Great: A sua empresa de Saúde e Segurança no Trabalho (SST)

Sediada no Porto, a GREAT – Grupo de Reestruturação Empresarial e Assessoria Técnica está há cinquenta anos no mercado, ao serviço da saúde. Surgiu pelas mãos do Major Morais de Castro, em 1969. Hoje, é Joana Castro Santos, neta do fundador, quem assume a gerência do negócio e foi com ela que estivemos à conversa para conhecer o passado, o presente e o futuro deste negócio de família.

A GREAT, fundada pelo seu avô, celebrou este ano o 50º aniversário, mas bem mais recente é a sua história na empresa. Em que momento decide agarrar o desafio de assumir a gerência deste negócio?
É verdade. Se alguém me dissesse há uns anos que estaria a gerir uma empresa de SST não acreditaria. Tudo surgiu, porém, de forma muito natural. A minha formação é em design gráfico. Tirei o curso na Suíça, na Écal e, juntamente com o meu sócio, criei uma empresa, ainda nessa altura, para prestar serviços de design e desenvolvimento web, a ColorElephant. A certa altura, os meus pais, sócios da GREAT, perguntam-me se quereria abraçar este desafio, dado que, devido a algumas mudanças societárias, a GREAT estava à procura de um gerente. Confesso que a primeira reação foi “Porque haveria de querer”? Do pouco que sabia do negócio. Sabia que era completamente diferente do que fazia ou conhecia e que era um negócio extremamente competitivo com margens curtas. O oposto do que se poderia querer. Mas depois há tudo o resto. É uma empresa que está na família há 50 anos, iniciada pelo meu avô, que tem nos seus quadros pessoas como a Fátima [foto, à direita] que está na casa desde o início e que tem sido um contributo único para o sucesso da empresa, funcionando desde sempre como uma espécie de “gerente sombra”. Ou do Nuno, técnico de SST que está connosco há 10 anos. No fundo, o que o me atraiu foi o desafio e o facto de tudo ser tão diferente. Não conhecia esta área nem a legislação associada. Penso que o meu aspeto outsider me permite pensar e abordar as coisas de forma diferente.

São uma empresa de Segurança e Saúde no Trabalho. De que forma garantem a excelência do serviço prestado?
Acho que, nesta indústria, o segredo menos bem guardado é que os nossos congéneres não trabalham com pessoas com a devida especialização. Vemos a reticência das empresas em contratar os serviços (que acabam por contratá-los pela obrigação legal). No entanto, consideramos que isso seria o fim da GREAT tal como o meu avô a criou. Se, por um lado, há a responsabilidade de fazer com que a GREAT gere lucros, por outro, há a responsabilidade de garantir que os ideais se mantêm. E, fazemos essa prestação de serviço garantindo que o médico do trabalho não está lá apenas para “pôr umas cruzes” nas fichas, mas para o devido acompanhamento aos colaboradores das empresas. Temos tentado adicionar alguns “pozinhos de inovação”, tal como uma ficha digital que permite aos colaboradores verem a evolução da sua saúde.

As empresas têm hoje maior preocupação com o bem-estar dos seus colaboradores?
Acho que, com raras exceções, as empresas sempre se preocuparam com os seus colaboradores. É paradoxal não o fazer, já que são eles a chave para o crescimento de uma empresa. Há formas, influenciadas pela cultura, em que essa preocupação se manifesta. O que aconteceu, porém, em algumas áreas e com algumas empresas é que houve uma mudança drástica: deixou de ser a empresa a escolher o seu colaborador e passou este a ter o poder de escolha. Isto leva as empresas a manifestarem essa preocupação de forma mais evidente, já que isso tem uma influência não só nos recursos humanos internos, como na contratação.

