Restaurante Mar Salgado: A futura referência gastronómica de Monte Gordo

Teresa Calvinho recebe-nos nervosa, mas quando começa a falar do seu projeto, os olhos enchem-se de alegria e brilho. O restaurante Mar Salgado é recente – completa um ano dia 27 de junho – mas a experiência em restauração e, em particular, naquele local da praia, vem desde muito jovem: “Existia aqui um restaurante chamado Contreiras, que era um sucesso quando eu era pequena. O dono da concessão – que tinha arrendado o restaurante – conhecia a minha família e foi-nos dando trabalho, sempre que podia. Éramos sete irmãos e eu fui trabalhar para ele com nove anos. O meu irmão Paulo era pouco mais velho que eu e também foi – ele foi para a praia e eu fiquei a trabalhar nos balneários. A minha função era receber o dinheiro da utilização dos chuveiros e dos produtos de banho”. Dos 12 aos 19 anos foi trabalhar num minibar, criado especificamente para Teresa Calvinho – inicialmente só vendia água e gelados, mas com o sucesso do projeto, Teresa acabou a vender sumos, imperial, hambúrgueres e tostas a quem vinha da praia: “Faziam fila para comer um snack no minibar do Contreiras. Aos 19 anos terminei os estudos e fui trabalhar para a área dos Recursos Humanos de uma cadeia de hotéis e acabei por não poder voltar a trabalhar a tempo inteiro ali. A restauração terminou, para mim, em 1992 ou, pelo menos, aquela primeira fase”.
Em 2009, Teresa havia de regressar à restauração, por intermédio do seu irmão, Paulo Calvinho: “O Paulo veio ter comigo porque o filho do fundador do restaurante Contreiras lhe tinha feito uma proposta de arrendamento do espaço. O Paulo queria avançar com o projeto, mas como sempre tinha ficado na parte da concessão da praia – insufláveis, cadeiras, desportos náuticos – sabia que eu estaria mais à vontade para cuidar do restaurante. Eu aceitei o desafio”.

Do Contreiras ao Mar Salgado
Quando assumiu o projeto, Teresa Calvinho encontrou um restaurante cuja qualidade e fama se tinham perdido no tempo: “O Contreiras estava descaracterizado. As pessoas já não olhavam para aquele espaço com o respeito que ele tinha granjeado, ao longo dos anos. Assim, o primeiro grande desafio era limpar a imagem do restaurante”.
Para isso, Teresa apostou na renovação do espaço e na qualidade da matéria-prima: “Começámos imediatamente a apostar na qualidade dos ingredientes que comprávamos. A comida tinha de voltar a ser o ponto alto daquele restaurante, mas o próprio espaço estava a precisar de obras e de uma requalificação. Eu fui fazendo o que podia, nomeadamente comprando cortinados coloridos, substituindo as mesas de plástico por outras de outro estilo e até os próprios empregados de mesa viram o seu uniforme clássico – calça preta e camisa branca – ser substituído por uns corsários e polos, para passarem uma imagem mais descontraída e condizente com a localização do espaço”.
Não foi fácil, mas Teresa e Paulo Calvinho conseguiram colocar novamente o restaurante a funcionar. Em 2016, surgiu a oportunidade de adquirir o espaço da concessão e assim fizeram. Foi também a partir daí que se impôs a remodelação do espaço: “Tivemos de fazer um investimento grande, mas era absolutamente fundamental que o fizéssemos. O restaurante precisava e eu aproveitei esse momento para fazer um espaço exatamente à minha imagem”.
De facto, o Mar Salgado é diferente de todos os restaurantes de praia. Com duas salas claramente distintas, ainda que possa tornar-se um espaço único, este restaurante dispõe de uma esplanada, com cadeiras confortáveis, de braços e assentos largos, para quem está sentado poder desfrutar ao máximo da vista de praia, sem sentir pressa em ir embora. Mesas de madeira e pequenos apontamentos de cor, como velas e flores, enfeitam as mesas e animam o espaço, marcado pelos símbolos da história da região, nomeadamente fotografias de outras épocas, que documentam alguns momentos, espaços ou tradições icónicas de Vila Real santo António e Monte Gordo.
A sala interior tem uma decoração totalmente diferente. Em tons de bege e verde, o espaço faz lembrar elementos naturais, transmitindo leveza e bem-estar a quem entra. Com muita luz e com a madeira a ser novamente o material de eleição para as mesas e cadeiras, esta sala é confortável e acolhedora: “Procurei trazer para esta sala o meu conceito. No fundo, queria que tudo combinasse com tudo. Mais uma vez, uma das preocupações fundamentais foi o conforto das cadeiras”.

