Ambitrevo: “Apostamos na Valorização Orgânica”
A Revista Business Portugal esteve à conversa com Luís Rosa, Diretor Técnico da Ambitrevo, Soluções Agrícolas e Ambientais, Lda., operador de gestão de resíduos orgânicos que, em entrevista, relembrou o percurso da empresa e revelou alguns dos projetos para o futuro.
O aumento da produção de resíduos orgânicos e de lamas de ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais), levou à necessidade de se encontrar soluções ambientalmente corretas, para o seu tratamento, nascendo assim a Ambitrevo, em 2007. “Naquela altura, a escassez de soluções, aliada a um crescimento exponencial na construção de ETAR’s em Portugal, que viriam a produzir mais lamas tratadas, ditou a necessidade de criação de soluções dedicadas. Foi por isso que surgiu a Ambitrevo, para fazer face a essa lacuna”. A empresa surge pela mão de Luís Rosa, juntamente com outros sócios, que já contavam com experiência na área de valorização agrícola de resíduos orgânicos, desde que esta teve início em Portugal. “Havia poucas empresas em Portugal a efetuarem o encaminhamento dessas lamas para o setor agrícola. Este pode ser feito de duas formas: a direta, em que as lamas, previamente tratadas, são encaminhadas diretamente da ETAR para terrenos agrícolas, sendo que neste caso é necessário obedecer a uma legislação específica, que prevê o cumprimento de determinados parâmetros, para salvaguarda do ambiente e da saúde pública. Por outro lado, as lamas de ETAR, conjuntamente com outros resíduos orgânicos, podem ser valorizadas em solos agrícolas, após o processo de compostagem, onde as lamas (e os restantes resíduos orgânicos) são sujeitas a um processo suplementar de tratamento, de estabilização e de higienização, para depois, já sob a forma de composto, serem encaminhadas para fertilização dos solos”.
O surgimento do decreto lei nº 276/2009, que veio alterar as regras do processo de valorização agrícola direta, ditou a obrigação legal dos operadores do setor possuírem uma plataforma de tratamento e/ou de armazenamento de lamas. Este facto levou a Ambitrevo para o patamar seguinte. A empresa, com uma forte ambição de crescimento sustentado e eficaz, avançou com a construção de uma plataforma de compostagem (CIVO – Centro Integrado de Valorização Orgânica), localizado em Agolada, Coruche, para fazer face à necessidade de armazenamento temporário e compostagem de lamas de ETAR e de outros resíduos orgânicos. “A construção da plataforma de compostagem veio alargar o leque de resíduos orgânicos e o leque de clientes da Ambitrevo porque, para além das lamas, passámos a receber, e a tratar, uma panóplia enorme de resíduos como frutas, legumes, ovos, pão, bolos, iogurtes, leites, resíduos de jardinagem, etc, em quantidades industriais”, explica-nos Luís Rosa. Desde então, a empresa diversificou o mercado e passou a produzir um composto que, desde início, fizeram questão que fosse de primeira qualidade – o Nutrifolium®.
“A Valorização Agrícola Direta de lamas tratadas de ETAR, é a solução ambiental, agronómica e economicamente mais vantajosa – pelo menos para já”
Segundo o Diretor Técnico da Ambitrevo, “os relatórios encomendados pela Comissão Europeia, o nosso Ministério do Ambiente, agrónomos, agricultores, e outros organismos, assumem que esta é uma extraordinária solução em termos agronómicos, económicos e ambientais”. Para além disso, e no caso concreto do nosso país, é uma excelente alternativa para fazer face ao problema que enfrentamos de rápida degradação da matéria orgânica e da consequente desertificação e erosão dos nossos solos. “Face às condições edafoclimáticas, somos dos países da Europa com a maior taxa de degradação da matéria orgânica, o que, aliado à intensificação do sector agrícola, recomenda sérias cautelas a este nível. Práticas culturais adequadas e uma política de promoção da Valorização da Matéria Orgânica, são urgentes e imprescindíveis, para preservarmos a capacidade produtiva dos nossos solos”.
As maiores dificuldades apontadas pelo entrevistado resultam da discricionariedade e desconhecimento por parte dos organismos oficiais da tutela, relativamente às mais valias deste recurso para o setor agrícola, que resultam num complexo e moroso processo de licenciamento. “Nos dias que correm, o tempo médio de espera pela aprovação do plano de gestão de lamas (PGL) é de dois a três anos. A burocracia e morosidade destes processos, totalmente incompatíveis com a dinâmica da produção e tratamento de lamas, dá origem a que apenas uma quantidade ínfima seja valorizada em solos agrícolas. Lamentamos que, desta forma, e em relação aos resíduos orgânicos em particular, o país caminhe em sentido inverso à tão apregoada Economia Circular, à Reciclagem e Valorização, e até mesmo às tendências e diretivas comunitárias. Obviamente que o sector terá a sua evolução natural, que só poderá ser progressiva, e não brusca, sob pena de assistirmos a maus resultados”.
“Atrevo-me a dizer que nenhuma empresa privada do país terá umas instalações com a capacidade e tecnologia como as nossas futuras instalações”
Em entrevista, Luís Rosa, revelou que face às dificuldades referidas anteriormente, o grande projeto da Ambitrevo para o futuro, passará pela ampliação do centro de compostagem que exploram em Coruche. “Vamos ter uma capacidade muito superior à atual e com um elevado nível tecnológico – tecnologia 4.0 – tecnologia de automação. Vamos ficar com um processo robusto e automatizado, sendo que a maior parte das máquinas que temos a gasóleo vão desaparecer da equação, para passarmos a contar com máquinas elétricas que, futuramente, serão alimentadas a energia solar. Pretendemos estar na linha da frente das soluções, e das tecnologias, para o tratamento desta tipologia de resíduos”.
Com data prevista de conclusão do projeto para o primeiro semestre do próximo ano, Luís Rosa confessa à Revista Business Portugal que já estão em cima da mesa planos para desenvolver um projeto semelhante no norte do país, zona onde existe maior escassez de soluções desta natureza. “O que existe é localizado e com pouca capacidade, o que faz com que atualmente não exista, naquela região, capacidade de resposta para as necessidades verificadas”. Com escritório aberto e atividade desenvolvida no norte do país há vários anos, Luís Rosa confessa já conhecer os sistemas, as pessoas, as ETAR’s e até mesmo a realidade agroflorestal. “Na zona norte apostámos muito na floresta. Equipámo-nos com máquinas e equipamentos específicos para aplicação de lamas em floresta. Para além dos resultados extraordinários, em termos agronómicos ambientais e económicos, a aplicação florestal consubstancia-se ainda como uma forma de promover a limpeza e gestão adequada do espaço florestal”, remata Luís Rosa.
Complementarmente à atividade de gestão de resíduos orgânicos, a Ambitrevo assume-se como a empresa de referência, na área de desidratação de lamas, através do sistema de Geotube®. A empresa tem vindo a utilizar esta tecnologia, em ETARs de lagonagem, de norte a sul do país, em empresas e sistemas de referência. E também nesta área tem vindo a implementar tecnologias de mais alto nível e equipamentos únicos.