O Cancro do Pulmão não tira férias!

 

Dra. Gabriela Fernandes, Assistente Hospitalar Graduada de Pneumologia na ULS São João e Professora da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

 

 

 

O cancro do pulmão é o mais letal em todo o mundo. Em Portugal, segundo os dados mais recentes do Registo Oncológico Nacional, é o segundo tipo de cancro mais frequente e, também, a primeira causa de morte por cancro, correspondendo a uma em cada cinco mortes por neoplasia.

A incidência e as taxas de mortalidade por cancro do pulmão diferem geograficamente, refletindo padrões variáveis de tabagismo, mas também diferenças genéticas e de exposição a fatores de risco ambientais. Contudo, o tabagismo é o principal fator de risco, pelo que a incidência do cancro do pulmão reflete os padrões de consumo de tabaco. Por esta razão, as campanhas de controlo do tabaco são uma parte central das estratégias globais para reduzir a mortalidade por cancro do pulmão.

Os fatores de risco ambientais e profissionais, como os combustíveis de biomassa, o amianto, o arsénio e o radão, podem também contribuir, de forma significativa, para a incidência do cancro do pulmão em certas zonas geográficas.

Nas últimas duas décadas, demonstrou-se diminuição da mortalidade por cancro do pulmão através de rastreio com Tomografia Computorizada (TC) de tórax de baixa dose. Essa redução de mortalidade ultrapassa os 20%, justificando-se pelo aumento do diagnóstico e tratamento em fases mais precoces da doença. Considerando a elevada taxa de mortalidade e o aumento da sobrevivência por cancro pulmão quando detetado em fase precoce, um programa de rastreio é uma prioridade, sendo recomendado para indivíduos com risco mais elevado, nomeadamente aqueles com maior carga tabágica.

A recomendação da União Europeia relativa ao Programa Europeu de Combate ao Cancro destaca a deteção de mais tipos de cancro, nomeadamente expandindo o rastreio populacional de cancro ao cancro do pulmão, próstata e, em certas condições, o gástrico. O rastreio de cancro de pulmão deverá abranger fumadores e ex-fumadores com elevada carga tabágica, com idade entre os 50 e os 75 anos. A mesma recomendação chama atenção à equidade de acesso ao rastreio e aos procedimentos diagnósticos, tratamentos, apoio psicológico e cuidados posteriores.

Sendo o consumo de tabaco a principal causa de cancro do pulmão e a cessação tabágica a medida com maior impacto na redução da sua incidência, um programa de rastreio implica um programa de cessação tabágica. Realça-se que em 20% dos casos de cancro do pulmão não há relação direta com o tabaco.  É necessário, também, proteger os pulmões de outros agressores, como a exposição a fumo passivo, ao radão, aos asbestos, como já referido anteriormente.

O conhecimento da fisiopatologia do cancro do pulmão tem crescido paralelamente ao desenvolvimento de novas tecnologias de diagnóstico das alterações nos genes envolvidos na génese e resiliência tumoral. A evolução do conhecimento e a tecnologia têm contribuído para o desenvolvimento de tratamentos inovadores, como a imunoterapia e os tratamentos dirigidos a alterações moleculares específicas do tumor.  Pratica-se uma medicina de precisão, específica para cada tumor e personalizada a cada doente. Esta forma de tratar o cancro do pulmão tem conduzido a uma franca melhoria dos resultados clínicos e do prognóstico da doença.

Há nova esperança com o rastreio, com o diagnóstico precoce, com os tratamentos inovadores, porém esta doença continua a precisar de atenção, é importante evitá-la e diagnosticá-la precocemente. Alerta-se para os principais sintomas, tosse prolongada, falta de ar, expectoração com sangue, emagrecimento inexplicável, dores persistentes e qualquer outra alteração do estado de saúde basal ou dos sintomas respiratórios habituais. Em qualquer dos casos, ou apenas por dúvida, porque o cancro do pulmão não tira férias, procure o seu médico.

You may also like...

This will close in 0 seconds