Malnutrição no idoso
Porque é que precisamos de abordar o tema da malnutrição?
Porque na verdade não podemos continuar a negar que a malnutrição existe em Portugal e que necessitamos de implementar medidas mais concretas para que a terapêutica nutricional seja acessível a todos os doentes de que dela necessitam.
A malnutrição, como sinónimo de desnutrição, caracteriza-se pela diminuição da ingestão alimentar, não sendo possível atingir as necessidades nutricionais diárias. Apesar de afetar todas as faixas etárias, a malnutrição apresenta maior prevalência nos idosos, em especial nos idosos na comunidade, estimando-se que esteja presente em, pelo menos, 10% dos indivíduos com idade superior a 65 anos. Estima-se, ainda, que 1 em cada 3 idosos no seu domicílio encontra-se em risco nutricional.
Sendo um estado de insuficiente ingestão alimentar, a malnutrição resulta na perda de peso involuntária (perda de massa muscular), e está associada a piores resultados no desenvolvimento de doença, ao comprometimento da eficácia da terapêutica clínica e toxicidade associada, ao declínio cognitivo e do sistema imunitário, a perda de força muscular e aumento do risco de quedas, e à perda de mobilidade e, consequentemente, perda de autonomia e independência.
O idoso apresenta maior risco de desenvolvimento de malnutrição, quer pelas alterações metabólicas inerentes ao envelhecimento, quer pelas suas doenças de base, sintomas associados e polimedicação, assim como pelos fatores psicossociais, como a solidão e o isolamento, a depressão e a pobreza, e pelos fatores fisiológicos, como as alterações naturais do envelhecimento do trato gastrointestinal, alteração do paladar e olfato e falta de dentição. Alguns medicamentos podem originar xerostomia, náuseas, obstipação e redução do apetite, o que pode comprometer, ainda mais, o estado nutricional do idoso. É fundamental, que o farmacêutico analise a prescrição farmacológica e identifique potenciais interações fármaco-nutriente e sintomas com impacto no apetite, e na digestão e absorção dos nutrientes.
Estando o idoso mais suscetível ao desenvolvimento de desequilíbrios nutricionais, o farmacêutico, pelo acompanhamento diferenciado, deve estar atento aos potenciais sinais da malnutrição, como: a fadiga, cansaço e falta de energia (ex: dificuldade em subir escadas, em carregar as compras, em preparar as refeições), perda de peso (roupa e anéis largos), perda de apetite, dificuldade em mastigar ou deglutir, quedas frequentes e perda de autonomia/mobilidade.
Os suplementos nutricionais orais são uma das áreas mais importantes na promoção da autonomia e da qualidade de vida dos idosos com risco nutricional ou malnutridos. Os suplementos nutricionais orais representam uma solução clínica eficaz e não invasiva no tratamento da malnutrição, especialmente quando fornecem pelo menos 400 kcal por dia e 30 g de proteína, sem descurar um alto teor em vitamina D, durante um período superior a três meses. O aconselhamento detalhado é crucial para assegurar uma correta ingestão e adesão aos suplementos nutricionais, sendo importante explicar razões para a toma, os benefícios da suplementação nutricional, que existem diferentes sabores e apresentações (líquidos, pudim, em pó), e o modo de utilização (ex.: tomar entre as refeições, introduzir a suplementação de forma progressiva na alimentação, o sabor do suplemento melhora quando tomado frio, deve-se agitar antes de abrir, modo de preparação no caso dos suplementos em pó).
A nutrição clínica, particularmente os suplementos nutricionais orais, são uma área a desenvolver na farmácia de oficina, ainda que se trate de uma classe de produtos sem comparticipação pelo Serviço Nacional de Saúde, ao contrário do que se passa na maioria dos países europeus.
O farmacêutico pode proporcionar, além da terapêutica clínica para o tratamento da doença base, cuidados nutricionais orientados para a melhoria do estado nutricional dos idosos na comunidade. Os farmacêuticos estão em posição privilegiada, uma vez que conhecem os idosos, conseguem identificar as suas necessidades e têm formação que lhes permite fazer um aconselhamento cabal e um acompanhamento adequado, monitorizando a adesão e potenciando uma terapêutica nutricional efetiva.
Não devemos deixar que a malnutrição continue a aumentar no nosso país! Necessitamos, por isso, de sensibilizar diariamente os idosos e os seus familiares/cuidadores para os sintomas da malnutrição, para que procurem ajuda no seu tratamento e a estabelecer planos individualizados.