Olho Seco e Primavera

A primavera potencia o desencadeamento e a exacerbação dos sintomas associados ao olho seco.

 

 

Dr. João Quadrado Gil , Médico Oftalmologista na Unidade Local de Saúde Coimbra e na Unidade de Oftalmologia de Coimbra Investigador na Association for Innovation and Biomedical Research on Light and Image (AIBILI) e no Centro Académico Clínico de Coimbra Doutorando na Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra

 

 

A síndrome do olho seco, uma das doenças mais prevalentes em Oftalmologia e que mais impacto tem na qualidade de vida dos doentes, torna-se um desafio particularmente exigente com a chegada da primavera. Este período, que a maioria das pessoas associa ao regresso do bom tempo e ao florescer da natureza, também introduz elementos que podem agravar os sintomas de olho seco em milhões de pessoas em todo o mundo. A estação, caracterizada por uma maior dispersão de alérgenos no ar, como pólenes e partículas de poeira, cria um cenário propício para o desencadeamento e a exacerbação dos sintomas associados ao olho seco.

Durante a primavera, o aumento da exposição a alergénios ambientais desafia a integridade e capacidade do filme lacrimal, cujas funções vão muito além da simples lubrificação. Esta fina camada de líquido é crucial para garantir o equilíbrio no oxigénio, pH, nutrientes e fatores de crescimento necessários para a manutenção da saúde ocular, além de atuar como uma barreira protetora contra agentes agressores. Os alergénios presentes no ar durante a primavera podem perturbar esse equilíbrio delicado, estimulando uma resposta inflamatória que compromete a estabilidade do filme lacrimal e, consequentemente, leva a sensação de desconforto ocular e degradação da qualidade da visão.

A primavera é também sinónimo de mudanças no clima, com dias mais longos e, em muitos lugares, um aumento na intensidade da luz solar e nas temperaturas. Estas mudanças podem contribuir para uma maior evaporação do filme lacrimal, exacerbando os sintomas do olho seco. A combinação de ventos mais fortes e ar seco no exterior, e maior exposição a ambientes climatizados no interior, aumenta o risco de desidratação da superfície ocular, intensificando o desconforto e a irritação.

Contudo, a compreensão dos mecanismos associados ao olho seco e os avanços médicos no campo da Oftalmologia trazem consigo a promessa de melhorias substanciais na qualidade de vida dos doentes. A evolução nos métodos diagnósticos permite agora uma caracterização mais precisa dos diversos subtipos da doença, facilitando a identificação de fatores específicos que contribuem para o olho seco em cada doente. Esta abordagem personalizada é essencial para o desenvolvimento de estratégias de tratamento mais eficazes, adaptadas às necessidades e condições de cada paciente, e aos desafios que cada um enfrenta durante a primavera.

 

 

As opções terapêuticas também se expandiram consideravelmente, desde intervenções farmacológicas, como imunomoduladores, até soluções cada vez mais sofisticadas para mimetizar e substituir o filme lacrimal. Além disso, a gestão da síndrome do olho seco na primavera pode significar apenas alguns gestos simples mas eficazes: o uso de óculos de proteção para minimizar a exposição a alergénios, a manutenção de uma boa hidratação ocular, ou a consulta frequente de calendários e alertas polínicos.

O papel do oftalmologista, com a sua combinação de conhecimento técnico, atenção ao doente e tecnologia avançada, é mais central do que nunca. Através de uma combinação de diagnóstico preciso, tratamento personalizado e educação da população, os oftalmologistas são fulcrais no esforço de mitigar o impacto da síndrome do olho seco durante a primavera. Atualmente, é possível não apenas melhorar significativamente a qualidade de vida dos doentes, mas também permitir que eles desfrutem plenamente da beleza e da vitalidade desta estação, sem desconforto e sem comprometer a saúde ocular.

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