População subdiagnosticada

Prof. João Maia Silva, Dermatologista do Centro de Estudos da Pele do Hospital CUF Descobertas

O Cancro Espinocular Cutâneo em Portugal, nas palavras de quatro especialistas.

 

De uma forma geral, a população portuguesa está bem referenciada e diagnosticada em relação à patologia do Carcinoma Espinocelular Cutâneo (CEC) ou estamos diante de um cenário de subdiagnóstico desta doença?

Os Dermatologistas, como especialidade de eleição no tratamento do cancro da pele, detêm o conhecimento e a capacitação técnica para efetuar o diagnostico do Carcinoma Espinocelular. Existem, atualmente, meios complementares de diagnóstico, como a dermatoscopia digital e a microscopia confocal, que permitem efetuar o diagnóstico precoce dos carcinomas espinocelulares bem como das suas lesões precursoras. Estes avanços são acompanhados pela capacitação técnica na execução de cirurgia micrográfica (mais segura e menos mutilante) e pelo manejo de novos fármacos que já mudaram o panorama terapêutico em doentes com a doença localmente avançada.

Estas são, sem dúvida, as boas noticias. No entanto, temos que garantir que todos os doentes têm acesso aos meios de diagnóstico e terapêuticos adequados, numa fase, o mais precoce possível da sua doença.

Para o garantir, a prevenção e a formação dos cidadãos é de natureza estratégica. É possível prevenir a larga maioria dos Carcinomas Espinoceclulares promovendo o conhecimento social sobre os riscos e formas preventivas dos cancros da pele. Mesmo sabendo que o desenvolvimento da formação e literacia nesta área não trará resultados imediatos, mas sim será um investimento no futuro de médio e longo prazo. É essencial que as pessoas conheçam os comportamentos de risco e que identifiquem precocemente as lesões de forma a procurarem assistência médica adequada.

Mas para alem da formação centrada na população, e de forma a corrigir o subdiagnóstico desta doença, é importante atualizar e aprofundar os conhecimentos dos profissionais de saúde (médicos e enfermeiros não ligados à Dermatologia, e farmacêuticos) sobre o Carcinoma Espinocelular e sobre as suas lesões precursoras (as queratoses actínicas). A formação para os melanomas já está amplamente difundida, pelo que se terá que fazer esforço idêntico para o Carcinoma Espinocelular. Tem que se garantir que estes profissionais de saúde têm a capacidade de diagnóstico sobre esta doença e que, se confrontados na sua rotina diária com uma lesão suspeita, a reconheçam e, se necessário, a referenciem para a Dermatologia.

Por último, a agilidade na referenciação terá que continuar a ser melhorada, promovendo a acessibilidade do doente aos cuidados médicos. Embora os avanços tecnológicos possam auxiliar nesta área, é minha convicção que em nada substituem a observação e tratamento em consulta especializada.

Todos estes pontos têm como resultado comum o correto diagnóstico de uma doença frequente, potencialmente grave, passível de ser prevenida e, ainda, sub-diagnosticada.

 

Ao nível da epidemiologia desta doença em Portugal, que dados gostaria de destacar?

Os dados referentes à epidemiologia nacional do Carcinoma Espinocelular são escassos e limitados.  Este facto está relacionado com as especificidades da patologia em causa, nomeadamente pela ausência de reporte e registo nacionais sistemáticos, por metodologias de recolha dos dados distintas e pela dificuldade na contabilização das lesões vs. doentes afetados. Estas limitações são notadas na publicação mais recente do Registo Oncológico Nacional, em que se excluem os dados referentes ao Carcinoma Espinocelular.

De acordo com os relatórios dos Registos Oncológicos Regionais para 2010 (último ano com dados disponíveis), registou-se uma taxa de incidência global de 66,15/100.000 habitantes. A incidência de Carcinoma Espinocelular continua a aumentar desde 1960, com uma taxa a nível mundial de 3 a 8%. Estima-se que semelhante tendência se observa para as lesões precursoras do Carcinoma Espinocelular que atingem cerca de 60% da população com idade superior a 60 anos.

É indispensável manter um seguimento clínico adequado e continuado ao longo dos anos destes doentes. Dados recentes mostram que 19% dos doentes com Carcinoma Espinocelular têm novo episodio no período de 10 anos, com uma média de 2,4 Carcinomas Espinocelulares.

A incidência Carcinoma Espinocelular aumenta com a idade, atingindo o pico aos 70 anos. Esta tendência ganha maior relevo em Portugal pelo envelhecimento da nossa população e pela imigração crescente de uma população com 60 ou mais anos oriunda dos países do norte da Europa cuja pele é mais sensível a este tipo de cancro da pele.

Em relação à mortalidade, e de acordo com os dados do INE para período 2009 a 2018, ocorreram em Portugal, em média, 189 óbitos por CCNM por ano.

Por último, é premente perceber a real dimensão deste problema. Só assim será possível dimensionar os serviços de saúde com os recursos necessários para dar uma resposta adequada ao número anual de Carcinomas Espinocelulares. E perceber qual o impacto económico desta doença facilitando a tomada de decisões estratégicas promovendo a acessibilidade às terapêuticas mais inovadoras.

 

 

Os Cancros Cutâneos Não Melanoma (CCNM) representam aproximadamente 90% de todos os casos de cancro cutâneo. Estima-se que são diagnosticados 13,4 mil casos todos os anos e com o número de novos casos a aumentar entre 3 a 8% cada ano. 

 

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