Audácia, vontade de crescer e de melhorar

A Revista Business Portugal esteve à conversa com Carlos Garcia Ascenso, administrador único da Reginacork, referência nacional na indústria corticeira. O segredo do sucesso, considera, está no investimento contínuo nas suas infraestruturas e num sólido trabalho de equipa.

 

Carlos Garcia Ascenso, Administrador

A Reginacork, empresa sediada em Pinhal Novo, distrito de Setúbal, iniciou o seu percurso, na década de 90, com a preparação de cortiça e, mais tarde, com os triturados e, posteriormente, os granulados de cortiça. Mais recentemente, deu início à produção de pellets. É, hoje em dia, fonte de trabalho para centenas de trabalhadores de forma direta e indireta.

2016 foi um ano de grande importância para o futuro da Reginacork, com a aposta num novo produto. Foi construída a unidade de produção de pellets (um combustível ecológico alternativo ao fóssil, com custos muito inferiores para o consumidor e benefícios acrescidos para o meio ambiente), representando um investimento de 8,5 milhões de euros para criar um produto que se assumisse como um negócio complementar, com o objetivo de dar uma maior sustentabilidade à empresa.

Com os resultados positivos obtidos com esta aposta, Carlos Garcia Ascenso decidiu reforçar ainda mais a produção de pellets com um novo investimento, na ordem dos 1,5 milhões de euros, em 2020, durante a pandemia. Foi montada uma nova linha de secagem para os pellets, o que irá permitir à empresa aumentar produções e, além disso e muito importante, poderá trabalhar as matérias-primas em verde, reduzindo, significativamente, a emissão de poeiras durante o ciclo produtivo.

Em termos operacionais, a Reginacork alimenta as suas linhas de produção com matéria-prima, que resulta da poda e limpeza da floresta, a chamada estilha ou biomassa, que depois de moída, dá o produto final, traduzido em pellets. A recolha desta matéria-prima é feita, maioritariamente, pela própria empresa, que tem pessoal e equipas externas devidamente formadas para fazer esse trabalho. A restante matéria-prima resulta de entregas por parte de proprietários e de algumas autarquias.

 

Como surgiu a oportunidade para entrar no sector corticeiro?

Sempre estivemos ligados a este sector. Em 1994, começámos com uma pequena empresa, cujo trabalho consistia na produção e preparação de pranchas. Era um negócio com horizontes limitados e, por isso, decidimos passar para os triturados, depois para os granulados e, finalmente, para os pellets. Diria que nos fomos adaptando às situações e oportunidades de mercado que foram surgindo.

 

Pode dizer-se que os pellets são a grande base de sustentação da Reginacork?

Em parte, e principalmente durante o período da pandemia. De início, ganhámos alguma dimensão nas áreas que atrás mencionei, mas comecei a aperceber-me que este mercado estava a ficar restrito, a diminuir muito. Então, a ideia foi arranjar um negócio complementar, para dar mais sustentabilidade à empresa. Estudámos e analisámos algumas oportunidades, até que surgiu a ideia dos pellets. Instalámos uma unidade para produção deste produto, um modelo de negócio diferente, mas com muitas sinergias oriundas do sector corticeiro, nomeadamente, o abastecimento de matéria-prima e a sustentabilidade das florestas.

Arrancámos há quatro anos e, no ano passado, já chegámos às 23 mil toneladas e a conclusão é esta: o mercado está muito recetivo. É um mercado que tem de ser gerido numa ótica de economia de escala. Neste momento, com os investimentos que efetuamos, temos capacidade para produzir 45 mil toneladas/ano de pellets. Em paralelo, continuamos com cerca de 7/8 mil toneladas nos granulados, ainda que nesta altura e até final dos efeitos da pandemia, nos mercados esteja a pouco mais de 50 por cento. Esta aposta no reforço da linha dos pellets foi por nós encarada como uma medida de emergência essencial para a sustentabilidade da empresa. O objetivo foi compensar as perdas do sector corticeiro e equilibrar os resultados da empresa e até agora tudo parece estar bem encaminhado.

 

Com um ano atípico devido à pandemia, que resultado prevê alcançar no final de 2020?

O facto de termos conseguido ampliar a capacidade de produção de pellets durante a pandemia foi determinante. Caso não tivesse acontecido, estaríamos numa situação muito delicada.  Ainda que tenhamos conseguido mercados alternativos para os granulados, não seria suficiente. Assim, penso que iremos fechar o ano com uma faturação muito próxima ao conseguido em 2019, o que, face à situação, acaba por ser um bom resultado, tendo em conta que o sector corticeiro foi severamente abalado pelo efeito da pandemia nos mercados.

 

Equipa

Nota-se claramente que fala muito na terceira pessoa, apesar de ser o rosto visível e pessoa unicamente responsável por este rumo de sucesso. Porquê?

Porque o trabalho de equipa é a base de tudo isto. Tenho aqui pessoas que estão comigo desde o primeiro dia. Consigo fazer o papel de liderança, mas preciso de ter os “oficiais de dia”. Tenho de centralizar em mim, porque tenho de assumir as responsabilidades de tudo, mas tenho de ter, e tenho, pessoas a quem possa delegar, por vezes, o dia a dia. Por exemplo, esta ampliação só foi possível com o esforço e envolvimento de todos. Eles esforçaram-se muito, é verdade que estão motivados para isso. Aquela linha de secagem, vital para a sustentabilidade da empresa neste período de pandemia, deveria ter sido montada pelo fornecedor do equipamento, o que no momento se revelou impossível devido à Covid-19. Todos fizemos cedências e um grande esforço até concretizar a montagem. É este espírito de equipa que tento preservar e alimentar.

