Arquitetura aliada ao imobiliário

Joana Resende, CEO // Fotografia: Ana Jesus Ribeiro

A paixão pela arquitetura ditou o seu percurso académico, mas foi na mediação imobiliária que encontrou a realização profissional. Joana Resende, CEO da Century 21 Arquitetos, fala-nos com paixão da arquitetura e do imobiliário, duas áreas que se complementam e que fazem parte do (preenchido) dia a dia da arquiteta.

 

Apresente o seu percurso profissional até à criação da Century 21 Arquitetos.

Desde muito cedo decidi que queria ser arquiteta, era o meu objetivo de vida. Quando entrei na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, apaixonei-me pelo curso ao ponto de achar que o meu caminho era o percurso académico, mas estava enganada. Passei por um gabinete de arquitetura até que, em 2007, eu e o meu marido decidimos abrir o nosso espaço. O negócio prosperou e abrimos o leque de serviços para a engenharia e construção. Dado o crescimento da empresa, decidimos que seria vantajoso fecharmos o leque de serviços ao abraçar a mediação imobiliária. Por motivos pessoais não o acompanhei como queria nessa pesquisa, só mais tarde assimilei plenamente o conceito da marca Century 21 e identifiquei-me, de imediato, com esta atividade. Entre 2015 e 2016, altura em que apostámos na abertura da Century 21 Arquitetos, o gabinete de arquitetura passou uma fase menos positiva, que vencemos através do esforço de trabalho e muita dedicação.

 

O que a moveu a abraçar a marca Century 21?

Quando fundámos a Century 21 Arquitetos os meus conhecimentos sobre o setor eram quase nulos. Na altura, o negócio estava mais do que inventado, a marca Century 21 já existia há 40 anos nos Estados Unidos e chegou a Portugal em 2005. A Century 21, em Portugal, é uma rede que procura o crescimento, mas de uma forma sustentada. Somos vistos como uma rede muito profissional. A outra questão, que pesou na nossa escolha, foi o facto de esta ser uma rede com um master muito presente. O senhor Joaquim Rocha de Sousa, que é um empresário fabuloso, está à distância de um telefonema, bem como o Dr. Ricardo de Sousa, que é o CEO da marca, factos muito importantes para nós.

 

Refere que não inventou nada, mas o facto é que a Century 21 Arquitetos é uma referência nacional, gerida por uma mulher e ganha muitos prémios da marca.

Não inventámos nada na base do que é o negócio imobiliário, mas fizemos alguma diferença e vamos continuar a fazê-lo. Comecei uma equipa com cinco pessoas, atualmente conto com 65. Além disso, atualmente, as imobiliárias parecem um mercado de futebol, um verdadeiro entra e sai de consultores, mas aqui os consultores mantêm-se connosco por bastante tempo, porque damos boas condições de trabalho e o apoio que necessitam. Acredito que o facto de ser mulher e gestora ajuda muito, porque temos um sentido maternal de cuidar, o que faz toda a diferença. Os consultores são prestadores de serviços, não são meus funcionários e eu olho para eles como empresários. Há agências imobiliárias que pagam percentagens mais elevadas aos seus consultores, mas, por outro lado, eles têm de assumir todas as despesas associadas à sua atividade. Eu não consigo ver o negócio imobiliário dessa maneira, porque acredito que, no final, não consigo prestar um bom serviço aos clientes e eles também não o conseguem fazer. Para contrariar essa tendência, tento que a minha empresa ofereça as melhores ferramentas e condições para trabalhar. A nível de staff, conto com uma equipa de dez colaboradores para apoiar a equipa, incluindo Direção Comercial, Gestão Processual, Intermediação de Crédito e Departamento interno de Marketing. No que diz respeito a ferramentas, tento estar sempre dentro do mais atualizado. No início de 2020, por exemplo, com a ajuda de um colaborador nosso, comecei a estudar mais a questão das reportagens 3D e 360º dos imóveis. Apenas algumas mediadoras o faziam, sendo que os consultores contratavam serviços externos para o fazerem, com custos altíssimos, e acabavam por fazê-lo apenas para um imóvel ou outro, normalmente para produto de luxo. Ora, não me parecia justo e achei que era uma ferramenta importante a ter para os nossos consultores e clientes. Assim, em fevereiro adquiri a máquina que faz essa recolha e, no início de março (ainda longe da pandemia), estávamos a fazer reportagem 3D e 360º para todos os nossos imóveis, praticamente sem custos para os nossos consultores e totalmente gratuito para os nossos clientes. Em março, éramos a única agência que tinha dentro de portas este serviço em exclusivo. Com o confinamento e vedados que estavam a fazer visitas aos imóveis, os colegas começaram a procurar alternativas e a tecnologia foi a primeira aliada. Hoje em dia, muitas outras empresas tomaram a mesma decisão. Claro está que queremos continuar pioneiros e, por isso, já estamos a tratar de adicionar aos nossos serviços outras aplicações e valências que tornarão o nosso 3D e 360º totalmente diferente dos outros.

