Jubilo Carrossel: A magia dos carrosséis de volta à cidade

Yan Bustamente e Hugo Huyng são os dois responsáveis pela empresa Jubilo Carrossel Lda., que garante experiências nostálgicas às crianças que usufruem dos seus carrosséis. Demarcando-se claramente do conceito típico de carrossel de feira, estes divertimentos infantis que a Jubilo Carrossel aluga e explora fazem lembrar os carrosséis dos séculos XVIII e XIX, muito usuais em França, e são verdadeiras obras de arte. Yan Bustamente foi o porta-voz da empresa, nesta entrevista onde falou das dificuldades de apostar neste setor e de quem sempre apoiou a ideia.

Yan Bustamente veio para Portugal com 26 anos, numa viagem de verão com amigos. Conheceu o país nessa altura e terminou a viagem em Lagos, onde lhe chamou imediatamente à atenção o facto de, em plena Páscoa, não existirem artistas na rua. “Naquela época, eu já era artista. Comecei a trabalhar aos 18 anos num teatro, convidado por um amigo, para fazer os décors do espaço. Foi esse amigo que me ensinou a desenhar – ele era caricaturista e eu segui-lhe o exemplo – e foi também nesse ano que conheci o Hugo Huyng, um carpinteiro alemão também muito dedicado à arte. Começámos aí a nossa amizade e, inclusivamente, fizemos vários trabalhos juntos, no que respeita a décors de lojas, teatros, pinturas murais e trabalhos em madeira. Quando vim para Portugal, todavia, o Hugo não veio comigo”.

Em 2009, para tentar perceber qual o motivo da ausência de artistas e animação de rua, Yan Bustamente dirigiu-se à Câmara Municipal de Lagos, que o apoiou desde o primeiro momento: “expliquei que era caricaturista e que estava interessado em trabalhar na rua, no próximo verão. A secretária do presidente tirou apenas uma fotocópia dos meus documentos e, meses seguintes, vim para Lagos fazer caricaturas, de junho a setembro”.

A partir daí, Yan Bustamente nunca mais parou. O sucesso do primeiro dia, em que passou mais de cinco horas seguidas a fazer caricaturas, fê-lo querer estabelecer-se em Portugal e acabou por encontrar em Lagos a sua esposa: “passei cerca de 30 anos a fazer em outras atividades pintura e caricaturas, mas sempre quis trabalhar com carrosséis”.

A oportunidade surgiu quando Hugo Huyng veio viver para Portugal. “O Hugo disse-me que queria mudar de vida e eu propus-lhe que viesse morar para Portugal. Em 2003, demos inicio a empresa e falamos de eventualmente para de desenhar e encontrar outra atividade ligada aos carrosséis. Inicialmente era visto como uma atividade segundaria mas que passo rapidamente a ser a principal para nós”.

A Jubilo Carrossel surgiu, assim, da vontade de dois amigos, que partilhavam a nostalgia de ver no centro da cidade um carrossel típico dos séculos XVIII e XIX, com décors e elementos construídos em madeira e pintados à mão. “Fizemos uma viagem pela Europa, à procura de um carrossel que se adequasse às nossas expectativas. Queríamos um carrossel pequeno, mas bonito. Encontrámos exatamente o que procurávamos, em França, com um senhor que nunca tinha querido vender aquela peça de museu, mas connosco acabou por fazer negócio”. A empresa abriu em 2003 com um carrossel e o desafio, no momento, era rentabilizar o investimento: “os carrosséis são caros. Não se encontram divertimentos destes abaixo dos 100 mil euros e um carrossel de dois andares, como existe em França, pode ultrapassar os 300 mil euros de investimento. Por isso, para compensar o investimento que tínhamos feito, fui falar com a Câmara Municipal de Lagos, e a instituição acabou por me deixar montar o carrossel numa das ruas mais movimentadas e típicas da cidade, na época de Natal”.

Se, no início, a ideia foi olhada com desconfiança, no final da época natalícia a autarquia pediu a Yan Bustamente e Hugo Huyng que mantivessem o seu carrossel montado. “É uma atração excelente e dá muita vida e requinte às cidades, sobretudo se for montado num local central, como um parque ou uma praça. São peças únicas, verdadeira arte, com classe e que remetem diretamente para o imaginário infantil”. Duas outras câmaras municipais que apoiaram fortemente a empresa foram a autarquia de Cascais e a de Portimão: “em Cascais, foram muito recetivos a ideia e apoiaram-nos. O carrossel está lá instalado desde a primeira época natalícia, porque a Câmara deixou nos ficar ao ano inteiro e é, de facto, até hoje um sucesso”.

Embora o setor seja muito pequeno – as principais dificuldades são o restauro e as variais competências e habilidades técnicas necessárias e os custos de fabricar qualquer elemento para estes carrosséis: “quando compramos os originais, temos de os restaurar. Isso leva tempo, e há peças que fazemos ou temos de mandar fazer novas, o que é caro. O ideal seria não restaurar nenhum carrossel e fazer uma nova cópia do original, mas isso é um serviço longo e bastante caro”.

A Jubilo tem, neste momento, cinco carrosséis, que podem ser utilizados para eventos, feiras, casamentos, batizados, receções de embaixadas e festas temáticas, mas o desejo de Yan Bustamente era conseguir ter um carrossel em cada cidade portuguesa. “Tenho esse sonho e, embora reconheça que é difícil, admito não desistir dele. O essencial era que as autarquias reconhecessem estes divertimentos como uma mais-valia para as cidades. Estes são objetos adaptáveis, cujos elementos podem ser substituídos, os décors pintados e alterados e não incomodam quem passa, pois são verdadeiros clássicos. São obras de arte que são colocadas na cidade para usufruto das crianças”. A nostalgia dos carrosséis é algo que atravessa todas as gerações. Os carrosséis da Jubilo Carrossel fazem todos voltar à infância e ter vontade de viajar num dos cavalos de madeira que integram aquele divertimento, ao som de uma música clássica, vinda de outros séculos.

 

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