“Acredito muito no poder das mulheres como líderes”
Cláudia Bernardino Bernardo desde os três anos que queria ser médica, por isso, hoje considera-se uma mulher feliz e realizada profissionalmente. Dedica-se de alma e coração ao trabalho, adora ser médica de família e ter a possibilidade de ajudar os outros. Apaixonada por novos desafios, integrou, em setembro de 2020, a equipa da OPFC – Clínica Médica do Porto e, em abril de 2021, tornou-se a diretora clínica. Em entrevista à Revista Business Portugal, destaca o poder das mulheres como líderes, em todas as áreas, essencialmente, pela inteligência emocional mais desenvolvida, o que considera, uma característica essencial para trabalhar com pessoas.
Quem é Cláudia Bernardino Bernardo? O que a inspira e motiva diariamente enquanto mulher e profissional? Como consegue criar um equilíbrio entre a esfera pessoal, social e profissional?
Tenho 44 anos de idade, licenciada em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Lisboa, especialista em Medicina Geral e Familiar desde 2008. Natural de Moimenta da Beira, mas por acontecimentos inesperados da vida, iniciei a minha atividade profissional em 2003 no Porto, onde me encontro desde então. A minha vida profissional divide-se atualmente entre o Porto, Vila Nova de Gaia e a Maia. Adoro a minha profissão – Médica de Família – e, a possibilidade de no dia a dia ajudar os outros nas várias vertentes. Nesta especialidade posso tratar a doença, atuar na prevenção, ajudar ativamente em problemas económicos e sociais assim como problemas familiares. Posso atuar em todas as áreas da esfera da vida das pessoas. É muito gratificante diariamente, embora às vezes seja desgastante emocionalmente. Sou uma mulher feliz e realizada profissionalmente, tenho uma filha de sete anos maravilhosa existindo uma grande cumplicidade e amor entre nós e tenho amigas/os (poucos, mas muito bons) para partilhar as alegrias e as tristezas, as boas e más notícias… enfim, o que faz parte numa verdadeira relação de amizade. Aos 23 anos, perdi de forma súbita a minha mãe e, tive que saber encontrar um equilíbrio para retomar o curso e retomar a vida real. Desde então apesar da vida não ser perfeita, com altos e baixos, emocionalmente tenho tido a capacidade de me centrar na minha carreira profissional e, desta forma, surge um equilíbrio pessoal, social e profissional. O importante é colocar os pés todos os dias no chão: aí temos motivos para estar sempre felizes, porque estamos vivos.
Como define o seu percurso académico e profissional? Sempre quis ser médica?
Desde os três anos que dizia querer ser médica. No interior, para ter médias altas competitivas era preciso abdicar de quase tudo e a dedicação ao estudo era a tempo inteiro. Entrei, inicialmente, no curso de Farmácia da Universidade do Porto, completei o primeiro ano, mas não tive dúvidas que o meu caminho era a Medicina. Apenas no quinto ano tive a certeza que queria ser médica de família. Terminado o curso na FCM/UNL e, porque acontecimentos de vida também condicionam as escolhas, rumei ao Porto. Vivo e trabalho no Porto há 19 anos. Tirei a minha especialidade de uma forma consciente, mas louca e surrealista. Comecei a fazer privada desde cedo (1º ano da especialidade), pois só assim perdia a vergonha de falar com os utentes, só assim ganhava aptidões para sozinha responder à solicitação e a vontade de saber cada vez mais crescia de forma exponencial. Durante quatro anos trabalhei 100h/semana. Quis aprender e passar pelo maior número de especialidades possíveis, por um centro de diálise, Medicina do Trabalho, trabalhei um currículo imenso e vasto. A maior aprendizagem foi-me passada por todas as pessoas/utentes que passaram por mim. O desafio era dar resposta e, se ela não era imediata havia de surgir dias depois. Desengane-se quem acha que sabe tudo…
Ser médica de família é ser médica dos zero aos sem limite anos; é vigiar grávidas; é fazer consultas de saúde infantil; é fazer planeamento familiar; é vigiar HTA e diabetes; é a saúde de adultos… Mas também é a resposta ao domicílio dos dependentes. Também é a gestão dos conflitos familiares, também é o luto, logo está sempre implícita a psiquiatria e a psicologia. A relação de confidencialidade e proximidade com as pessoas utentes é muito aliciante e enriquecedora.
A liderança no feminino centra-se na capacidade de resolução de problemas de forma criativa e inovadora, autoconfiança, espírito de iniciativa, influência e resiliência, sem esquecer o poder da comunicação. Revê-se nestas palavras e características?
A liderança no feminino é muito mais atenta ao detalhe e emocional, muito mais preocupada com a equipa a nível emocional, mais próxima do outro, e com maior capacidade de gerar empatia e, assim, criar uma relação de confiança, fazendo com que a equipa se sinta envolvida, de forma mais natural, e não por uma questão de obrigatoriedade. É preciso achatar a hierarquia nas empresas, elevar o nível emocional das equipas, envolver as pessoas nas decisões, ouvir a sua opinião e mantê-las dentro do processo, como peça fundamental do sucesso. Acredito muito no poder das mulheres como líderes, em todas as áreas, temos uma inteligência emocional mais desenvolvida e esta característica é fundamental para trabalhar com pessoas.
