Uma mão cheia de soluções para o sector agrícola

Carlos Gabirro, CEO da Biostasia

Carlos Gabirro, CEO da Biostasia, em entrevista à Business Portugal, explica o trabalho que tem sido desenvolvido por esta organização que vê na inovação tecnológica a melhor ferramenta para dar resposta aos desafios enfrentados por alguns profissionais, nomeadamente, do sector agrícola.

A Biostasia deu início à sua atividade em 2004 e, hoje, apresenta-se como uma empresa em constante evolução e desenvolvimento, que faz uma forte aposta na inovação e tecnologia. Que balanço faz destes 18 anos de história?
São 18 “longos” anos! Felizmente, depois da crise tem sido sempre um caminho de crescimento e desenvolvimento. Hoje o balanço que faço é extremamente positivo, foi um percurso que implicou bastante esforço e no qual tivemos que aprender a lidar com algumas contrariedades e saber aceitar cada momento.
Abrir o caminho, mudar mentalidades e ser uma empresa 100% portuguesa é, sem dúvida, uma dificuldade acrescida!
Desde sempre, a nossa estratégia passa por especializar-nos em nichos de mercado com o objetivo de encontrar soluções que façam face a determinadas pragas/doenças que vão surgindo e afetando os vários sectores da sociedade.
No que diz respeito à área de atuação, abrangemos vários domínios, no entanto, nos últimos anos, aliámos a tecnologia à inovação e temos desenvolvidos produtos especialmente focados no controlo de pragas urbanas e agrícolas e na agricultura ecológica sempre em modo resíduo zero.

Ao longo do seu percurso, a Biostasia foi adaptando o seu core business às necessidades do mercado. Foi neste sentido que deixou de ser uma empresa de projetos e serviços, passando a centrar-se na inovação e desenvolvimento?
Sim. Inicialmente, eramos uma empresa de projetos e serviços na área da engenharia, mas a crise fez-nos repensar e direcionámo-nos para a inovação. Hoje somos BIOSTASIA – Inovação e Desenvolvimento, Lda, focamo-nos na investigação e desenvolvimento de produtos e serviços especializados e somos certificados pela Qualidade – ISO 9001.

O departamento de Investigação da Biostasia procura encontrar o equilíbrio entre a natureza e a necessidade humana. A base da sua atuação assenta nos pressupostos de resíduo zero e no mínimo impacto ambiental?
Sim, sem dúvida. Todos os nossos produtos são desenvolvidos para o modo resíduo zero, por forma a encontrar o equilíbrio entre a natureza e a realidade humana. É um “longo” caminho que temos vindo a abrir e a desenvolver. Fazemos ensaios constantes e apresentamos os nossos resultados que confirmam que é possível ter soluções mais sustentáveis seja ambiental ou financeiramente falando.

Caracterizada por ser uma empresa ecológica e por criar produtos e prestar serviços biológicos, a Biostasia tem um conjunto de novos produtos desenvolvidos internamente. Fale-nos desses produtos e da sua aplicabilidade?
Nos últimos seis meses, já lançámos vários produtos, alguns estavam na gaveta há anos, mas com as novas diretrizes europeias que focam a necessidade de redução dos químicos para um ambiente mais sustentável sentimos um crescimento na procura das nossas soluções.
Já os oito produtos que lançamos este ano, tiveram o seu lançamento antecipado para fazer face às necessidades emergentes no mercado, pois estão relacionados com a sustentabilidade das plantas em período de seca (como o que atravessamos).
No global e em especial para o sector agrícola, temos uma gama de produtos, modéstia à parte, muito variada e completa. Relativamente à fertilização (Biogrowth), trabalhamos essencialmente com as novas tecnologias, ou seja, temos uma ferramenta em que as plantas absorvem os nutrientes como se absorvessem água. Trata-se de um processo extremamente veloz sendo, por vezes, uma questão de minutos. No que diz respeito à linha de proteção (BProtect), feita em laboratório, vai desde extratos de plantas a microrganismos, montagem de armadilhas através das tecnologias, entre outros.
Este ano pretendemos também lançar uma nova solução para o controlo de anfíbios em meios urbanos. E, ainda fazer crescer a gama de produtos PET Care que criámos em 2020 para os animais domésticos (cão e gato).

A empresa tem em mãos diversos projetos, entre os quais, a “Lagarta do Pinheiro”. Em que consiste este projeto e quais as suas características?
Após termos começado a desenvolver o projeto “Lagarta do Pinheiro”, chegamos à conclusão de que apesar de existir imensa informação, pouco se conhecia até então. Quando agrupámos os dados da nossa primeira análise, percebemos que a realidade era bem distinta daquela que se comunicava no mercado.
Embora existissem vários profissionais a perceber de insetos e a explicar como é que funcionava o ciclo da lagarta ou como se desenvolvia o pinheiro, foi quando a Biostasia se debruçou sobre estas questões, agarrou nos dados e os colocou em prática, através do relatório preliminar efetuado em 2019 com uma amostra de 5000 espécies, que chegou à conclusão que a lagarta do pinheiro é um processo que conseguimos controlar através da microinjeção com taxas de sucesso acima de 95% se o processo for feito no final dos meses de agosto, setembro e outubro. No mês de novembro, deveríamos ter os mesmos resultados. Porém, estes desceram para 85% e isto está relacionado com as propriedades da própria planta. Todo este trabalho desenvolvido é a prova viva de que, mesmo quando temos taxas de sucesso elevadas, procuramos ir mais além. De referir ainda que, apesar do nosso trabalho passar por encontrar soluções, isto não chega. Urge sensibilizar as pessoas. Os nossos resultados são, na sua grande maioria, muito bons, mas quando os complementamos com campanhas para alertar os cidadãos para determinadas realidades, nomeadamente nas escolas, é nesse exato momento que sentimos que a nossa missão foi bem-sucedida.

Em relação ao futuro, que objetivos e ambições pretendem alcançar para que a empresa continue a ser reconhecida como inovadora e com um produto tecnológico?
Vamos continuar a trabalhar no sentido de aliar a inovação tecnológica ao equilíbrio ambiental satisfazendo as várias necessidades no meio urbano e agrícola. No curto prazo, fixámo-nos na Zona Oeste e aceitámos o desafio de encontrar uma solução para a bactéria de quarentena Erwinia amylovora, esta é responsável pela doença vulgarmente designada por fogo bacteriano que pode afetar fruteiras e ornamentais da família das rosáceas, nomeadamente pereiras, macieiras e marmeleiros. Esta bactéria sobrevive nos tecidos vegetais levando à morte das plantas e podendo destruir vastas áreas de pomar.  É, na zona Oeste que se concentra a produção de Pera Rocha (DOP), uma variedade só produzida em Portugal e exportada para todo o mundo. Temos três ensaios em curso e uma elevada expetativa para o controlo desta doença.
Abrimos a loja no Cadaval, direcionada exclusivamente para os agricultores com o conceito de resíduo zero e tendo já por base os pressupostos da União Europeia que terão início em 2023 seja para a agricultura tradicional e ecológica. No local também temos um técnico que acompanha e esclarece os produtores seja sobre os produtos ou sua aplicabilidade ou sobre as doenças e pragas.

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