Carla Furtado: 15 anos ao serviço do Direito

Carla Furtado dedicou a sua vida profissional ao Direito e à advoacia. Optou pela prática individual, por sentir que, dessa forma, pode marcar a diferença. Saiba o porquê numa entrevista intimista com a advogada.

Carla Furtado, em que momento da sua vida decide enveredar pela área do Direito?

Ao transitar para o 10.º ano, colocou-se-me a questão de ter que optar por uma área de estudos, o que se afigurou um tanto difícil, uma vez que era muito boa aluna em todas as disciplinas. Na verdade, ainda hoje sou um pouco assim, tenho interesses ecléticos. A par da advocacia, também cultivo o gosto pela escrita da poesia, já publiquei e tenho um blogue (imitação da vida) que dedico ao universo das artes, sendo membro do Centro de Línguas e Literaturas Lusófonas e Europeias da Faculdade de Letras de Lisboa, o que muito me honra. Optei, então, por realizar um teste de aptidão vocacional (o que nem era muito frequente na altura), que demonstrou uma maior afinidade com as artes e humanidades, em particular, o Direito. Optei, assim, por esta área e vim a entrar, com muito boa média, na Faculdade de Direito de Coimbra.

Que balanço faz desta sua decisão?

Celebrei, precisamente, em abril deste ano, 15 anos de advocacia, o que é um marco. Quando olho para o caminho percorrido, observo dificuldades, mas, também, vitórias. Lutas travadas no silêncio do meu escritório, mas, que fizeram a diferença na vida de algumas pessoas para melhor, o que é gratificante. No essencial, encaro esta profissão com espírito de missão, buscando rigor e eficiência, vibro com os meus clientes na sua defesa e cada processo é uma aventura recheada de lágrimas e de sorrisos, sendo o balanço positivo.

Numa altura em que as sociedades de advogados são a prática mais comum, Carla Furtado opta pela prática individual. Porquê esta escolha?

Creio que a advocacia em prática individual continua a ser o tipo matricial do exercício da advocacia. Mesmo no nosso imaginário comum, o advogado continua a ser aquele profissional com quem o cliente se vai aconselhar, na privacidade de um escritório, expondo detalhadamente o seu problema, para obter uma análise clara e metódica da sua situação jurídica. O Tribunal é quase sempre a última escolha e também a mais difícil. E, quer na advocacia em prática individual, quer na advocacia inserida numa estrutura societária acaba por ser sempre a gestão legal, mas, também, emocional, do conflito, que nos é solicitada. Estou convicta, porém, de que a advocacia em prática individual está mais capacitada para a análise do problema não apenas com rigor técnico, como ainda com uma componente emocional que se reflecte na empatia para com o cliente, o que é extremamente difícil noutros contextos, em que a relação advogado/cliente sofre os inconvenientes de uma advocacia massificada e impessoal.

É uma mulher num mundo de homens ou essa realidade não acontece na advocacia?

A mulher de hoje em dia, numa sociedade democrática como a nossa, está presente em todos os setores e o Direito não é exceção. Na sede judicial, nunca senti quaisquer atitudes discriminatórias. Já o mesmo não poderei dizer quanto ao mercado de trabalho pois, culturalmente, ainda se observa uma franja significativa de pessoas que escolhem o seu advogado consoante seja homem ou mulher, sendo que, tendencialmente, os homens preferem procurar advogados e as senhoras preferem procurar advogadas. Não é propriamente negativo, é apenas um facto que constato. Por outro lado, há ainda sérias dificuldades no exercício de uma advocacia no feminino no que concerne, por exemplo, à maternidade. Urge olhar com profundidade para este problema a fim de se encontrar uma solução que se adeque à própria Constituição, a qual prevê especial proteção às mulheres, durante a gravidez e após o parto. Nesta medida, não se pode dizer que exista uma salvaguarda plena dos direitos da mulher enquanto advogada.

‘Liderar no feminino’ é um dos temas que abordamos nesta edição. É mais fácil ser-se uma mulher empresária ou a trabalhar em nome próprio em Portugal? Como tem visto esta evolução?

A mulher empresária já não é um mito, mas, uma realidade muito concreta e tangível. Tal como o homem, desde que devidamente preparada para a missão que queira desempenhar, nomeadamente, no mundo empresarial, a mulher é apta a exercer qualquer atividade que se coadune com a sua formação, ambição e vocação.

Por onde passa o seu futuro enquanto profissional?

A advocacia é, de facto, a profissão que tenho abraçado, e que encaro com espírito de missão, sendo muito útil à sociedade quando exercida com equilíbrio. A sociedade reivindica muito da advocacia, embora nem sempre da melhor forma, mas, trata-se de reconhecer, afinal, o quão imperiosa é para uma sociedade digna e democrática, uma advocacia íntegra e comprometida com o seu progresso. É nesta perspetiva que desejo continuar a exercer a advocacia, defendendo as causas que considero justas.

 

 

 

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