“A liderança no feminino
é muito mais atenta ao detalhe e emocional, muito mais preocupada com a equipa a nível emocional, mais próxima do outro,
e com maior capacidade de gerar empatia”
Ver uma mulher em cargos de liderança ainda é considerado mais como uma exceção do que uma regra. Na esfera da medicina, como analisa a representatividade feminina em cargos de liderança?
Na área da Medicina estamos muito presos aos diretores de serviço que, raramente, são mulheres; na Medicina Geral e Familiar há cada vez mais mulheres nos cargos de coordenação no SNS, isto porque é uma área, cada vez mais, preenchida por mulheres. Na minha opinião, no futuro, de uma forma geral, será cada vez mais no feminino, tendo em conta o rácio homens vs mulheres a ingressarem no curso de Medicina. Há que deixar o preconceito de ter uma mulher como diretora de um serviço, pois pode ser uma mais-valia em várias vertentes. Claro que as competências técnicas devem ser sempre a prioridade, mas a sensibilidade, a capacidade de se colocar no lugar do outro, a capacidade de motivação, a capacidade de inovação constante, querer estar sempre na linha da frente é fundamental e no meio hospitalar ainda mais.
Termino apenas dizendo que só se conhece o trabalho de uma mulher, neste caso, na liderança de um serviço ou clínica na aérea da Medicina, dando a oportunidade de mostrar as suas competências, as suas habilidades e as suas capacidades técnicas e humanas.
Com um vasto e enriquecedor percurso profissional, abraçou em setembro de 2020 um novo projeto na OPFC – Clínica Médica do Porto e, em abril de 2021, a sua direção clínica. O que a levou a abraçar este desafio? Que cunho pretende imprimir enquanto líder? Quais os fatores distintivos da vossa abordagem?
Desde cedo, aliei o público com o privado. Integrei a equipa da OPFC em setembro de 2020, como Médica de Medicina Geral e Familiar e, mais tarde fui convidada para ser diretora clínica. Dada a conjuntura pandémica que vivemos fomos inevitavelmente obrigados a reinventar a estratégia, tendo ainda recentemente atualizado a própria designação do nome da clínica de forma que a mesma estivesse em perfeita harmonia com os atuais investimentos já em curso. É um projeto que sempre me fez sentir motivada, porque estávamos em plena pandemia. Na OPFC, a grande mais-valia foi criar uma equipa que pautasse pela experiência, competência e juventude, começámos pelo conceito de médico de família na privada, acho que cada vez mais, no futuro, vamos ter pessoas a procurar médico de família no privado e em clínicas mais pequenas, em que as pessoas se sentem mais acompanhadas, mais acarinhadas e em segurança, por serem sempre seguidas pelo mesmo profissional, queremos marcar a diferença aí. No que diz respeito à missão e objetivos, na OPFC queremo-nos destacar pela excelência formativa e competências técnicas de todos os elementos e, por isso, apostamos numa equipa jovem e diferenciada que investe na profissão. Para além disso, queremos ir mais além das teleconsultas e telereabilitação e assim, chegar a casa das pessoas, a casa das famílias e assegurar serviços como o médico de família que, neste momento, está tão desfalcado no Serviço Nacional de Saúde, garantindo as melhores condições de segurança e atendimento.
A OPFC distingue-se por conseguir acompanhar os doentes com sequelas pós-Covid-19 com o acompanhamento da nossa Pneumologista e, em equipa com a Fisioterapeuta Respiratória. E, poderia estar aqui a falar de cada uma das áreas, pois todas elas são inovadoras na arte médica e terapêutica de abordar a pessoa/o utente/o doente. Trabalhamos individualmente, mas sempre com a ideia de que somos uma equipa multidisciplinar e, portanto, aproveitamos os recursos de uns e de outros.
No presente, a aposta da OPFC – Clínica Médica do Porto é a diferenciação nos seus serviços, seja através da Medicina Geral e Familiar, Pneumologia, Pediatria, Psicologia Clínica, Nutrição Funcional, Desportiva e Clínica (focada também na Diabetes), Fisioterapia Respiratória e Pediátrica, Fisioterapia Saúde Pélvica e Podologia – Pé Diabético, e novidades na zona do Grande Porto com uma consulta multidisciplinar do sono. Dispomos ainda dos serviços de enfermagem, realização de análises clínicas 12h/d, convenção com centro de Imagiologia e Diagnóstico Radiológico e ainda realização de testes SARS-CoV-2 quer os de antigénio rápidos, quer os moleculares por RT-PCR com colheitas da nasofaringe ou saliva.
