O Pão Quente: Produtos mais naturais, benéficos nutricionalmente e tradicionais

A Revista Business Portugal esteve à mesa com Carlos Santos (CEO) no “O Pão Quente”, em Arganil. Não nos sentamos para comer ou beber, mas sim para escutar atentamente a história do empresário e do negócio que construiu e consolidou ao longo do tempo.

Não tendo condições para prosseguir os estudos, Carlos arregaçou as mangas e iniciou a sua carreira profissional muito cedo, tendo começado por ser ajudante de mecânico, durante cinco meses. Aos 15 anos, surgiu a oportunidade de aprender a arte da panificação e pastelaria, sendo que nunca mais parou desde então: “estava melhor onde estava, porque o mecânico trabalha cinco dias por semana e nós, aqui, trabalhamos seis e sete dias, muitas vezes também à noite. Mas aí começou um percurso! Comecei a ser empresário por volta dos 23 anos, numa outra sociedade aqui perto e, em 1996, começamos com esta unidade. Depois, em 2001, fizemos uma remodelação e aumento de espaço e, em 2004, abrimos um estabelecimento de raiz, com produção em Santa Comba Dão”, contou-nos o entrevistado.
Hoje, operam com duas marcas: a “O Pão Quente – Centro Gastronómico”, que atua na área de padaria, pastelaria e atendimento ao público; e a “Golden Cake”, que surge pela necessidade de adaptação ao mercado: “este ano foi o ponto de viragem e foi outra alavancagem na nossa área de negócio, devido à falta de mão-de-obra e falta de formações técnicas nestas vertentes. Assim, começamos na área de pastelaria congelada acabada numa unidade pequena com o foco do mercado internacional”, explica.

“O interior é bonito, mas não é apoiado”
Um grave problema que afeta não só esta, mas várias áreas de atividade, é a dificuldade em contratar mão-de-obra qualificada, além de que o setor também enfrenta a realidade da substituição dos postos de trabalho por máquinas, especialmente na distribuição moderna, onde a grande preocupação é a produção em massa. Carlos explica-nos que “esta modernização não só se deve à necessidade de aumentar a produção, mas também à complexidade que se tornou contratar pessoas especializadas. Eu escolhi sempre dar a formação a quem entra no meu projeto e ensinar essas pessoas a fazer os nossos produtos como sempre os fizemos. As poucas formações que existem não são bem orientadas e não são planeadas a pensar no futuro. É importante fazer a pergunta: onde queremos estar daqui a 10 ou 15 anos? Como vai estar o nosso setor? Como podemos fazê-lo evoluir em Portugal?”
Outro entrave na evolução do negócio é algo que se arrasta há anos: a desertificação do interior de Portugal, que leva à perda dos clientes que se vão estabelecendo nas grandes metrópoles e arredores, ou mesmo pelo resto do mundo. Para além disso, há ainda as desigualdades entre as grandes e pequenas regiões do país: “continuamos a pagar mais pelos produtos do que na capital, porque temos despesas de transporte elevadas. Continuamos a pagar os mesmos impostos das grandes cidades. Numa reunião, no outro dia, percebi que o estado gasta cerca de 13 euros por eleitor no interior, enquanto nos grandes centros gasta mais de 60 euros. O interior está a ficar envelhecido e os jovens não querem ficar cá. Por isso é que abrimos a “Golden Cake”, para nos dar mais oportunidades. Fortalece, principalmente, as nossas relações com o estrangeiro”. Carlos tem a necessidade de reinventar o negócio, a fim de ultrapassar os obstáculos que vão aparecendo no caminho. A legislação do país também não é a mais favorável pois, no supermercado, os produtos importados têm mais químicos, aditivos e sal que o pão produzido cá, que está, neste momento, com 0,8 gramas de sal por cada quilo de pão e é feito de forma tradicional, com farinhas e leveduras que levam o seu tempo a estar prontas e, muitas vezes, a opinião dos próprios nutricionistas é incorreta: “devem falar dos produtos distinguindo os tradicionais, sem aditivos, separadamente dos alterados, com produtos químicos”, explica Carlos, acrescentando que a comunicação no setor está a distorcer as informações: “com as novas tendências de emagrecer e de se falar de produtos sem glúten, começa a haver uma procura por outros tipos de produtos. Mas eles também devem lembrar os benefícios do pão. Nos últimos anos temos lutado pela união das associações do setor, para que todos juntos possamos fazer a diferença”.
“O Pão Quente” não prescinde de fabricar os seus produtos da forma tradicional e original, sendo que também aposta na inovação e em soluções mais benéficas a nível nutricional: “a distribuição moderna vem alterar as características dos produtos”.

“Aqui nós só trabalhamos com culinária saudável, com qualidade e sem aditivos”
Este tipo de produção cuidada acarreta custos superiores, o que também leva a que haja uma variedade de produtos superior ao normal, para que se consigam captar mais clientes e compensar o investimento. Ao entrar no “O Pão Quente”, irá deparar-se com uma panóplia de produtos, desde o pão de fermentação natural, que fazem todos os fins de semana; pão de água, feito de forma tradicional, sem aditivos e com farinha em rama; bolo rei; bolo inglês de frutos secos, que vendem às fatias; broa de milho; broa de batata; broa de abóbora; a queijada de queijo fresco, com a qual concorreram na primeira eliminatória das Sete Maravilhas Doces de Portugal; bolos de aniversário personalizados; e o pastel de nata: campeão das vendas. O facto de se diferenciarem pela diversidade, variedade e qualidade, faz com que tenham clientes de todos os pontos do país, que arranjam as mais variadas formas de adquirir os produtos do “O Pão Quente”: desde fazer o desvio nalguma viagem, pedirem a alguém para ir buscar ou fazer encomendas, enviadas posteriormente por transportadora.
Apesar das adversidades encontradas, Carlos Santos faz um balanço positivo destes anos de atividade, onde já fidelizou um alargado número de clientes e construiu uma reputação considerável. Apesar de ser uma atividade exaustiva, Carlos ganhou um carinho especial pelo setor, tendo-o transmitido à próxima geração da família: a sua filha mais velha já se encontra a trabalhar com Carlos, estando o filho do meio a terminar a formação, para lhe seguir os passos, no entanto, o mais novo está a seguir o seu próprio rumo: “não imponho que eles venham para cá, mas é bom saber que, pelo menos algum deles, vai seguir com este projeto”.
O futuro parece estar assegurado, sendo objetivo consolidar o projeto e concretizar o sonho de pôr a fábrica de exportação a trabalhar na máxima força, não fazendo parte dos planos de Carlos abrir mais unidades noutros locais, quer apenas trabalhar por parcerias nos grandes centros: “temos alguma distribuição em Lisboa, inclusive vamos fornecer uma nova loja gourmet. Expandir iria implicar um grande investimento, porque não quero reduzir a qualidade que temos aqui. Abrir um novo espaço de venda iria traduzir-se em abrir também um novo espaço de fabrico, pelo que preferimos apostar nestes dois projetos com produções e funções muito diferentes: um deles pretende captar os clientes locais, enquanto o outro pretende percorrer o país e o mundo com os nossos produtos”.

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