Uma visão da saúde oral e da medicina oral do sono

O Dr. Fernando Martins, Médico Especialista em Estomatologia e Ortodontia, Master em Medicina Oral do Sono, faz uma abordagem pluridisciplinar da saúde oral em Portugal.

 

 

Dr. Fernando Martins, Médico Estomatologista Ex-Assistente do Instituto Egas Moniz Ex-Consultor da PT-ACS Ex-Coordenador da Unidade de Saúde Oral dos SAMS do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas

 

Celebrou-se no dia 20 de Março o Dia Mundial da Saúde Oral. Nunca é demais realçar a importância de uma imprescindível boa saúde oral, pois que, como diz o povo, “a saúde começa na boca”. Importa por isso evidenciar a importância da Estomatologia no que tem sido e continua a ser como especialidade médico-cirúrgica, que se dedica à investigação, estudo, diagnóstico, profilaxia e tratamento das doenças que afetam a boca e toda a região facial, correlacionando-as com as restantes doenças eventualmente existentes no organismo.

Inclui as alterações e malformações da face, funcionais ou patológicas, orais e maxilares, de origem inflamatória, infeciosa, traumática, genética ou tumoral, incluindo as glândulas salivares e as doenças das articulações temporo-mandibulares.

Foi a primeira especialidade médica criada em Portugal, a 26 de maio de 1911, introduzida no ensino médico em 1916 e a primeira especialidade médica portuguesa a constituir uma sociedade científica, a Sociedade Portuguesa de Estomatologia, a 21 de junho de 1919.

Sendo as doenças da cavidade oral as mais prevalentes na espécie humana, o número de Estomatologistas sempre foi insuficiente para a prestação de cuidados diferenciados de saúde oral convenientes para toda a população. Isso levou a que nos anos 60 do século passado alguns Médicos Estomatologistas se unissem para criar as Escolas Superiores de Medicina Dentária possibilitando a formação de Médicos-Dentistas.

A Estomatologia, tem a seu cargo a atividade assistencial diferenciada e muito especializada na rede hospitalar do Serviço Nacional de Saúde. Existem atualmente 27 serviços de Estomatologia nos hospitais de norte a sul e ilhas. Existem 584 Médicos de Estomatologia e nos últimos anos as vagas abertas para a obtenção do grau de Especialista têm sido completamente ocupadas, estando em formação 47 novos especialistas. Cabe aos Serviços de Estomatologia a prestação de cuidados de saúde oral diferenciados para patologias menos comuns ou para a prestação de cuidados de saúde oral a populações mais carenciadas. Um exemplo recente é a atividade desenvolvida pelo Serviço de Estomatologia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, no tratamento de doentes muito complexos e difíceis cujos casos foram recentemente amplamente divulgados pelos meios de comunicação social.

Celebrou-se este 15 de Março o Dia Mundial do Sono. Importa, por isso, realçar o contributo que a Estomatologia pode dar à prevenção e tratamento da doença do sono mais frequente, a Apneia Obstrutiva. Trata-se de uma situação insuficientemente diagnosticada e tratada, muito frequente, que surge na sequência de obstrução à normal passagem de ar quando respiramos durante o sono.

Cientes da importância desta patologia fundamos com outros colegas em 2010 a Sociedade Portuguesa de Medicina Oral do Sono, reconhecida e afiliada da European Academy of Dental Sleep Medicine, aberta a Médicos Estomatologistas, Médicos-Dentistas e outros que se dediquem a esta área da Medicina.

 

 

Foi a Sociedade, na pessoa dos seus fundadores, que deu origem às consultas pioneiras e institucionais de Medicina Oral do Sono atualmente existentes em Lisboa, no Serviço de Estomatologia do Hospital de Santa Maria e no Departamento de Saúde Oral dos SAMS do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas. Esta última consulta foi implementada por minha proposta e orientação, enquanto Coordenador, à época, do departamento.

Como anteriormente explanado é uma situação muito frequente, geralmente desvalorizada, mas com graves repercussões na saúde geral, na qualidade de vida do paciente e na potenciação da possibilidade de graves acidentes, quer rodoviários quer profissionais.

Relativamente às repercussões na saúde geral é de salientar que a Apneia Obstrutiva pode desenvolver ou agravar situações de Hipertensão Arterial, Insuficiência Cardíaca, Arritmias, AVC, dores de cabeça frequentes e diminuição da libido com impotência sexual, por exemplo.

É comum considerar-se que o “simples” ressonar é normal. Trata-se do primeiro sinal da existência de uma obstrução à normal ventilação durante o sono e não tem nada de normal nem de simples e por isso deve ser tratado. O ressonar, para além do incomodo a quem ouve, promove micro interrupções na progressão das fases do sono que, não sendo suficientes para despertar o paciente, não possibilitam, no entanto, chegar ao sono profundo necessário para proporcionar o devido repouso. Acorda-se cansado, com dor de cabeça, impaciência, sonolência diurna e com diminuição das capacidades laborais.

São, portanto, situações que obrigatoriamente devem ser identificadas, diagnosticadas e tratadas. O Médico Estomatologista tem ao seu dispor a utilização de Dispositivos de Avanço Mandibular (DAM) para tratamento da Roncopatia e da Apneia Obstrutiva leve, que não tem indicação para tratamento com aparelho de pressão positiva (CPAP). A finalidade é não só o tratamento, mas também evitar a evolução para formas mais graves de Apneia Obstrutiva que obriguem a tratamento com CPAP. Este dispositivo promove o avanço do maxilar inferior e por arrastamento a língua, provocando a abertura da via aérea e facilitando a passagem do ar nos movimentos respiratórios. São muito publicitados na internet com promessas de curas mais ou menos milagrosas que importa desmistificar, por não serem os adequados. Tratando-se de um dispositivo médico tem indicações e contraindicações que necessitam ser avaliadas. Necessita de ser adaptado perfeitamente às arcadas dentárias do paciente, para não se soltar durante a noite e ser confortável. Deve ser ajustável na sua abertura e avanço mandibular para se poder obter o máximo efeito com o menor incómodo possível. Obviamente só se conseguem estes efeitos com dispositivos personalizados e com acompanhamento médico. Os que temos em utilização cumprem esses objetivos.

Tão importante ou mais que o tratamento é a prevenção, e essa necessita ser feita logo em criança. Importa diagnosticar as situações de respiração oral, que não é correta. A criança necessita de ter uma respiração nasal. Só isso possibilita um normal desenvolvimento do maxilar superior. Aqui pode ser necessário ter o contributo dos Médicos Alergologistas, Pediatras e Otorrinolaringologistas. Pelo nosso lado, temos a possibilidade de implementar diversos tratamentos com aparelhos ortodônticos, para corrigir as alterações que podem levar a dificuldades ventilatórias, que se agravarão seguramente em idade adulta.

Mais informação em: www.drfernandomartins.com

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