Este é também um dos campos em que intervêm?
Eu diria que sempre interviemos. Para lá de uma mesa de ping-pong no meio do escritório, garantir a saúde física e mental dos colaboradores, é a melhor forma de os atrair e manter. Fazendo uso dos meus conhecimentos em tecnologia, juntámos um grupo de especialistas nacionais e internacionais em saúde mental no ambiente de trabalho e corporate wellness. Estamos a preparar o lançamento de um produto que apoia as chefias e os colaboradores na melhoria e gestão do seu bem-estar mental. Embora, muitas vezes, seja um assunto menos abordado, tabu talvez, a Organização Mundial de Saúde (OMS) já percebeu que é um problema de saúde grave e um potencial problema a nível de produtividade laboral. Um bom exemplo disso, é o dito burnout ter entrado na nova classificação internacional de doenças da OMS. Acreditamos que é útil e que as empresas lhe vão dar valor.

Como irá funcionar esta aplicação?
É um pouco mais que uma aplicação. A app será a face visível para o colaborador, mas há também um portal para o empregador (para os RH) que permite o apoio. A app irá chamar-se Feeling Great. Todo o conteúdo é criado por especialistas e, na prática, permitirá desenvolver exercícios, aceder a conteúdo (escrito ou multimédia) ou até conectar-se com um médico. Será, exclusivamente, comercializada para empresas e adaptável a cada realidade. Queremos que seja “o braço direito” no que toca ao well being e à saúde mental dos colaboradores.

Dados comprovam que houve uma redução do número de acidentes de trabalho, após a implantação da lei, mas o mesmo não acontece com os problemas do foro psicológico…
Sim, é verdade. Apesar de não achar que tudo se resolve com leis, a verdade é que a componente psicossocial tem que ter mais relevância do que tem hoje. Ainda assistimos a uma pressão por objetivos, para subir na carreira, como dizia antes o “estigma” associado é outro problema. Se estivermos constipados sabemos que estamos doentes, mas se estivermos profundamente deprimidos e sem rumo não temos essa perceção de forma tão factual. Somos “fracos”. Será um processo longo de formação (da entidade patronal), de sensibilização (do público em geral) e adaptação a uma nova realidade.

Partilha da opinião de que, muitas vezes, o tratamento deste e de outro tipo de situações é adiado?
Sim. Uma coisa importante é que, com a Medicina no Trabalho, tal como o nome indica, as pessoas não precisam de sair do trabalho ou perder uma tarde para ir ao médico, o médico está ao dispor dos funcionários e está lá para os ajudar em tudo. Às vezes chega a fazer o trabalho dito de psicólogo, ouve as histórias e os desabafos.

Considera que ainda existem muitas lacunas, por parte das empresas, no que diz respeito à Segurança e Saúde no Trabalho?
Sim, existem e temos exemplos disso todos os dias. Eu acho que o grande problema é a SST ser vista como uma obrigação. Quem é que gosta de pagar impostos? Percebo que, para uma empresa que esteja a enfrentar dificuldades, ter mais esta despesa não é fácil, mas tem de haver uma sensibilização em relação a este tema, mostrando exemplos práticos que posicionem este serviço como um claro benefício e não, apenas, como uma obrigação legal.

De que forma é feita essa sensibilização?
Não partirá só de nós e passará por ter bons médicos. Médicos que saibam consultar os doentes e que criem empatia. Em segundo lugar, acho que há necessidade de implementar uma campanha de sensibilização e coordenação mais genérica e centralizada que apresente a SST e não do ângulo do “se não fizeres és multado”, mas sob a perspetiva dos benefícios que tem. As mentalidades hoje são diferentes das de há uns anos e a tendência é para continuar a melhorar.

O que podemos esperar para o futuro da GREAT?
Queremos entregar ao mercado uma solução que apoie a saúde mental dos colaboradores e vamos internacionalizar. Ao mesmo tempo, pretendemos continuar a modernizar os processos, tentando combater este preconceito sobre a indústria. A nível mais pessoal, o que aprendi é que uma empresa familiar não é uma empresa “normal”… e por isso há uma vontade de garantir que o legado, bem como a sua credibilidade no mercado, perdure. Fica prometido uma entrevista daqui a 50 anos. Talvez consiga roubar à Fátima o título de funcionária com mais anos de serviço [risos].

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