70 anos a moldar a excelência dos vinhos da Bairrada

Em conversa com Carlos Alberto Reis, conhecemos a Adega de Cantanhede que celebra 70 anos de história, evoluindo de uma pequena cooperativa local para o maior produtor da Bairrada. Com presença internacional e mais de 1300 prémios conquistados, a adega aposta na inovação e sustentabilidade, sem esquecer a tradição e qualidade que a distinguem.

 

Carlos Alberto Reis, Presidente

 

A Adega Cooperativa de Cantanhede celebra este ano o seu 70º aniversário. Olhando para trás, quais foram os momentos mais determinantes na trajetória da adega, e como conseguiram evoluir de uma pequena cooperativa para o principal produtor da Região da Bairrada?

Fundada em 1954 por um grupo de 100 viticultores, a Adega cresceu e congrega hoje cerca de 500 viticultores, representando uma área próxima dos 1000 ha. Cientes da qualidade dos nossos vinhos, nos anos 60 fomos a primeira Adega Cooperativa a nível nacional a engarrafar vinhos com a sua marca. Na década de 70 abrimos aos mercados internacionais, que representam hoje 30 % a 40% das vendas. A criação da Região Demarcada da Bairrada, em 1979, alavancou este percurso, e conduziu à apresentação em finais dos anos 80 de um portfólio alargado de vinhos e espumantes DOC Bairrada sob a marca Marquês de Marialva, hoje líder nacional de vendas nesta categoria. Na viragem do século, a afirmação nos mercados conduziu à necessidade de um forte investimento nas infraestruturas gerais, com significativas melhorias nas áreas de vinificação e produção. Os últimos 15 anos testemunham uma afirmativa consolidação de posição de mercado e de notoriedade nacional e internacional, tanto da Adega como das suas marcas.

A Adega de Cantanhede tem investido significativamente em tecnologia para garantir a qualidade e segurança alimentar dos seus vinhos. Como é que esse investimento tem impactado a capacidade de competir tanto a nível nacional como internacional? E que outros fatores diferenciadores destacaria em relação à concorrência?

Cedo percebemos que a qualidade dos vinhos e a certificação dos processos produtivos abriam portas, principalmente nos clientes do canal off-trade, tanto nacional como internacionalmente, sendo hoje certificados pelas normas ISO 9001 e IFS Food. Além disso, a nossa dimensão – representamos 30-40% da produção na Bairrada – permite-nos construir um portfólio que responde às necessidades dos diversos mercados, com vinhos que vão desde os comuns a vinhos premium que alavancam o nosso posicionamento de mercado enquanto produtor de grande dimensão.

A vossa estratégia sempre valorizou as castas tradicionais da Bairrada, como a Baga, Bical e Maria Gomes, mas também outras castas portuguesas. Qual tem sido o papel dessas castas na construção da identidade dos vossos vinhos? E como vê a sua evolução no mercado nos próximos anos?

A qualidade intrínseca dos nossos vinhos e o facto de sempre termos privilegiado as castas autóctones, afigura-se hoje como uma aposta ganha, pois, os mercados valorizam a distinção que elas aportam aos vinhos, razão pela qual acreditamos que este factor diferenciador nos continuará a abrir portas nos diversos mercados.

O reconhecimento da Adega de Cantanhede a nível internacional é inegável, com mais de 1300 prémios atribuídos. De que forma estes galardões têm influenciado o posicionamento da marca e quais são os próximos passos para manter e expandir essa notoriedade global?

A diversidade e qualidade do nosso portfólio tem sido amplamente aplaudida pela critica nacional e internacional, aportando um valor acrescido aos nossos vinhos e à própria Adega. Estes galardões são uma ferramenta importante na alavancagem do nosso posicionamento, mas, antes de tudo, o nosso foco é ter consumidores satisfeitos e fidelizados, o que só se alcança com qualidade sustentada, que no final traduz em vendas efectivas este reconhecimento dos opinion makers. A melhoria contínua dos processos da vinha à garrafa é o nosso desafio diário para manter e expandir essa notoriedade global.

 

 

 

Com 500 viticultores associados e uma produção anual significativa, como é que a adega gere a relação com os seus associados, garantindo a consistência e a qualidade do produto final? E de que forma a cooperativa tem contribuído para o desenvolvimento da comunidade local?

Associados e colaboradores somam quase 550 famílias do concelho de Cantanhede que tem um vínculo à Adega. É uma enorme responsabilidade social, que assumimos com total comprometimento. Mantemos uma relação de parceria com os nossos Viticultores nos trabalhos na vinha 12 meses por ano, através do nosso Departamento de Viticultura, para garantir que a uva que recebemos chega nas melhores condições e com qualidade, focados em criar riqueza ao manter a tradição da viticultura no concelho, promovendo-a e agregando-lhe valor, em respeito ao território e às suas gentes.

Olhando para o futuro, quais são os objetivos estratégicos da Adega de Cantanhede para a próxima década? Como é que pretendem continuar a inovar e a diferenciar-se, assegurando simultaneamente o respeito pela tradição e pelo terroir da Bairrada?

Consolidar parcerias e abrir novos mercados, atentos às tendências de consumo, particularmente nos consumidores jovens. Dinamizar a área do Enoturismo como ferramenta de promoção e fidelização. Os espumantes, uma categoria onde a região e Adega tem uma reconhecida notoriedade (fomos já por duas vezes Melhor Produtor de Espumantes a nível nacional), serão uma aposta forte, pois crescem de forma sustentada a nível mundial. A inovação passará essencialmente por novos perfis de vinho, ajustados às tendências de mercado, mas também à garantia de práticas ambientalmente sustentáveis, da vinha à garrafa, e tudo isto respeitando sempre a tradição e o terroir da Bairrada.

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