 

Vejo a arquiteta, não só como gestora da empresa e das pessoas, mas como alguém que mostra o lado emocional das mulheres e não se cinge às plataformas básicas. De que forma impõe a sua criatividade, originalidade e inovação dentro da empresa?

Eu, simplesmente, utilizo as ferramentas que me deram. Este negócio vive de contactos, de ativar a rede de influências, de fazer prospeção diária e de excelente apresentação dos serviços. Enquanto gestora, também tinha de me preocupar com o recrutamento e depois destes passos estarem concluídos, fiquei à vontade para fazer o restante. Para além disso, assimilo e trabalho os inputs que os consultores me dão. Quanto à parte criativa, tem muito que ver com o que leio, vejo e transmito. Adoro conversar com as pessoas, sempre fui assim, e faço-o de forma natural. Quando assinei o contrato de franquia, pedi para ir aprender no terreno com consultores experientes e numa agência. Acredito que o trabalho de gerente é mais fácil para nós, que não temos qualquer experiência, porque o gerente não pode fazer negócio. Já ajudei os consultores a concretizá-los, na angariação, mas eu não tenho negócios, passo-os sempre para um consultor.

 

Atualmente tem duas lojas. Descreva como se deu a aquisição da loja do Porto.

A certa altura, o meu marido ficou dedicado à arquitetura e eu, exclusivamente, à mediação imobiliária. Em 2019, resolvemos abrir uma segunda agência e, logo em janeiro, o meu colega Rodolfo propôs-me ficar com a loja Century 21 Invicta e eu aceitei de imediato. Sabia que tinha um grande desafio à minha frente, mas também sabia que o processo passava por fazer uma das coisas que mais gosto: motivar pessoas.

 

E já se veem como parte da mesma empresa? Sendo um braço que está deslocado, no Porto, em que os negócios são iguais, mas públicos diferentes?

Sim, e isso nota-se bastante. A nível de créditos, por exemplo, 60 por cento dos negócios, na loja de Rio Tinto, são com crédito imobiliário, ou seja, hipotecário. Na outra loja, representam apenas 20 por cento, os restantes negócios são fechados com pronto pagamento. Na Century 21 Arquitectos do Porto, já senti a força do pagamento a pronto, de pessoas que têm disponibilidade financeira imediata, mas aqui, os nossos clientes precisam é de uma aprovação rápida. Pedem-nos ajuda, porque somos intermediários de crédito autorizados, fazemos as consultas com os bancos e o que o nosso cliente quer é uma aprovação rápida do empréstimo. Na outra loja, no Porto, temos um cliente muito mais informado, com uma relação muito próxima com o seu banco, ou seja, são públicos completamente distintos.

 

A arquitetura é parte integrante da panóplia de serviços?

Sim, até porque essa sempre foi a nossa ideia. O meu marido mantém o gabinete de arquitetura, temos a estrutura independente para isso e, aliás, já fizemos trabalhos de arquitetura para clientes que nos compram terrenos e depois procuram uma solução chave na mão. Assim, as duas atividades complementam-se e há, muitas vezes, uma relação entre os dois serviços.

 

Considera vantajoso trabalhar com equipas mistas?

Completamente. São diferentes, mas as características complementam-se. Há um equilíbrio até nas distinções que fazemos a cada mês, é curioso.

 

Faz parte de um universo que ainda é pequeno, a gestão e liderança feminina de empresas. Que conselhos poderia dar a mulheres que possam querer vir a ser gestoras da sua própria empresa ou que estejam a ter alguma dificuldade nessa gestão?

Eu acredito que esta dificuldade seja geracional e ainda exista, mas acho que vai ser cada vez mais diluída e que estamos a caminhar para a igualdade. O conselho que dou “a elas” é o mesmo que dou “a eles” e tem que ver com a força de vontade, tenacidade e com a formação. Não me refiro à formação académica, mas sim, à que vamos buscar para os nossos negócios. Não podemos abrir um negócio sem aprendermos tudo o que há para saber sobre ele e não podemos achar que, ao aprender tudo, não haverão outras formas de evoluir. Temos de procurar saber sempre mais! É importante rodearmo-nos das pessoas certas e ouvir conselhos de quem já sabe mais do que nós. Para além disto, discordo em absoluto que o segredo seja a chave do negócio, para mim é o oposto. Temos de ouvir as pessoas, perguntar opiniões e de partilhar experiências. É assim que eu tenho crescido, a partilhar as minhas experiências e a conhecer as dos outros. Outro conselho reside nas muitas desilusões que sofri, ao longo deste percurso, porque sou muito verdadeira e mostro quem sou, mas não é por isso que vou passar a agir de outra forma. Acredito que não é por causa das desilusões que devemos mudar, porque cheguei até aqui a ser como sou e independentemente das fases e pessoas menos boas que se possam cruzar no meu caminho, vou continuar verdadeira.

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