Promover um estilo de vida saudável com controlo de todos os fatores de risco

Prof. Dr. Pedro Monteiro Cardiologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra Professor Auxiliar de Cardiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

A fibrilhação auricular (FA) é a arritmia cardíaca mais comum, traduzindo-se por um batimento cardíaco irregular, que frequentemente provocar mal-estar e palpitações; porém, muitas vezes, os doentes com FA são assintomáticos, o que pode atrasar o diagnóstico. Em Portugal, estima-se que 1 em cada 40 adultos sofra de FA, sendo que a probabilidade de se apresentar FA aumenta com a idade, atingindo 1 em cada 11 pessoas com mais de 65 anos. Na FA, as duas câmaras superiores do coração (aurículas) não contraem correctamente para bombear o sangue para as câmaras inferiores, os ventrículos. Como resultado, o sangue pode ficar estagnado na aurícula e formar um coágulo. Estes coágulos podem soltar-se, sair do coração através da corrente sanguínea e deslocarem-se para o cérebro, bloqueando o fluxo de sangue e causando um acidente vascular cerebral (AVC), ou podem deslocar-se para outras partes do corpo, causando um embolismo sistémico.
A FA é mais comum em pessoas com hipertensão arterial, doenças cardíacas, excesso de peso, diabetes, colesterol elevado e em fumadores. Evitar estes fatores de risco parece ser a melhor forma de prevenir a FA, a qual pode ser detetada pela palpação de um pulso irregular ou, em casos suspeitos, pela realização de exames simples como o ECG ou, se a arritmia condicionada pela FA for intermitente, através de um registo electrocardiográfico mais prolongado (também denominado Holter de 24 horas).
O AVC continua a ser a principal causa de morte em Portugal e os doentes com FA apresentam um risco três a cinco vezes superior de desenvolver um AVC isquémico, sendo que 14 por cento dos doentes com FA já tiveram um AVC. Nestes doentes o AVC apresenta uma maior gravidade, estando associado a um aumento de 7 por cento na mortalidade.
Neste contexto, a forma mais eficaz de reduzir o risco de AVC isquémico, em doentes com FA, é através de medicamentos anticoagulantes orais, os quais impedem a formação dos coágulos no sistema sanguíneo e, desta forma, também o AVC. Nos doentes com alto risco hemorrágico que não podem fazer anticoagulação oral, a alternativa passa por encerrar a zona do coração que habitualmente produz os coágulos nos doentes com FA, o apêndice auricular esquerdo.
Em resultado das inovações na prevenção do AVC no contexto da FA, tem-se assistido nos últimos anos a um aumento do uso de anticoagulação oral nestes doentes, com uma relevante descida (cerca de 40%) do número anual de AVC’s em Portugal.
Relativamente à arritmia propriamente dita, ela e os seus sintomas podem ser controlados com o uso de medicamentos anti-arrítmicos ou, em caso de os sintomas persistirem, com recurso à ablação de FA (uma intervenção simples em que, com o auxílio de um cateter que aplica calor ou frio extremo numa zona específica do coração, a FA pode ser tratada por um período de tempo mais ou menos longo).
Em resumo, importa promover um estilo de vida saudável, com controlo de todos os fatores de risco para reduzir o risco de FA. Caso comece a sentir palpitações ou um ritmo cardíaco irregular, deve consultar o seu médico e, caso se confirme a FA, cumprir diariamente a terapêutica anti-arrítmica e anticoagulante oral.
Desta forma, poderemos registar novas vitórias na luta contra o AVC em Portugal, esperando-se nos próximos anos uma continuada redução das mortes e incapacidades por AVC, fruto de uma aposta renovada no controlo dos fatores de risco, no diagnóstico mais precoce da FA e no uso mais generalizado dos novos fármacos anticoagulantes orais.

You may also like...