Marl: O que é bom vai daqui!

Sediado em São Julião do Tojal (Loures), o Mercado Abastecedor da Região de Lisboa tem um papel fundamental junto das empresas locais, nacionais e internacionais. A Revista Business Portugal entrevistou Rui Paulo Figueiredo – Presidente do Conselho de Administração do MARL e CEO do Grupo SIMAB – para ficar a par das modernizações e inovações que estão a decorrer.

A história do MARL remota a 2000, ano em que Portugal se viu motivado a instalar plataformas logísticas de base agroalimentar que colmatassem lacunas existentes. “Os mercados abastecedores antigos não tinham condições de logística, de acessibilidade, de plataformas, nem condições higieno-sanitárias e estavam nos centros das cidades”, lembra Rui Paulo Figueiredo, acrescentando que o objetivo passava por “acompanhar uma tendência europeia e mundial em ter este tipo de plataformas e melhorar a segurança alimentar, a qualidade dos produtos, as acessibilidades e libertar de tanto trânsito os centros das cidades”.

Um mercado de todos e para todos
Com 101 hectares, o MARL acolhe cerca de 900 empresas nas suas instalações. Com diferentes setores de atividade (peixe, flores, fruta, legumes, serviços, logística, transportes), assume uma base agroalimentar. Rui Paulo Figueiredo chama a atenção para o facto de estarmos perante uma grande plataforma logística, com boas acessibilidades, que ligam Lisboa ao norte e ao sul do país, e onde as empresas têm em conta a qualidade dos serviços que lhe são disponibilizados”.
Dentro das empresas aqui presentes, existem realidades diferentes, nomeadamente “pequenos produtores, pequenos e médios grossistas, multinacionais que importam, exportam, produzem e faturam milhões em termos de volume de negócios; empresas que se posicionam no segmento dos cruzeiros; produtos de quarta gama, e a presença de filiais portuguesas de grandes empresas do agroalimentar”. Mas se existem realidades distintas, também existem espaços muito diversificados. Se por um lado há contratos que têm a duração apenas de um dia, por outro existem contratos que podem permanecer durante 50 anos. Se nos pequenos produtores os espaços são mais reduzidos, há empresas que têm pavilhões entre os 9.000 e os 10.000 m2.
Atualmente, trabalham no MARL cerca de 6.000 pessoas e, em média, 9.000 pessoas realizam ali compras. De segunda a sexta-feira, o número de visitantes no mercado aumenta para os 15.000.
Ao contrário do que muitos pensam, o Mercado Abastecedor da Região de Lisboa está aberto também aos consumidores finais. Segundo os estudos realizados pelo MARL, “cerca de 23 por cento são consumidores finais. Todos podem visitar, têm de comprar em quantidades maiores (seja para família ou grupos), mas a esmagadora maioria, 72 por cento, são empresas (canal Horeca, dos mercados retalhistas e outras empresas)”.
No que diz respeito ao apoio às empresas, esta plataforma logística tem desenvolvido várias parcerias, por exemplo com a Câmara de Loures e com a Universidade Nova, para a criação da ‘Loures Inova’, um centro de negócios e de incubação. “Já temos muitas empresas encubadas, fisicamente e virtualmente, e algumas delas já evoluíram para negócios fixos e já têm espaços”, afirma Rui Paulo Figueiredo. Assim, é possível perceber que existe uma troca de sinergias enriquecedora, tanto para as empresas, como para o próprio Mercado.

Os pequenos produtores
Em relação à instalação dos pequenos produtores e dos produtores locais, o presidente do MARL reconhece como fundamental a sua existência no Mercado. Até porque há um interesse em fomentar circuitos de cadeia curta e a produção local. “Todos os mercados abastecedores geridos pela SIMAB têm espaços para os pequenos produtores”, diz

Produtos frescos e biológicos
Quanto aos designados produtos frescos, o CEO do Grupo SIMAB salienta que, “independentemente de serem de pequenos produtores, de médios ou grande operadores, o que caracteriza os produtos comercializados no MARL é a qualidade e a frescura. Nos estudos quantitativos e qualitativos que temos, quem compra aqui reconhece estes fatores de qualidade, seja produtos importados, produzidos em território nacional, de pequenos ou grandes produtores”.
Os produtos biológicos são também uma tendência que o MARL está a trabalhar. Ainda assim, existem condicionantes inerentes, nomeadamente a produção diminuta em Portugal. Para combater esta dificuldade, é necessário que o país aumente a produção de produtos biológicos para corresponder ao crescimento da procura. O MARL pondera mesmo “criar uma área específica de produtos biológicos, para valorizar essa oferta e para que os nossos parceiros possam ganhar enquanto negócio e nós enquanto oferta”, refere.

Reduzir os desperdícios e controlar os custos
Também para combater os desperdícios, o MARL mantém uma parceria com a rede de Bancos Alimentares Contra a Fome, disponibilizando espaços para a deposição diária de produtos, sendo mesmo a entidade do país onde são recolhidos para este fim mais alimentos durante o ano.
Quanto ao imperativo controlo de custos, merece destaque o significativo investimento que tem sido feito. “Existem muitas coisas que são invisíveis, mas que têm uma diminuição da nossa despesa operacional, portanto tem rentabilidade financeira e incrementam muito a sustentabilidade ambiental e uma melhor gestão do espaço”, sublinha. Exemplo disso são os sistemas de controlo da água, da eletricidade, e do frio por telemetria, ou seja, todos os passos são controlados instantaneamente.
Por exemplo de investimento nesta área foi a mudança de toda a iluminação para o sistema ‘led’.

O futuro do MARL
Uma forte dinâmica aliada à inovação está nos genes do MARL. Prova disso é também o concurso internacional em preparação para as designadas ‘utilities’, que representa uma inovação neste tipo de plataformas e que tem como foco melhorar a qualidade do serviço. “Hoje, os vários tipos de serviços que prestamos dispersa-se por vários prestadores; ora, lançamos um concurso em que criámos um caderno de encargos no conceito ‘facility management’, em que queremos ter apenas uma entidade a agregar toda uma panóplia de serviços, para criar sinergias”, explica.
O MARL estabeleceu também parcerias para disponibilizar aos seus clientes serviços de comércio eletrónico; canais de importação e de exportação com parceiros internacionais; e de serviços de certificação de qualidade dos produtos. Além do mais, “tudo isto contribui para um posicionamento mais próximo das empresas”.
De olhos postos no futuro, o grande Mercado Abastecedor de Lisboa quer, acima de tudo, continuar a destacar-se pela qualidade dos produtos que ali são comercializados, que justifica a marca ‘O que é bom vai daqui’.

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