“Em Ponta Delgada você está no centro do mundo”

O concelho de Ponta Delgada ficou, pela primeira vez, classificado entre os 25 primeiros concelhos do país, no Portugal City Ranking, elaborado pela Bloom Consulting. Nos três pontos analisados por esta consultora – Viver, Negociar e Visitar – a maior cidade dos Açores aparece destacada em relação a todo o restante arquipélago. A Revista Business Portugal esteve à conversa com o presidente do município, José Manuel Bolieiro, para perceber como o concelho alcançou este resultado e qual a estratégia para o futuro da região.

Com uma população residente de 40 mil pessoas, mas cerca de 70 mil a fazerem da cidade o seu ponto de passagem e trabalho diário, Ponta Delgada apresenta um desenvolvimento superior a todo o restante arquipélago dos Açores. Para o jurista e presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, José Manuel Bolieiro, o desenvolvimento do concelho é resultado de uma estratégia concertada entre os órgãos públicos municipais, regionais e nacionais, nas mais variadas áreas de atuação, que permitiu a Ponta Delgada uma subida constante no ranking do estudo da consultora Bloom Consulting, que analisa o desempenho de cada concelho português, no que respeita às vertentes Viver, Negociar e Visitar: “É importante salientar que a estratégia implementada está correta, pois os resultados são visíveis. Temos sabido potencializar a principal riqueza dos Açores, e de Ponta Delgada em particular, que é a sua beleza natural, conjugando-a com fatores como o saber receber e o saber divulgar o nosso produto. Todavia, é preciso consciencializarmo-nos das nossas capacidades, das nossas condições e daquilo que queremos que seja o futuro da nossa terra”.

Smart city: estar em Ponta Delgada é estar no centro do mundo

O conceito de smart city designa uma cidade que integra um conceito tecnológico nas atividades quotidianas, e Ponta Delgada já proporciona hotspots urbanos, em vários pontos distintos da cidade: “A nossa beleza natural é o nosso maior bem e é aquele que podemos oferecer a quem nos visita, mas atualmente ainda existe um grande desconhecimento, quer pelo nosso lado, quer pelo lado de quem nos visita, e é aí que eu acredito que a tecnologia possa ajudar. Estamos a criar verticais de inteligência tecnológica citadina, para podermos desenvolver, no futuro, aplicações multilingue, que abarquem os principais pontos turísticos da nossa região e que ajudem, por um lado, quem nos visita a saber um pouco mais sobre o local que está a visitar, e por outro que permitam às entidades públicas municipais um conhecimento de quem nos visita, porque o faz e o que procura. Além disso, permite-nos também ter o controlo do número de visitantes, o que é muito importante para manter o equilíbrio e a sustentabilidade da Natureza”. Estas aplicações tecnológicas têm custos elevados, que a Câmara reconhece não poder suportar sozinha: “Contamos com os fundos comunitários, aos quais nos candidatámos, e com o apoio de empresas privadas, que também têm tido muita responsabilidade no desenvolvimento do concelho e têm sido grandes parceiras do município”. As aplicações tecnológicas irão permitir criar roteiros mais avançados do que as placas informativas, em várias línguas, para que os turistas que visitam Ponta Delgada se sintam integrados na cidade, bem acolhidos e saiam conhecedores do património que visitaram.

Promover os produtos da região e a marca AÇORES

Quem visita Ponta Delgada fá-lo sobretudo pela beleza exótica, natural e inexplorada que a ilha de S. Miguel possui, mas os ativos endógenos de interesse turístico não terminam aí: “A gastronomia da região dos Açores é muito rica e temos produtos locais que merecem ser reconhecidos, valorizados e, sobretudo, potencializados. É possível reconhecer e trabalhar o peixe, o ananás, o leite, a carne da região, sempre de maneira inovadora e projetando o que melhor temos para oferecer, a nível gastronómico. Para isso, contamos com a ajuda dos empresários da restauração e hotelaria locais”. Além de uma promoção junto dos agentes hoteleiros, o município tem procurado promover eventos que valorizem os produtos açorianos, inclusivamente no estrangeiro: “Temos patrocinado programas televisivos, para que alguns chefs possam dar a conhecer diferentes maneiras de usar os nossos produtos típicos na confeção de pratos tradicionais ou requintados. É importante salientar o facto de os nossos produtos serem todos naturais. Quem vem a Ponta Delgada, tem a possibilidade de desfrutar de uma boa experiência gastronómica, pois os alimentos não têm químicos, são produzidos de forma tradicional e não são manipulados geneticamente. Sou um apoiante da organização em Confrarias, por exemplo a Confraria do Leite e do Ananás, pois considero que são dois produtos representativos da genuinidade e do exotismo do destino Açores, cuja marca deve ser promovida”.

É importante também salientar que o arquipélago dos Açores, e o município de Ponta Delgada em particular, é um destino seguro, sem problemas relacionados com ameaças terroristas. Além disso, apesar do seu exotismo e de possuir uma flora luxuriante e uma fauna muito típica, o que lhe confere um ar tropical, quem viaja para os Açores não precisa de se sujeitar a tomar qualquer vacina, para se proteger de nenhuma doença e o presidente do município de Ponta Delgada sublinha a qualidade do ar e da água do concelho: “Monitorizamos regularmente a qualidade da água e a qualidade do ar, através de análises feitas por laboratórios independentes e estamos, nos dois casos, muito bem classificados. A nossa água é boa para consumo, bem como o ar que aqui se respira ainda é puro e parco em poluição”.

