Apoger: “Alcançámos aquilo que pretendíamos e esperamos alcançar muito mais”

A APOGER – Associação Portuguesa dos Operadores de Gestão de Resíduos e Recicladores é atualmente a associação portuguesa com maior representatividade no setor de gestão de resíduos e reciclagem. Quitéria Antão, presidente da APOGER, em conversa com a Revista Business Portugal revelou o trabalho desenvolvido por esta associação e os principais desafios com que o setor se debate, atualmente.

A APOGER surgiu em 2009 com um objetivo bem definido: unir, apoiar e dar a conhecer à sociedade os empresários da área de gestão de resíduos. Que trabalho tem sido desenvolvido nesse sentido ao longo dos anos?
A atividade primária que deu origem ao setor de operações de gestão de resíduos e reciclagem, a sucata, sempre foi vista pelos seus aspetos negativos. Os sucateiros sempre foram vistos como pessoas fora da lei, apanhadores de lixo e de materiais descartados, muito associados a atividades sujas e de menor importância. Para mim, após conhecimento profundo da atividade, foram as pessoas que deram, já há muitos anos, o primeiro passo para a economia circular e para a reciclagem. As necessidades atuais de preservação de recursos e de contrariar a dependência europeia de outros países, no que concerne a vinte e duas matérias-primas críticas, veio dar-me razão. A APOGER surgiu para ajudar os operadores de gestão de resíduos e recicladores na transição imposta pela forte regulamentação que passou a ser aplicada à atividade dos sucateiros e para dar a conhecer os aspetos mais positivos e de enorme importância económica e social da atividade. Muita coisa existe por fazer e estaremos aqui para trabalhar, para unir os empresários do setor e para dar a conhecer à população o importante papel que desempenham na sociedade atual.

Esta área tem contribuído positivamente para o desenvolvimento económico do país, quer seja gerando riqueza, quer seja pela criação de emprego. Atualmente, qual o contributo desta atividade, em termos económicos?
O volume de negócios dos mais de duzentos associados da APOGER, reportado a 2017, foi de cerca de 1.500 milhões de euros, correspondendo a quase a 1 por cento do PIB que, comparado com o peso do PIB português na Europa, de 1,26 por cento, nos coloca na posição de um dos mais importantes setores económicos nacionais. Mas, a importância económica dos operadores de gestão de resíduos e recicladores é ainda mais relevante se pensarmos nos milhares de empregos altamente qualificados que originam, nomeadamente no interior do país, e os do arrasto que provocam sobre outras atividades.

Portugal, no que respeita ao PIB, está em 15º lugar no ranking dos países que integram a União Europeia, com valores quase equivalentes à Roménia e à República Checa, 194.613,5 milhões de euros. Países estes que, numa pré-projeção PORDATA, ultrapassarão Portugal já em 2018. Portugal tem uma projeção do PIB de 201.530,5 milhões de euros, Roménia 202.079,4 e República Checa 207.393,0 para o ano de 2018. A Roménia e a República Checa, crescerão mais do dobro do que Portugal em termos de PIB. Devemos comparar-nos com a Europa no seu todo ou com cada um dos estados membros? Se formos realistas e honestos verificaremos o nosso muito fraco desempenho.

Evolução do PIB português vs. PIB romeno e checo


A reciclagem pode revolucionar e alterar esta situação. Basta que saibamos fazer a gestão do setor de forma correta.

Quais os principais desafios no exercício desta atividade?
Enfrentamos desafios diários, mas acho que o problema é, na nossa perspetiva, a falta de simplificação de todos os procedimentos burocráticos associados à atividade. Não há simplificações reais, a modernização administrativa levada a efeito pelos diferentes executivos, teve um impacto reduzido na nossa atividade. Para nós, uma modernização administrativa é aquela que nos permite reduzir, drasticamente, o tempo despendido diariamente em atividades não diretamente produtivas. Um exemplo é o que se passa a nível dos licenciamentos das empresas. Se, por um lado, passou a ser possível submeter os pedidos numa plataforma digital, por outro lado, a simplificação administrativa a jusante, foi catastrófica. O Unilex, que pretendeu reunir toda a legislação aplicada ao licenciamento das empresas e à atividade de gestão de resíduos e reciclagem, resultou na junção não criteriosa de uma série de legislação que conduziu a maiores atrasos na emissão dos alvarás. A modernização administrativa aumentou a burocracia direta sobre as empresas. A Europa está no mau caminho quando produz uma quantidade de burocracia infindável e, muitas vezes, não fundamentada. Portugal tem um problema muito grave que é não priorizar a simplificação dessa burocracia relativamente à “plataformização” de tudo. O que a APOGER pretende é defender os interesses do setor defendendo os interesses do país.

Considera que há capacidade, por parte das entidades legisladoras, de reverter esta situação?
Tenho dúvidas. É necessário que as pessoas que gerem os ministérios tenham conhecimento profundo sobre as atividades dos “players” que os integram. Nós estamos num mundo altamente competitivo, já não podemos ter ministros e assessores que não saibam o que é o trabalho real. Portugal podia estar muito mais desenvolvido. Sem dúvida que nós, os OGR, poderíamos ter um maior peso no PIB, se toda a legislação ambiental, e a forma como é aplicada, fosse mais clara, mais simples e mais objetiva.

Que balanço faz destes dez anos e o que podemos esperar para o futuro da APOGER?
Pensar num operador de resíduos, atualmente, é pensar numa pessoa informada que atingiu um estatuto e um desenvolvimento intelectual e técnico que o inclui numa elite de empresários. Considero que a APOGER fez parte do caminho que conduziu a esta situação. Temos como objetivo continuar a contribuir para a evolução destes empresários, para o aumento da sua influência económica, do seu contributo para a empregabilidade altamente especializada, nomeadamente a nível do interior do país.

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