O que é o olho seco?
O olho seco é uma doença multifactorial da superfície ocular caracterizada por uma alteração da quantidade e/ou qualidade da lágrima e acompanhado por sintomas oculares como por exemplo sensação de ardor, secura, areia e/ou corpo estranho, fotofobia que geralmente vão agravando ao longo do dia.
A forma mais frequente de olho seco é o evaporativo, responsável por cerca de 60% de todos os casos e está relacionado com a evaporação mais rápida da lágrima apesar da sua produção estar normal. Resulta de uma alteração da camada lipídica (gordura) existente na superfície da lágrima e está muitas vezes associado a uma disfunção das glândulas de Meibomio (DGM), produtoras de gordura e localizadas na margem da pálpebra. A outra forma da doença é o olho seco por insuficiência lacrimal, menos frequente e resulta de uma diminuição da produção aquosa da lágrima no contexto de várias doenças que podem afetar as glândulas lacrimais e a córnea/conjuntiva.
Clinicamente o olho seco tem um espectro de gravidade muito alargado que pode ir desde a presença de lesões epiteliais mínimas na superfície do olho (córnea e conjuntiva) até a casos mais graves com lesões extensas, inflamação marcada e que em casos poucos frequentes pode cursar com úlceras de córnea associadas a perda de visão e dor intensa.
Que tratamentos estão atualmente disponíveis?
Tipicamente e numa fase inicial a doença do olho seco (DOS) é tratada com substitutos da lágrima, seja na forma de colírio, géis ou pomadas. A maioria destes lubrificantes são à base de água e contém polímeros viscosos como por exemplo: hialuronato de sódio, metilcelulose ou polividona. Estes permitem a substituição da camada muco-aquosa da lágrima. A utilização de um lubrificante, sem conservantes, à base de hialuronato de sódio e de uma forma intensiva (cerca de 6xdia) é muito comum e eficaz para formas ligeiras de olho seco.
Estes lubrificantes muitas vezes contêm outras moléculas na sua constituição, destinadas a promover um efeito anti-inflamatório, proteção celular osmótica ou cicatrizante da superfície ocular, optimizando ainda mais o seu efeito coletivo. Dentro desta gama de produtos temos por exemplo o Hylo Care® ou o Hylo Dual Intense®.
No olho seco evaporativo, a substituição da camada mais externa, de gordura, da lágrima, deverá ser realizada com colírios que possuam componentes lipídicos dirigidos (Ex: Evotears Omega®). Em relação às blefarites (inflamação da margem palpebral) e à DGM, sendo doenças crónicas é necessário enfatizar junto do doente o potencial controlo sintomático, mas não a cura. A medida mais importante no tratamento das blefarites de uma forma geral é a higiene palpebral a qual passa pelo aquecimento (Ex: Posiforlid® máscara oftálmica), massagem e limpeza da margem palpebral com compressas adequadas para o efeito, sem conservantes (ex: Posiforlid® toalhitas). A utilização de luz intensa pulsada é também uma opção terapêutica com eficácia e segurança demonstradas. Os derivados das tetraciclinas orais (ex: doxiciclina) e tópicos são também uma arma importante no tratamento.
Para casos de maior gravidade, tipicamente associados a inflamação da superfície ocular, é frequente o recurso a terapêutica anti-inflamatória. Esta pode ser realizada recorrendo a ciclos curtos de corticosteróides tópicos ou ao tratamento prolongado com ciclosporina tópica ou outros imunossupressores. É também comum a utilização de produtos derivados e purificados do sangue (soro autólogo ou PRGF – Endoret) para promover a cicatrização de lesões da superfície do olho. A oclusão dos pontos lacrimais e mesmo o recurso a lentes de contato esclerais são também opções terapêuticas para estes casos mais complexos.
De uma forma geral, todos estes tratamentos são eficazes no olho seco, no entanto a terapêutica tem de ser individualizada pelo Médico Oftalmologista a cada doente de acordo com o tipo de olho seco, sua gravidade e patologias associadas.