Bluegrowth: Na defesa do coração do Planeta onde vivemos

Custódia Rebocho (CEO) foi a porta-voz da Bluegrowth para esta edição da Revista Business Portugal, numa conversa onde pudemos ficar a conhecer os principais desafios atuais com que esta entidade se tem deparado.

Apresente o seu percurso, nomeadamente, no que diz respeito ao seu interesse pelo mundo marinho, o qual a levou até à Bluegrowth.
O meu percurso encontra-se muito ligado à educação e ao gosto pela pesquisa. A par destas, e apesar da minha formação humanista, sempre senti um fascínio muito grande pelos temas da natureza. A minha adolescência foi marcada por leituras e programas televisivos alusivos ao mar, como Cousteau, por exemplo.
Lembro-me de nos anos 80, durante as férias de verão, fazer parte de uma equipa de limpeza das praias da Costa da Caparica, numa iniciativa da Câmara Municipal de Almada. Claro que, na altura, o que se pretendia era, sobretudo, uma praia limpa para os veraneantes. Todavia, tal fez crescer em mim uma consciência ecológica que mantive até hoje.

Acredita que é difícil ser mulher no universo dos negócios, principalmente, em cargos de chefia/administração? E quais os segredos para vingar?
Ser não é fácil, sejamos de que sexo formos… A sério, a questão de género quer nos negócios quer nos cargos de chefia, para mim, não é um problema, ou seja, não é porque sou mulher que sou menos considerada ou menos ouvida.
O peso do meu género verifica-se nas pequenas coisas do dia-a-dia, numa herança cultural pesada para as mulheres da minha geração e que nós assumimos com consciência, com alguma revolta e alguma resignação, há que dizê-lo. Refiro-me, concretamente, à gestão da vida doméstica e familiar, que continua a ser um desígnio feminino. Acho que esta situação já não encontra eco nas novas gerações!
Por isso, não creio que haja segredos nem receitas para vingar, baseados no género. Não acredito em receitas, acredito nas capacidades, na paixão, no brio profissional.

O que distingue a Bluegrowth neste universo de investigação e conhecimento sobre o mar e os seus recursos?
Distinguimo-nos pela empatia que geramos com os nossos clientes. O nosso processo de investigação assenta na procura de soluções para os seus constrangimentos, ineficiências, riscos e ambições. Essa é a força que nos faz ousar o desconhecido.
A Bluegrowth é uma empresa de engenharia com foco nas atividades económicas ligadas ao mar. Não separamos a componente tecnológica da componente humana. A simbiose entre inovação social e inovação tecnológica é uma das características do nosso ADN e que nos confere uma maior unicidade.
O mar é imenso, mas os seus recursos são finitos. O mar entrega saúde ao planeta, mas está doente. Aceitamos o desafio de estimular e apoiar o desenvolvimento das atividades económicas ligadas ao mar na certeza, porém, de que a proteção dos recursos não será secundarizada perante a emergência de desenvolvimento. A complexidade da Economia do Mar está nesta dualidade de sentimentos e preocupações.
Os novos paradigmas da transição energética, a escassez de recursos em terra firme e a emergência de uma crise alimentar estão, progressivamente, a pressionar o mar e os seus recursos. O surgir de novas atividades económicas e a de novos modelos de desenvolvimento económico estão a agudizar tensões que nem sempre se atenuam com a inovação tecnológica.
Somos uma empresa com competências multidisciplinares, que abarcam os campos das engenharias e das ciências sociais, e isso leva-nos para além da contemplação e dos orgulhos na nossa história.