Um turismo eclético mas controlado

A chegada das empresas de transporte aéreo low cost à ilha de S. Miguel, que é a principal porta de entrada nos Açores, fez aumentar exponencialmente o número de turistas. O facto de poderem beneficiar de preços mais baixos nas viagens de avião atraiu um público mais variado, cujos interesses são bastante distintos, aos quais o presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada quer corresponder: “O nosso turismo é essencialmente um turismo de Natureza. O nosso grande ativo turístico é o património natural, virgem e inexplorado que possuímos, e a possibilidade de, quem quer que seja, poder visitá-lo e desfrutar dele sem pressa, sempre acompanhado de uma sensação de calma e paz proporcionada pelas imensas paisagens magníficas desta terra. Todavia, temos outros tipos diferentes de turismo, que podemos potencializar, nomeadamente o turismo cultural-confessional e o turismo académico-científico”.

No que respeita ao turismo cultural-confessional, Ponta Delgada tem um património religioso muito rico e que pode ser usado por aqueles turistas que gostam de visitar património arquitetónico, escultórico e figurativo: “Temos tido uma excelente colaboração por parte da Igreja, que se tem mostrado muito disponível para abrir o património eclesiástico ao público. Estes eventos identificam o nosso povo e a política municipal procura apoiar estas realizações, nomeadamente no que respeita à organização destes eventos. Em maio, temos as grandes festas em honra do Senhor Santo Cristo dos Milagres que, a seguir a Fátima, é a maior festa religiosa de Portugal. Outro evento que mostra muito bem a açorianidade são as Festas do Divino Espírito Santo, que têm um caráter mais popular. Realizamos inclusivamente uma grande concentração das 24 freguesias do concelho de Ponta Delgada, citadinas e rurais, em honra do Divino Espírito Santo”.

Outra característica da religiosidade do povo açoriano é a sua riqueza de património: “A Câmara Municipal recuperou uma sinagoga, para a transformar num núcleo museológico e com potencial informativo e de estudo, para os académicos que acompanham a evolução da história judaica. Pode mesmo criar-se um roteiro específico sobre este património e cativar um nicho de turismo religioso muito interessante”.

Para além da recuperação da sinagoga, o município de Ponta Delgada ajudou também a recuperar um espaço museológico relativo ao Santuário do Senhor Santo Cristo dos Milagres, cuja enorme coleção de joias e o rico património de azulejos justificou uma parceria de investimento entre a Diocese de Ponta Delgada e o município: “Para além destas recuperações, a Igreja tem disponibilizado o espaço religioso para concertos, aquando das Festas religiosas do concelho”.

No âmbito científico e académico, Ponta Delgada tem também um grande potencial: “Queremos que muitos cientistas venham a Ponta Delgada e aproveitem o potencial natural da nossa terra para relaxar, fazer as suas pesquisas – podem contar com a ajuda da nossa Universidade – e inspirar-se na Natureza fantástica que temos para produzir os seus trabalhos académicos. Inclusivamente, convidámos a National Geographic para vir até aqui e documentar a fauna e a flora existente, ligadas à atividade vulcanológica existente na região e que contribui, justamente, para um ecossistema único”.

Precisamente para proteger este património de excelência e único no mundo, o presidente da Câmara de Ponta Delgada realça o facto haver a necessidade de controlar o fluxo de turismo na ilha: “É necessário pensarmos bem toda esta chegada de turistas, porque a sua existência é muito importante para a ilha, mas também existe uma sobrecarga de recursos que é preciso considerar. A questão de receber turistas não se prende apenas com o aumento do número de camas, mas há que saber, por exemplo, qual a nossa capacidade, enquanto ilha, de alimentar, com os nossos próprios recursos endógenos, todos aqueles que nos visitam. Além disso, a própria construção de unidades hoteleiras deve respeitar sempre os limites urbanos e arquitetónicos necessários para integrar os hotéis na Natureza e, sobretudo, garantindo a sustentabilidade do edifício. É importante que haja uma integração ecológica e o máximo possível sustentável destas novas unidades no conceito de turismo de Natureza que queremos vender”.

Ponta Delgada foi, em conjunto com Lisboa, a única cidade portuguesa a integrar a rede europeia de Urban Waste, que promove a recolha de resíduos sólidos urbanos e o seu tratamento de uma forma sustentável.

“O desenvolvimento não se faz por decreto, mas pode conseguir-se através da pedagogia e de orientações geradoras de confiança nos investidores e é isso que, enquanto executivo, temos procurado desenvolver. Não pretendemos fazer tudo sozinhos e estamos dependentes de candidaturas a fundos comunitários e de parcerias estabelecidas com agentes económicos locais. A juntar a isso, Ponta Delgada tem a mais baixa taxa de IMI, o que é um forte incentivo quer à fixação de população, quer à fixação de empresas”.

Neste momento, a principal cidade dos Açores é a 24ª do ranking nacional dos concelhos e a primeira da região autónoma dos Açores. O objetivo passa por continuar a desenvolver o concelho, em todas as áreas mencionadas, criando sinergias e cooperações constantes, entre parceiros privados e os órgãos políticos de gestão municipal, regional e nacional, sempre com base no turismo de Natureza e na beleza ímpar desta região portuguesa.

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