“O desafio é acrescentar valor em tudo o que fazemos”

Marta Graça Ferreira, Chief Executive Officer da Real Vida Seguros, realça o crescimento da empresa, nos últimos anos, e fala sobre os desafios do cargo que desempenha.

Marta Graça Ferreira, Chief Executive Officer

Licenciou-se em Economia, mas o seu percurso profissional tem sido pautado pela Gestão de negócios e equipas de vendas na Indústria Seguradora. O que apaixona verdadeiramente nesta área?

Como qualquer jovem que conclui uma licenciatura, era difícil ter certezas sobre qual a indústria ideal para trabalhar. No meu caso, tive várias propostas de emprego, mas a minha opção foi pela indústria seguradora, talvez porque os conhecimentos que adquiri no meu percurso académico estivessem mais relacionados com esta área. Desde muito cedo, na minha carreira, tive oportunidade de desenvolver negócios e coordenar. O que me apaixona é promover o crescimento das pessoas das minhas equipas, sendo muito gratificante vê-las evoluir profissionalmente. O mesmo acontece com o desenvolvimento de um novo canal de vendas, ou um novo modelo de negócio e acompanhar e observar o respetivo crescimento. Acredito que o sucesso dos negócios está muito associado à motivação e ao desenvolvimento das pessoas, e ambos têm de fazer parte da equação. Questiono: Como é possível criar uma nova área de negócio se as pessoas que a estão implementar e a desenvolver não se sentem motivadas, envolvidas ou não percecionam o crescimento profissional que vão obter com aquela experiência? Em todos os cargos de liderança que exerci, nos últimos 17 anos da minha carreira, tive sempre uma forte orientação para os resultados, assente no racional da rentabilidade do negócio, mas dificilmente concebo um modelo de gestão de sucesso sem equacionar o desenvolvimento das pessoas.

 

Está na Real Vida Seguros há mais de sete anos. Explique em que consiste este projeto e quais as suas principais áreas de atuação.

Este projeto foi encarado por mim como a reconstrução de uma nova Seguradora. Quando cheguei, a empresa tinha acabado de ser privatizada, depois de um período de quatro anos de estagnação. A seguradora tinha um passado muito orientado para venda de produtos financeiros, como o PPR e produtos de investimento, através do canal bancário. Os seguros de vida para proteção pessoal e familiar não eram uma prioridade. Desde 2014 até 2021, a minha principal área de atuação foi a área comercial. Era necessário nutrir o canal de mediadores, através da angariação de novos parceiros, orientados para a comercialização de seguros de vida. Mais tarde, surgiu a necessidade de criar novos canais de vendas para diversificar a oferta e ter outras formas de chegar ao cliente final. Foi quando nasceu o projeto da nossa “rede cativa” que são agentes com uma ligação exclusiva à Companhia e, posteriormente, desenvolveu-se o canal de parcerias. O meu foco era o de posicionar a Real Vida Seguros como uma seguradora de referência na área da proteção pessoal e familiar, cujo produto ancora seria o seguro de vida, delegando para um segundo plano a comercialização de produtos financeiros. Com esta estratégia de criação de novos canais e o impulsionamento dos já existentes, passamos de uma carteira de vida e acidentes pessoais de 9 milhões euros para 46 milhões de euros em oito anos (sem produtos financeiros).

Resumindo, as minhas áreas de actuação até 2021, centraram-se na criação de novos modelos de negócio, em conciliação com o desenvolvimento das pessoas e equipas, elevando ao máximo o seu potencial. Naturalmente, hoje em dia, a minha função está mais focada no modelo de governação da seguradora e menos nas questões operativas, mantendo a mesma visão estratégica de posicionar a Real Vida como uma seguradora de referência na área proteção individual e familiar.

Foi nomeada presidente da Real Vida para o triénio 2022-2024. Que cunho tem procurado imprimir na sua liderança e que desafios acarreta um cargo desta dimensão? 

Tenho um gosto especial pela área de desenvolvimento dos recursos humanos, pois são o ativo mais valioso que temos. Desta forma, faço questão de realçar que o crescimento da empresa, nos últimos oito anos, foi realizado em grande parte pelos colaboradores, os que já constavam antes da privatização e, naturalmente, todos os outros que se juntaram à equipa.

Acresce a forma como essas pessoas foram desafiadas para esta nova etapa de renascimento da seguradora e como responderam a este desafio com uma enorme entrega e motivação, porque acreditavam num futuro próspero para a empresa.

Procuro muito extrair o melhor das pessoas, desafiando-as a fazerem mais e melhor, elevando os níveis de performance que, em alguns casos, os próprios nunca acreditariam que seria possível atingir. A gestão das equipas tem sido sempre muito inclusiva, explorando o feedback de todos, com a premissa que todos fazem parte da solução e nunca será um trabalho de one man show. Por tudo isto, tem sido uma liderança mais aberta, disponível para o diálogo e de proximidade junto dos nossos colaboradores.