Numa altura em que se fala tanto de sustentabilidade, quais são os reais problemas que a sociedade enfrenta no que diz respeito aos recursos marítimos?
A ignorância é a maior doença da humanidade! Tende a ser crónica quando infetada pelo vírus do populismo.
A bipolaridade com que a sociedade encara o mar tem criado uma espécie de livre trânsito para a depleção dos recursos marinhos, por se achar que são infinitos. Por exemplo, é muito comum, mesmo entre pessoas letradas, pensar-se que, pelo facto de o mar ser imenso, existe peixe por todo o lado. Não podemos estar mais longe da verdade. As pescas estão ameaçadas. A distância entre a escassez dos recursos e a falência social das comunidades piscatórias é tão curta quanto o momento em que nos aproximamos de uma crise de segurança alimentar.
Temos de apostar na criação de áreas marinhas protegidas ao mesmo tempo em que apostamos na aquicultura. Ambas as medidas têm de ser tomadas. Uma porque protege o recurso, permitindo que se regenere no contexto selvagem, a outra porque nos remete para um paradigma de “colher da natureza aquilo que nela semeamos”. Contudo, a sociedade está cada vez mais distante de paradigmas que procuram equilíbrios. Veja-se a forma como a aquicultura tem vindo a ser apontada. Há pessoas que comem porcos, aves, vacas, entre outros animais terrestres, criados em cativeiro e alimentados com rações, mas que recusam comer o peixe produzido em aquicultura. No que se refere ao conflito dos usos, estamos no mesmo patamar. Facilmente se apontam os impactos da aquicultura como uma ameaça ao turismo. Contudo, os impactos produzidos pela pressão imobiliária da hotelaria na orla costeira são esquecidos. Tão esquecidos quanto o espectro de destruição da indústria do turismo de cruzeiros. Todos os anos são relatados crimes ambientais sem precedentes relacionados com esta indústria.
Ainda assim, o cidadão comum aceita mais facilmente um navio de cruzeiro no seu porto do que uma jaula de aquicultura à frente da sua janela. Por isso, o risco de “ficarmos a ver passar navios” é, talvez, o maior problema que a sociedade poderá enfrentar.

A produção em aquacultura é vista como uma das soluções para a alimentação nos próximos anos. Como tal, qual a importância da monitorização dos ecossistemas, principalmente, na Madeira?
Os sentidos dos homens e o empirismo não funcionam em aquicultura. Num campo de pastagem, os nossos olhos podem constatar se há ou não há pasto, se os animais comem ou não, se os animais engordam ou não. Sinais de doença e contaminação podem ser observados a olho nu. Em aquicultura isso não acontece. O Homem depende de tecnologia para poder tomar decisões de modo a conseguir produzir sem destruir. A razão de ser da Bluegrowth está na capacidade de termos conseguido encontrar na robótica e nos sistemas de informação a resposta para as limitações do empirismo sobre a aquicultura.
Na Madeira, encontramos investidores responsáveis que querem fazer mais e melhor. Equipas competentes e dedicadas que trabalham em ciclos de melhoria contínua, procurando na tecnologia um recurso para melhorar aquilo que fazem no dia-a-dia.
É preciso ter consciência de que as condições naturais da Ilha da Madeira oferecem um contexto único para o desenvolvimento da aquicultura em Portugal. É muito importante que a capacidade produtiva da Ilha da Madeira seja incrementada sem alcançar os limites que a natureza nos dá para que a possamos transformar. A Bluegrowth tem a capacidade de responder a esse desígnio e isso faz com que estejamos fortemente empenhados em aprender e construir com este nosso parceiro insular.
Acreditamos que as condições naturais e o conhecimento científico, desenvolvido ao longo de duas décadas na Região Autónoma da Madeira, estarão na base de um modelo de desenvolvimento sustentável. Não queremos perder a oportunidade de fazer parte da construção deste caminho.
Por isso, colocamos todo o nosso conhecimento e tecnologias ao serviço daquele que entendemos como um dos principais desafios da Economia do Mar do Atlântico.
Os territórios insulares portugueses podem ser o epicentro da nova epopeia marítima portuguesa e o progresso não é indissociável dos avanços tecnológicos.

O que tem reservado a Bluegrowth para o futuro?
Queremos continuar a prosperar e a fazer com que os nossos clientes, fornecedores, parceiros e colaboradores prosperem. Queremos fazê-lo de forma inspiradora para aqueles que nos rodeiam.
Seremos sempre uma empresa de base científica, destinada à transformação digital do oceano. No entanto, a este instinto transformador temos de aliar um investimento na formação, educação e comunicação. O futuro da Economia do Mar está ameaçado pela iliteracia. O nosso futuro depende da nossa capacidade de combater essa ameaça.

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