“Que nenhuma mulher duvide das suas capacidades”

A Rodoviária do Tejo, com décadas de história, é o foco da conversa com Sónia Ferreira, Administradora, que discute a evolução e expansão da empresa e o papel das mulheres na indústria de transporte.

Sónia Ferreira, Administradora

A Rodoviária do Tejo tem uma longa história que remonta a 1860. Quais as principais fases de evolução da empresa desde a sua fundação?

A Rodoviária do Tejo (RT), é herdeira de um legado histórico muito rico que tem na sua génese a empresa João Claras & Cª (Irmãos), mais tarde (1932) Claras – Transportes, S.A.R.L, empresa esta que foi incorporando um conjunto de pequenas e grandes sociedades, algumas das quais muito relevantes, nos distritos de Santarém, Leiria, Castelo Branco, Portalegre e Lisboa , tais como Capristano & Ferreira, nas Caldas da Rainha, a União Automóvel Leiriense, em Leiria ou a Empresa de Viação Scalabitana, em Santarém. Este crescimento empresarial levou a que, aquando do 25 de abril de 1974, o Grupo Claras fosse um dos dois grandes Grupos de transportes existentes em Portugal, facto que veio a ser determinante para um dos marcos históricos mais relevantes, a Nacionalização.  Ocorrida em junho de 1974, a nacionalização que absorveu esta e outras grandes empresas de transportes, veio a dar origem à Rodoviária Nacional, EP. Para a estrutura organizativa desta empresa, foram definidos Centros de Exploração por região, passando esta região a ser identificada como CEP 04. Após um período conturbado na história política, económica e social do país, veio a ser decida a privatização do setor empresarial do Estado, o que levou à constituição da Rodoviária do Tejo SA, em 1991, como primeiro passo para a sua reprivatização, o que veio a ocorrer em outubro de 1993, constituindo este mais um dos factos históricos determinantes para o que é hoje a RT. No período pós-privatização, salienta-se a alteração de estrutura acionista ocorrida em 2001, que impulsionou uma nova estratégia e forma de atuação diferenciada que conduziu a empresa até aos nossos dias, provendo a sua modernização e sustentabilidade financeira. Atualmente, estamos a viver um dos factos mais relevantes da história recente da empresa e do setor: a alteração de modelo de mercado determinada pela Lei 52/2015, em que, todos os serviços públicos de transportes rodoviários de passageiros, deverão ser colocados ao mercado concorrencial, nos moldes determinados pelo Código da Contratação Pública. Para a RT, este facto é simultaneamente uma oportunidade e uma ameaça, podendo vir a ser um fator de alteração significativa (positiva ou negativa) na dimensão e área de atuação da empresa.

A empresa passou por uma diversificação de serviços ao longo dos anos. Como a empresa aborda a gestão dos diferentes serviços para atender às necessidades dos clientes de forma eficaz?

Cada serviço tem a sua especificidade, quer no que respeita ao tipo de necessidades e expectativas dos clientes, à forma de execução do serviço ou ainda ao normativo legal a cumprir, não deixando, no entanto, de existir sinergias entre os vários segmentos de negócio. O conhecimento e experiência que as nossas equipas possuem permitem uma abordagem diferenciada para cada tipo de serviço, atendendo à frequência necessária, percurso, horário, tipo de frota a utilizar e ao perfil de RH mais adequado. Não obstante, para o serviço público regular, temos hoje uma menor autonomia. A oferta de serviços disponibilizados à população, depende agora exclusivamente do que cada Autoridade de Transporte está disponível para autorizar ou contratar.

A Rodoviária do Tejo estabeleceu unidades operacionais em várias regiões, incluindo Torres Novas, Leiria, Santarém e Caldas da Rainha. Como a empresa mantém uma cultura de proximidade com os clientes em todas as áreas geográficas?

A organização da empresa em áreas operacionais, teve esse mesmo objetivo, primeiro como Direções Operacionais e, posteriormente, como empresas participadas a 100% pela RT. Com esta divisão em Unidades Operacionais foi possível promover uma maior proximidade, nomeadamente ao nível da gestão de topo e, simultaneamente, uma maior identificação com as necessidades e características de cada região. Como a empresa opera em regiões bastante distintas, em especial no que concerne à sua demografia e características socioeconómicas, esta proximidade é muito importante para a tomada de conhecimento, direta ou indireta, das preocupações dos responsáveis locais e das populações no que respeita ao serviço público de transporte, tendo sempre como objetivo prestação de um serviço de qualidade.

A Sónia é um exemplo de liderança feminina. Como vê o papel das mulheres na indústria de transporte e o que a Rodoviária do Tejo faz para promover a igualdade de género?

É uma realidade que a indústria de transporte é ainda muito “masculina”! Não obstante, existem exceções e a Rodoviária do Tejo e o grupo onde esta se insere (Grupo Barraqueiro) são exemplo disso onde, há já vários anos, existem mulheres na sua gestão de topo ao nível de Administração e de Direção. O facto de muitas empresas do sector terem cariz exclusivamente familiar, poderá ser um fator impulsionador desta realidade. Não penso que tenha de se fazer algo de diferente para promover a igualdade de género, basta que se reconheça o mérito de cada um, independente se é homem ou mulher. Num outro nível, o que é necessário é que existam condições adequadas para cada tipo de pessoa/função. Por exemplo, nós temos várias mulheres a exercer a função de motorista (a primeira foi admitida em 2001!), tendo sido necessário adaptar as instalações sanitárias, pois até aí só existia um tipo! Dar conselhos é sempre algo delicado! O que posso dizer é que, saber ser e saber estar, empatia e assertividade, resiliência e determinação, trabalho e profissionalismo são elementos fundamentais para qualquer liderança de sucesso, seja em que contexto for. Não obstante, neste mundo ainda tão desigual para as lideranças, a liderança no feminino é identificada com uma inegável marca própria – uma maior sensibilidade na gestão. Talvez por terem sido ensinadas desde cedo, a liderar os filhos, a casa e a família, as mulheres são mais flexíveis, mas também mais persuasivas conseguindo quase sempre uma liderança mais inclusiva. Longe vai o tempo em que, para crescer na carreira, as mulheres tinham de se portar e agir como um homem. Que nenhuma mulher duvide das suas capacidades é o único conselho que me atrevo a partilhar.

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