 

Uma filosofia de trabalho que também parece adequada aos novos tempos…

Claramente! Eu não acredito que as pessoas, se não ganharem o suficiente para sustentar a família e pagar as suas contas, venham trabalhar com boa vontade, se sintam motivados para produzir o melhor de si mesmo, todos os dias. Acho que as pessoas têm de ter uma vida digna e têm de ter condições para isso. Prefiro ter o pessoal fidelizado, dentro do possível, do que todos os dias andar à procura de novos funcionários.

 

O que pode garantir que nunca vai mudar?

O compromisso! Está assumido e não vai mudar. Temos uma filosofia de trabalho bem definida, baseada na audácia, crescimento e melhoria. No dia em que qualquer empresa pense que está bem e comodamente instalada, está, seguramente, a ser ultrapassada por outra e a caminho de ter problemas no futuro.

 

Uma postura que foi posta à prova com a pandemia. Como tem lidado a Reginacork com este problema à escala mundial?

Relativamente à escala mundial, estamos a passar por uma situação pela qual nunca passamos, nem tão pouco os nossos interlocutores. Internamente, sentámo-nos à mesa, conversámos e chegámos à conclusão que a solução não passava pelos trabalhadores irem para casa, porque ninguém sabe como nem quando isto acaba. Eles colaboraram, houve cedências de ambas as partes e foi possível evitar layoffs e/ou despedimentos e continuar a pagar ordenados na sua totalidade ao final de cada mês. Era este o objetivo comum. Com esta medida, hoje, o panorama é muito melhor do que era há três ou quatro meses e permite-nos ter uma projeção otimista para o futuro.

 

Como é que, começando-se do zero, se chega a uma empresa de milhões?

Quando se tem vontade de crescer e se tem o apoio da equipa não se pensa nos milhões, mas sim no fazer melhor, otimizar e crescer… o resto vem por acréscimo. Para ser mais rentável e ter viabilidade económica, precisamos de mais quantidade. É isso que temos feito. Olhando para o futuro, pelos contratos que temos, pelo menos até 2026, as perspetivas são as melhores. Também nos deixa tranquilos o facto de termos alguns dos melhores clientes do mundo, quer a nível nacional no sector da cortiça, quer a nível internacional no sector dos pellets, nomeadamente os países nórdicos, que cumprem, religiosamente, os seus contratos, têm outra filosofia de vida e nós temos de ser cumpridores, tal como eles. Diria que existem condições para uma parceria perfeita.

 

O que distingue a Reginacork?

Nós não somos melhores do que ninguém, nem nunca tal foi nossa intenção, somos simplesmente diferentes. Apostamos numa filosofia de trabalho diferente dos outros e os resultados obtidos até agora deixa-nos otimistas perante os grandes desafios que todos nós teremos de enfrentar.

 

Pode afirmar que a Reginacork é uma empresa amiga do ambiente?

Absolutamente! O mais possível! No sector dos pellets não fazemos corte raso, não fazemos desflorestação, não provocamos erosões. Chegamos ao terreno, limpámos e deixámos a floresta em melhores condições do que quando entrámos. Para nós, o interesse é deixar as árvores em crescimento, produtivas e saudáveis para o futuro, segundo as normas de certificação internacional, sobre as quais nos regemos. Num futuro próximo, estas mesmas árvores necessitarão de ser, novamente, limpas e podadas, pelo que teremos, novamente, matéria-prima à disposição, não esgotando a fonte. Entretanto, em todo este ciclo, promovemos a segurança da floresta, no que respeita a incêndios e pragas. No sector da cortiça, abastecemo-nos em podas e limpeza dos sobreiros e montados.

Os nossos grandes promotores são os proprietários das florestas que passam a palavra, reconhecem e ficam satisfeitos com o nosso trabalho. O nosso cartão de apresentação são os trabalhos que concluímos.

 

Qual o grande, ou grandes objetivos, no curto e médio-prazo?

No sector corticeiro, é recuperar algum do terreno perdido, ainda que neste momento já se sinta uma ligeira recuperação, ainda frágil. No sector dos pellets, acabamos de passar agora para as 45 mil toneladas anuais, sempre com uma análise constante ao impacto ambiental que tem no meio onde nos abastecemos. Depois, a partir daí, veremos se há ou não espaço para outras opções. Se houver, e após obter autorização das autoridades reguladoras competentes, poderemos estudar possíveis upgrades com novos clientes. Diria que, por agora, a estratégia principal passa por, durante os próximos cinco anos, otimizar produções, reduzir custos e manter os contratos existentes.

 

Relativamente aos pellets de madeira e cortiça, a Reginacork S.A. tem implementados os seguintes referenciais normativos:

FSC Chain of Custody Certification, FSC-STD-40-004 Standard (Version 3-0);

Requirements for Sourcing FSC® Controlled Wood, FSC-STD-40–005 Standard (Version 3-1);

Requirements for use of the FSC trademarks by Certificate Holders, FSC-STD-50-001 (Version 1-2);

ISO 9001.

 

Relativamente, unicamente, aos pellets de madeira, tem também implementados os seguintes referenciais normativos:

ENplus de 2015 – Parte 3 e 4 -Sistema de Certificação de Qualidade para Pellets de Madeira;

SBP Standard #1 V1.0 – Feedstock Compliance Standard;

SBP Standard #2 V1.0 – Verification of SBP Compliant Feedstock;

SBP Standard #4 V1.0 – Chain of Custody;

SBP Standard #5 V1.0 – Energy and Carbon data Collection;

Instruction Document 5A – Collection and Communication of Data V-1.1;

Instruction Document 5B – Energy and GHG Data V-1.1;

Instruction Document 5C – Static Biomass Profiling Data V 1:1.

 

Herdade do Monte Novo

Apartado 75, 2959-019 Pinhal Novo

+351 212 361 406

www.reginacork.pt

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