súbita.

 

A melhor forma de prevenir a doença coronária é combater os fatores de risco cardiovascular e adotar um estilo de vida saudável, incluindo: (1) realizar exercício físico de intensidade moderada de forma regular (pelo menos 30 minutos por dia, 5 dias por semana); (2) ter uma alimentação equilibrada (ex. dieta Mediterrânica ou similar, limitando o consumo de sal para <5 g/dia, de gorduras para <30% do total de calorias por dia e de gorduras saturadas e açúcares simples para <10% do total de calorias); (3) controlar o peso (índice de massa corporal ideal < 25 kg/m2); (4) não fumar (o tabaco é responsável por 50% das mortes evitáveis em fumadores); (5) limitar o consumo de álcool. De forma sinérgica e quando necessária, a utilização de medicação apropriada para o controlo da pressão arterial, do colesterol e dos níveis de açúcar elevados (diabetes) pode minimizar o risco de uma doença cardiovascular aguda potencialmente fatal.

 

O diagnóstico baseia-se na história clínica do doente, na sua observação e na realização de exames complementares de diagnóstico como o eletrocardiograma, o ecocardiograma, provas de esforço / sobrecarga ou angiografia coronária por TAC. Poderá ser necessário ainda fazer um cateterismo cardíaco / angiografia coronária invasiva para confirmar a existência de lesões significativas das artérias coronárias. Casos agudos, de dor súbita e prolongada no peito, deverão ser avaliados prontamente num serviço de urgência de forma a confirmar ou excluir o diagnóstico de enfarte. A instituição precoce de terapia adequada é fundamental para preservar o músculo cardíaco e evitar complicações. Em caso de suspeita de enfarte, por instalação súbita de sintomas sugestivos (dor acompanhada por falta de ar, transpiração, náuseas, etc.), deverá ser contactado o número de emergência 112 de modo a facilitar o diagnóstico precoce e o transporte com segurança para uma unidade hospitalar adequada.

 

O tratamento da doença coronária visa o controlo dos fatores de risco cardiovascular, o alívio dos sintomas e a redução das complicações, especialmente, o enfarte do miocárdio e a insuficiência cardíaca. Assenta essencialmente nas alterações do estilo de vida e medicação crónica, podendo ser necessário recorrer à angioplastia coronária, intervenção por cateterismo, que consiste na desobstrução da artéria coronária afetada com colocação de um stent, uma rede em forma de tubo que mantém o vaso aberto. Em casos mais graves, poderá ser necessária intervenção cirúrgica (by-pass).

You may also like...

This will close in 0 seconds