477 anos a construir projetos para a comunidade
Fundada em 1551 a Misericórdia de Cascais serve a sua comunidade nas áreas da infância e terceira idade. Em entrevista à Revista Business Portugal, Isabel Bouças, Provedora da instituição, garante que o lema é construir projetos que acrescentem algo na vida de todos.
A Misericórdia de Cascais é uma instituição com um vasto património cultural que apesar de manter a sua matriz de intervenção inicial, preocupa-se em atualizar respostas sociais, de acordo com os problemas e desafios da sociedade. Nas palavras de Isabel Bouças, provedora da instituição, “se não trabalharmos de acordo com as necessidades, as instituições vão morrendo”. As instituições deste cariz têm, no seu entender, a obrigação de trabalhar de acordo com as necessidades que são muitas e variadas. A grande virtude de trabalhar neste projeto é, para a provedora, a capacidade de adequar e fazer melhor para que as pessoas sintam a mudança.
Aliada à paixão pelo trabalho que faz diariamente, une-se a sua ligação de muitos anos com a instituição que começou por ser como funcionária e diretora-geral, uma mais-valia no seu percurso como provedora. A responsabilidade de cuidar de 340 pessoas com deficiência, 700 idosos em lares e 1000 crianças em creche e infantário é imensa que só é conseguida pelos 700 funcionários “fantásticos”, a quem Isabel Bouças deixa rasgados elogios. “Trabalhar com e idosos e crianças é duro e casuístico porque “cada um teve a sua vida e história” fora da instituição. Adequar as respostas sociais, antecipar o diagnóstico, contribuir para uma sociedade mais inclusiva e utilizar adequadamente os recursos existentes para diminuir as carências das famílias é a base de tudo. “Estamos numa sociedade, por isso temos de lhe pertencer”.
Uma resposta social imprescindível
A Misericórdia de Cascais dispõe de vários serviços seniores com diferentes respostas sociais sempre com o objetivo de proporcionar respostas que os estimulem e respeitem a sua individualidade. Cuidado que se estende aos mais pequenos com estabelecimentos de educação de infância em ambientes que potenciem a curiosidade e a autonomia. Para Isabel Bouças trabalhar com crianças e jovens em risco é “fantástico” porque para além das histórias de vida incríveis que partilham, a instituição é, para muitos, “um salto para a vida”. Numa altura em que se começava a debater o problema do envelhecimento, a instituição foi pioneira na criação do centro de convívio. Alcançando um grande número de utentes, a instituição antecipou uma solução em sítios “inadequados, sem condições”. Um trabalho estimulante que obriga a fazer bem, garante Isabel Bouças. O apoio domiciliário é, também, uma resposta muito necessária para evitar a institucionalização, mas ainda estamos longe de estar organizados dessa maneira. A satisfação das necessidades básicas para promover uma qualidade de vida com conforto, autonomia, dignidade e bem-estar é transversal a todas as valências.
“É na equação de viver mais e melhor que temos de ajudar a construir”
A instituição valoriza as parcerias com a sociedade e a boa articulação com outras entidades. Fruto da sua experiência, Isabel Bouças acredita que a solução “não é duplicar, temos é que nos dividir para aumentar as respostas”. Apesar do seu passado tão sólido e estruturado, a Misericórdia ainda tem vários aspetos a melhorar, sendo o problema do envelhecimento um dos mais preocupantes, que se acentuou com a pandemia.
Neste momento estão em curso dois projetos que considera “fascinantes”. Em colaboração com a Câmara, o bairro social será reconstruído, um projeto de grande ambição que se fará acompanhar pelo programa de envelhecimento e rejuvenescimento da população que lá vive. Acresce o projeto de renovação e recuperação da Igreja. Dois projetos que ainda terão a responsabilidade de Isabel Bouças e que ditam “um fecho fantástico” para a provedora que deixa o repto de que a dinâmica da sociedade é diferente, as fronteiras estão esbatidas e, por isso, os projetos sociais nunca acabam. No seu terceiro e último mandato Isabel Bouças, defende que é tempo de renovar e dar espaço a novas ideias.