Doença Venosa Após Covid-19

Dr. Paulo Pimenta (OM36699), Médico especialista em Angiologia e Cirurgia Vascular no Trofa Saúde Alfena, Maia, Hospital da Trofa e Braga Sul

As complicações vasculares trombóticas e embólicas na infeção por Covid-19 são amplamente conhecidas e responsáveis por um significativo aumento da morbimortalidade na doença moderada e grave. A resposta inflamatória intensa mediada pelo sistema imunitário será o fator desencadeante para uma cascata de alterações da coagulação e lesão da parede vascular que culminam com eventos trombóticos graves, venosos ou arteriais.

Foi também relatado, nos últimos meses, um aumento significativo da incidência de episódios de trombose venosa profunda e superficial nos membros inferiores, em doentes adultos de todas as faixas etárias. Além das causas já conhecidas, a maioria dos eventos estão relacionados temporalmente com os períodos de confinamento e isolamento domiciliário. Entende-se assim, que a quebra de rotinas na atividade diária, a imobilidade e sedentarismo associado, por exemplo, ao teletrabalho, bem como a ausência de exercício físico regular, sejam fatores precipitantes para o desenvolvimento da doença venosa trombótica diagnosticada ultimamente nesta era pandémica.

Estes eventos podem ter uma evolução benigna se detetados e tratados precocemente, mas podem evoluir de forma insidiosa e grave, deixando sequelas incapacitantes e definitivas se o diagnóstico for tardio, podendo mesmo ser fatais em situações mais extremas e excecionais.

Com o retorno progressivo à denominada “vida normal”, são ainda muitos os doentes que mantêm queixas associadas à insuficiência venosa crónica, relatando um progressivo agravamento da sua sintomatologia. O edema crónico vespertino, a dor ou desconforto e ardência nos membros inferiores, mas também o aumento da doença varicosa (varizes), são queixas cada vez mais frequentes e causa de avaliação clínica. É fácil também aqui, estabelecer uma relação direta com o período que atravessamos nos últimos tempos.

Assim, chegou a hora de interromper a história natural desta doença, assumindo desde já hábitos de vida saudável e medidas de higiene venosa. Evitar o ortostatismo prolongado e a imobilidade, prática regular de exercício físico, drenagem postural com membros inferiores elevados por curtos períodos diários, hidratação e alimentação saudável, controlo e supervisão médica na toma de anticoncecionais e terapêutica hormonal de substituição, são alguns dos fatores que podem alterar o curso desta doença.

A manutenção da sintomatologia, apesar destas medidas, bem como o aumento das varizes e alterações cutâneas nos membros inferiores, são motivos mais do que suficientes para uma avaliação a curto prazo no âmbito da Cirurgia Vascular, com a certeza que existe atualmente solução e capacidade técnica instalada, bem como, motivação clínica para a resolução da esmagadora maioria destas patologias. Com objetivas e evidentes melhorias sintomáticas e resultados cosméticos gratificantes.

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