Um espaço cultural
O restaurante Mar Salgado pretende ser mais do que um simples restaurante. Teresa Calvinho assume que quer tornar este local uma referência em Monte Gordo, mas isso não se cinge à comida: “Dou muito valor à cultura e, quando abri o restaurante, fi-lo com a certeza de que tudo teria o seu lugar. O próprio nome – Mar Salgado – foi escolhido porque queríamos ter uma referência ao mar, mas também a algo português e surgiu o poema de Fernando Pessoa, cujo título é Mar Salgado. Inclui o poema na nossa esplanada, bem como em todas as ementas, mesmo aquelas que são para estrangeiros, onde o poema se encontra traduzido”.
A juntar a isso, o restaurante recebe regularmente bandas e artistas da região e do país: “Queremos ser um local onde os artistas queiram vir. Neste momento, já começamos a ter quem venha de longe para cantar aqui. Funcionamos como casa de apresentação de novos artistas e já começam a reconhecer-nos esse mérito”.
Os produtos portugueses estão também em destaque. Teresa Calvinho valoriza tudo o que é nacional e de qualidade: “No caso dos vinhos, temos apenas vinho português, das diversas regiões do país, incluindo o Algarve. As caipirinhas e mojitos são feitos com rum da Madeira, em vez da tradicional cachaça e tenho licores produzidos no Norte do país, com versos de Luís de Camões e Fernando Pessoa nos rótulos. Gosto de valorizar o que é português e, sobretudo, de dar a conhecer o que temos de bom. Faço questão de mostrar e explicar isto aos nossos clientes estrangeiros e mesmo aos portugueses que nos visitam”.

A comida é uma arte
A comida é soberba. Cada prato é preparado ao momento com muito amor e carinho pela equipa chefiada por Pedro Amorim, um chef brasileiro, uma aposta ganha, que chegou a Portugal recentemente e descobriu no Mar Salgado um projeto com que se identificou inteiramente: “Todos os produtos são o mais tradicionais possível e só vem de fora aquilo que não conseguimos encontrar aqui. Só depois do verão é que conseguimos analisar a ementa e preocupar-nos em adaptá-la. Durante a época alta as minhas preocupações foram organizar o pessoal na cozinha e ser eficaz no serviço ao cliente”.
Depois da renovação da carta, esta apresenta dois pratos de carne – Black Angus e Angus, ambas carnes caracterizadas pela sua maciez e gordura saudável, servidas acompanhadas de migas e batata-doce frita, um mexilhão com molho especial e feijoada à brasileira, com verdadeira carne seca, que o próprio chef prepara: “Este é um prato de fim de semana, mas é fundamental para se destacar na carta. Por outro lado, temos o bife à Mar Salgado, picanha, o Mar à Mesa, a cataplana de marisco, entre outros.
No que respeita a sobremesas, os doces tradicionais também se destacam e a sobremesa mais desejada é um mini pão-de-ló com uma bola de gelado caseiro nacional.
Com um terraço fantástico, uma vista desafogada sobre a praia e excelentes cocktails, o Mar Salgado é um restaurante e beach bar com muito charme. Sem se identificar com a ideia de requinte, Teresa Calvinho quer que o seu restaurante seja conhecido pela elegância, pela comida deliciosa com apresentação com arte e pelo bem-receber da sua equipa. A uma só voz, no Mar Salgado todos trabalham para o bem-estar do cliente, muito em breve, este espaço vai ser conhecido como a referência gastronómica de Monte Gordo.
Passe por lá!

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