#Our Nurses Our Future. The economic power of care

Todos os anos se comemora a 12 de maio o Dia Internacional do Enfermeiro, data do aniversário de nascimento de Florence Nightingale, a pioneira da enfermagem moderna, que se destacou por introduzir práticas sanitárias que reduziram significativamente as taxas de mortalidade entre os soldados feridos na Guerra da Crimeia (1853-1856).

 

 

 

 

Este ano o ICN – Internacional Coucil of Nurses adotou o lema “Our Nurses Our Future. The economic power of care”, promovendo em todos os cantos do mundo uma reflexão sobre o poder económico dos cuidados de saúde, alertando para o facto dos enfermeiros serem os profissionais que estarão cada vez mais presentes no nosso futuro.

Em Portugal, com a elevada taxa de envelhecimento da população, o aumento da esperança de vida com doença crónica e o aumento das pessoas com dependências que terão necessidades de assistência permanente, a questão é mesmo emergente! A presença dos enfermeiros nas atividades de vida diária dos portugueses será uma inevitabilidade, razão que nos deve levar a salvaguardar condições de trabalho e de vida aos nossos enfermeiros para garantir que teremos os cuidados que necessitarmos no futuro.

Na última década assistimos a um crescimento progressivo da despesa com saúde, quer por parte do Estado, através do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e dos serviços convencionados, quer das famílias que procuram respostas mais rápidas ou satisfatórias nos serviços privados e sociais.

Dispomos de um SNS, universal e tendencialmente gratuito, dos melhores do mundo!

Porém, mantemos dificuldades de acesso a consultas e a cirurgias e, apesar de continuarmos a injetar milhões de euros nos orçamentos, mantemos os enfermeiros com más condições de trabalho, baixos salários e cada vez mais desinteressados, mas sobretudo os doentes e suas famílias sem respostas.

Insistimos na produção, mais consultas, mais cirurgias e mais exames, mas desconhecemos os resultados efetivos em ganhos em saúde para os doentes desses atos, muitas vezes pagos a “peso de ouro”!

O enviesamento das perceções é ainda maior quando o financiamento está suportado na realização de atos médicos, sem que se evidenciem os contributos de outros profissionais para o resultado. Importa lembrar que os doentes ficam internados em ENFERMARIAS e não em “MEDICARIAS” e isso porque precisam de cuidados de enfermagem e não médicos!

Segundo um estudo realizado pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH) e outros parceiros, em março de 2023 havia 1.675 pessoas internadas com alta clínica, entenda-se médica, o que se traduz num aumento de 60% face ao mesmo mês de 2022. Nesse estudo, e nas notícias que foram publicadas sobre o assunto, assume-se que “não existe um motivo de saúde para justificar a hospitalização”, ora nada mais falso!

O que não existem são motivos que justifiquem assistência médica, porque todos os doentes internados nestas condições necessitam sim de cuidados de enfermagem e suporte às suas condições de dependência.

Outra falácia, é assumir que estas camas estão ocupadas por pessoas internadas apenas por razões sociais! Quando muito podemos dizer que é por falta de resposta na Rede de Cuidados Continuados Integrados ou por falta de respostas na comunidade que salvaguardem a estas pessoas a resposta às suas necessidades em cuidados de enfermagem e de apoio às atividades de vida diária. Ou seja, a presença ativa dos Enfermeiros em diversos contextos de saúde, desde os hospitais até aos cuidados de saúde primários, é essencial para garantir a continuidade dos cuidados e a eficiência dos sistemas de saúde.

Continuamos reféns de uma visão tradicionalista, ultrapassada e de custo elevado que considera o médico como o pilar da oferta de serviços de saúde e a organização dos serviços dependente da visão médica!

 

 

 

Se continuarmos neste caminho o SNS vai falir!

Estas são algumas das razões que levam o ICN a alertar para a importância de se remodelarem as perceções, mostrando que o investimento estratégico em enfermeiros pode trazer benefícios económicos e sociais consideráveis.

Os enfermeiros desempenham um papel fundamental e multidimensional na área da saúde. Porém, em Portugal, as políticas de saúde continuam a subaproveitar as competências profissionais dos enfermeiros, a limitar as suas áreas de exercício autónomas, privando a população de aceder a cuidados de saúde essenciais.

Depois temos políticos com “ideias peregrinas”, que defendem na Assembleia da República, que os enfermeiros precisam de se qualificar para a “prática avançada” para assumir funções de maior responsabilidade.

Que tal reconhecer a capacidade instalada, acabar com os bloqueios organizacionais e pagar salários justos aos enfermeiros para que eles assegurem a prestação direta de cuidados aos doentes, assumam responsabilidades cruciais na coordenação dos serviços de saúde, na promoção e na prevenção da doença e na educação para a saúde?

Os enfermeiros são em qualquer parte do mundo a “linha da frente” na assistência em saúde! A sua participação global abrange desde a implementação de tratamentos prescritos por outros profissionais, ao diagnóstico dos problemas reais e potenciais, desempenhando um papel integrador entre as diferentes as áreas clínicas e facilitando a comunicação entre as pessoas e os diversos profissionais da equipa interdisciplinar.

Para além disso, os Enfermeiros são agentes fundamentais na promoção da saúde pública, desenvolvendo e implementando programas de educação para a saúde, campanhas de vacinação, rastreio de doenças e ações preventivas e de promoção de saúde.

Todos os portugueses, mais tarde ou mais cedo, vão precisar de cuidados de enfermagem!

Esta é uma verdade irrefutável, por isso deverá ser um desígnio de todos assegurar que no futuro teremos enfermeiros para cuidar de cada um de nós e das nossas famílias!

O valor económico dos cuidados de enfermagem tem sido desprezado nas políticas de saúde, mas se não investirmos rapidamente em enfermeiros vamos implodir o SNS e perder os anos de vida com saúde que ele nos ofereceu!

 

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Dia Internacional do Enfermeiro

O Dia Internacional do Enfermeiro celebra-se a 12 de maio. Este dia visa homenagear todos os enfermeiros do mundo e relembrar a importância destes profissionais da enfermagem na prestação de cuidados de saúde à população em geral. É o dia do calendário em que todos os enfermeiros do mundo estão de parabéns, sendo que eles celebram a vida e a enfermagem todos os dias do calendário.

 

Lúcia Leite, Presidente da Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros – ASPE

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