Como Presidente do Conselho de Administração, procuro acompanhar todas as áreas. É um cargo que requer uma total dedicação, assim como fortes competências de liderança e comunicação, e que, simultaneamente, exige ter uma visão estratégica com base no profundo conhecimento do mercado. Impõe ainda a coragem de tomar decisões difíceis, acautelando uma gestão sã e prudente, defendendo os interesses da empresa, dos colaboradores e dos acionistas. Em suma, ser presidente da Real Vida Seguros é o desafio de criar condições, para que o sucesso da companhia seja a consequência natural do sucesso da sua equipa, assumindo a responsabilidade última por todas as decisões e em especial no que corre menos bem.

 

Qual é a sua opinião sobre a paridade de direitos entre homens e mulheres atualmente em Portugal? Considera que, no mundo empresarial, as mulheres têm mais dificuldades em fazerem-se ouvir do que os homens?

 Entendo que ainda não existe plena paridade, e a prova é o facto deste tema ainda ser alvo de muitas notícias nos media, de estar presente em vários estudos, e de ser tema de vários eventos de sensibilização. Confesso que gostaria de ter uma opinião diferente, num contexto onde existe maior igualdade entre homens e mulheres, mas infelizmente não é caso, e pelo contrário assistimos ao agravamento dessas diferenças durante e no pós-pandemia. As mulheres foram as mais atingidas pelo desemprego, por trabalharem mais nos sectores ligados ao consumo, que foram os mais afetados com confinamento. O relatório Global Gender Gap Report, do World Economic Forum (WEF) sobre a igualdade de género,  publicado em 2022,  coloca Portugal na 29.ª posição, num universo de 146 geografias, que compara com o ano anterior, onde o nosso país estava em 22º. Descemos sete lugares no ranking. Esta descida deveu-se ao facto de termos tido menos mulheres eleitas no Parlamento, nas últimas eleições legislativas (de 39,7% em 2019, passámos para 37% 2022), e também devido ao facto de, no mundo empresarial, as mulheres terem mais dificuldade em fazer-se ouvir do que os homens. Deste modo, assistiu-se a um decréscimo da participação das mulheres no mercado de trabalho e em lugares de poder. Acredito que, se tivéssemos mais mulheres no mundo das empresas e em cargos de liderança, naturalmente, também existiriam mais e melhores oportunidades de carreira aproveitando o talento feminino existente.

 

Sendo que, no próximo dia 8 de março, se comemora o Dia Internacional da Mulher, que palavras gostaria de deixar às mulheres que a veem como uma inspiração?

Felizmente, existem já alguns casos de mulheres que são uma referência para todas nós, destaco a falecida juíza do supremo tribunal dos EUA, Ruth Bader Ginsburg, autora da famosa frase “Women belong in all places where decisions are being made”.

Quanto às minhas palavras, sugiro que nunca tenham medo de arriscar e de aceitar desafios, principalmente aqueles que vos façam sair da vossa zona de conforto. Partilhem a responsabilidade da gestão familiar com os vossos parceiros para um maior equilíbrio entre o casal. Diria que nunca devem menosprezar as vossas capacidades. Na realidade, só fora da vossa zona de conforto é que terão a verdadeira consciência do que realmente conseguem atingir. Não tenham medo de errar com receio da recriminação ou juízos de valor, só não erra quem não tenta, ignorem por completo os estereótipos, pois isso só vos fará vacilar. Acreditem em vocês próprias, no vosso talento e definam objetivos para conseguirem realizar os vossos sonhos. Procurem ser “independentes”, pois a necessidade aguça o engenho, sendo a força que nos faz mover, particularmente, nos momentos mais difíceis. Para aquelas que têm filhos, estes tornam-se a razão maior que nos impede de desistir ou de deixar de lutar, para que no final nada lhes falte. O mais gratificante, ao longo deste processo de crescimento, é que eles reconhecem e admiram o nosso esforço e são eles os nossos fãs nº1. Se com o meu percurso já consegui inspirar alguma de vós, então já valeu a pena percorrê-lo!

Como é que perspetiva o futuro da Real Vida Seguros? E relativamente a si, o que podemos esperar?

A Real Vida Seguros tem tudo para ser uma seguradora de sucesso, como tem vindo a demonstrar nos últimos anos, através do seu crescimento.

As suas equipas multidisciplinares, constituídas por homens e mulheres de várias gerações, onde o trabalho em equipa, com a conjugação do conhecimento de cada um, têm contribuído para sucesso da empresa. Todos contam e nenhuma ideia pode ser descartada.  A seguradora tem uma cultura de inovação e procura estar na linha da frente em tudo que nos permita ser diferenciador, colocando de lado o posicionamento pelo preço. Obviamente, como todas as empresas, não temos recursos ilimitados e por isso temos o engenho, diria o ADN, de fazer muito com pouco. A história da seguradora nos últimos oito anos é a prova viva do que escrevo.

No que a mim diz respeito, espero continuar a percorrer sempre o meu caminho, com a mesma paixão que sempre tive e tenho para desenvolver novas áreas de negócio, novos projetos, sempre em conciliação com a gestão e desenvolvimento das pessoas.

Hoje sinto-me grata pelo que conquistei, sendo que parte deste sucesso passar por adorar aquilo que faço. Por isso, “agarro” os projetos como se fossem meus, tal como faço na Real Vida Seguros, que me desafia todos os dias, me obriga a reinventar e a questionar o status quo. Como costumo dizer, o desafio é acrescentar valor em tudo o que fazemos!

 

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