A adaptabilidade como resposta para a incerteza
2024 começa sob o signo da incerteza. Económica, política e geopoliticamente ninguém consegue com segurança perspetivar o que nos espera para os próximos doze meses.
A inesperada queda do Governo apoiado por uma maioria absoluta parlamentar, precipitou o país num período eleitoral sem que sejam claros os cenários políticos a surgir após o dia 10 de Março, sendo no entanto duvidoso que volte a ser assegurada uma maioria absoluta por qualquer uma das forças partidárias.
Este cenário de maior instabilidade política coloca em causa a possibilidade de serem tomadas várias medidas importantes, e realizadas as reformas desejáveis com impacto na economia nacional. Torna assim mais indispensável, tal como tem defendido a CCP, a adoção de um verdadeiro contrato social que abranja questões fundamentais para o crescimento da economia e não se restrinja apenas à lógica temporal e redutora dos ciclos eleitorais.
Partindo de um consenso alargado em sede de concertação social, esse contrato deverá ter em conta não apenas as indispensáveis alterações no modelo fiscal para o aumento do rendimento dos cidadãos e a capitalização das empresas, mas também e prioritariamente como impulsionar fortemente o investimento privado e definir as prioridades do investimento público. Temos de centrar-nos numa economia que incorpore, em todos os setores, cada mais serviços criadores de valor, isto é, mais “servitizada”, e que se integre cada vez mais acima nas cadeias de valor internacionais, necessidades estratégicas essas apontadas recentemente pelo Prof. Augusto Mateus num estudo promovido pela CCP.
À incerteza na política nacional, somam-se ainda os efeitos do prolongamento da guerra na Ucrânia, da escalada de confrontos no Médio Oriente e, também, das eleições nos EUA e do que elas poderão impactar na cadeia logística e comercial mundial.
Apesar da inflação estar a baixar, permanece um risco elevado de aumento do preço do petróleo, enquanto é sentida a diminuição das exportações, em consequência da retração na Europa.
Regressando ao cenário nacional, uma descida demasiado lenta das taxas de juro continuará a criar dificuldades quer para as famílias, quer para as empresas. Sendo que o crescimento da economia portuguesa continuará abaixo dos nossos concorrentes diretos na Europa, o que não é de todo positivo.
Com o objetivo de contribuir para as respostas a estas situações, a CCP prosseguirá em 2024 as suas Jornadas dedicadas à competitividade, reunindo associações, empresas e instituições públicas em torno dos principais grandes temas da nossa Economia e numa lógica não de curto prazo, mas de definição das linhas mestras para as políticas públicas e a atividade dos principais setores empresariais.
Depois da inovação, criação de valor e produtividade debatidas em Lisboa e da qualificação em torno das competências numa economia baseada nos serviços que juntaram várias centenas de participantes em Leiria, iremos em Braga dialogar com os principais intervenientes e especialistas na área da gestão do território, com foco na resolução das questões relacionadas com as assimetrias regionais a nível nacional.
Se a incerteza é aquilo com que teremos de contar neste ano de 2024, a única forma de a contrariarmos será a de nos preocuparmos, acima de tudo, com a adaptabilidade a todos os níveis, desde os nossos modelos de negócio aos nossos processos produtivos, passando pela nossa cadeia de fornecedores e clientes. Se “resiliência” foi a palavra de ordem no período pandémico, “adaptabilidade” é agora a sua substituta perante a imponderabilidade dos cenários. Seja como for o ano que agora começa, teremos que o atravessar sempre atentos à necessidade de mudar o que for necessário para nos mantermos no rumo que pretendemos, para nós, as nossas empresas e o nosso país.