Na equipa da Clínica integram referências do mundo desportivo, exemplo disso é o Prof. Dr. José Maria Villalón Alonso, chefe do departamento médico do Atlético de Madrid. O Dr. José Maria Villalón Alonso é um médico que nos honra por integrar a nossa Comissão Científica como Presidente, mas é também um amigo e, por isso, também nos apoiou nessa mudança de estratégia para enfrentar a pandemia. Marcamos a diferença principalmente na acessibilidade, na oferta e no conforto. O SNS atravessa um período conturbado em que não tem capacidade de dar resposta a todas as pessoas. O fator preço deixou de ser uma não questão. As pessoas procuram um serviço de saúde de proximidade, de atenção e personalizado. Têm por isso a preferência, numa clínica onde possam reunir todas as suas necessidades: avaliação médica, análises, exames e, até mesmo, um rápido acesso aos medicamentos e outros produtos de saúde que possam necessitar.
A Medicina Geral e Familiar é um dos pontos fortes da OPFC – Clínica Médica do Porto. Pode dizer-se que medicina de proximidade com atendimento diferenciado, em que cada utente é prioritário é o vosso objetivo?
O que para nós é um ponto forte – Médico de Família na privada em presença na clínica, em teleconsulta (com médicas certificadas para a realização destas consultas), quer no conforto do domicílio, é uma fraqueza do SNS. Ainda há um elevado número de utentes sem médico de família, não há capacidade de resposta aos que o têm, fruto de um SNS sem capacidade de resposta na pandemia, alocando os Médicos de Família a várias tarefas sem capacidade de resposta às suas enormes listas de utentes.
Os utentes veem o médico de família como o ponto de partida para uma primeira avaliação e, só depois solicitam orientação para outras especialidades. Assim acompanhar o utente na saúde e doença, com proximidade, com empatia e com capacidade de resposta, com a certeza que será sempre o mesmo clínico a acompanhá-lo, dá-nos um sentido de missão cumprida, ainda mais com a satisfação dos utentes e, a mim em particular, sendo eu Médica de Família e a diretora clínica da OPFC que, preza pela diferença da proximidade, da resolução, o mais imediato da resposta aos pedidos e, na tranquilização destes utentes. A pandemia fragilizou imenso as pessoas, principalmente a nível emocional, cabe-nos como profissionais de saúde ver a pessoa como um todo e, ajudar nesse sentido. Cada utente é único e o nosso princípio é tratá-lo exatamente assim, sendo ÚNICO, numa sociedade com os seus problemas físicos, emocionais e psicossociais, e com uma pandemia que tende em não nos deixar. E, sem dúvida face ao descrito, não posso deixar de partilhar que esta é a minha grande paixão. Posso fazer pouco, mas às vezes, cinco minutos de atenção no diálogo repetitivo do utente, mostra-me que a questão da ida à consulta está por detrás. Descortiná-lo e orientar no sentido necessário é um dia de felicidade. Para terminar, ser diretora clínica da OPFC é, neste momento, uma das minhas maiores realizações profissionais e pessoais. Trabalho com uma equipa fantástica, em crescimento. Acredito que liderança se resume a conhecer bem as nossas pessoas e humanizar as organizações. Devemos ter interesse genuíno em cada pessoa, que é única e vive numa circunstância própria. E, é assim que conseguiremos mais facilmente estruturas/equipas fortes e coesas. A nossa génese é de grande proximidade e foco nas pessoas que estão connosco e contribuem para que a Clínica cumpra o seu propósito. Para mim é importante que os profissionais se sintam felizes e realizados ao trabalhar na OPFC. Se queremos ser agentes de mudança acredito que temos de liderar pelo exemplo e dar o primeiro passo, para tal devemos ter conhecimento e estar munidos de ferramentas que nos permitam definir uma estratégia forte junto com a equipa, para uma execução de qualidade e eficiente.
A primeira clínica surge numa zona nobre do Porto, mas pretendem crescer. Qual a visão e estratégia em termos de futuro?
Não é um capricho que nos leva a esta nossa missão e visão de ampliar a OPFC – Clínica Médica do Porto, é mais um dever de apresentar algo que se tratará de novidade.
Uma Clínica com uma Consulta Multidisciplinar do Sono, capaz de executar os vários níveis de exames para o correto diagnóstico e consequentes tratamentos, com uma Consulta Médica diferenciada, com suporte analítico na hora, independentemente da hora, aportando também Fisioterapia Respiratória e Pélvica de referência, Podologia de estado da arte e adaptada não só aos desportistas, não esquecendo do cidadão comum e com especial atenção ao pé de diabético, e ainda apresentando-se como uma Clínica de chave na mão, possibilitando que a prescrição médica lhe seja entregue diretamente na Clínica, se assim os nossos pacientes quiserem, e reservo tudo o resto para que os nossos pacientes sintam a diferença. Juventude, Experiência e Competência é o que se pode esperar dos nossos serviços na OPFC – Clínica Médica do Porto, situada na Avenida da Boavista bem em frente ao pulmão da cidade (Parque da Cidade).