25 anos de ensino e investigação

O Prof. Miguel Castelo-Branco, presidente da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior (UBI), esteve à conversa com a Revista Business Portugal e deu a conhecer a evolução da área médica na região e o impacto que o investimento na área da saúde teve para a Beira Interior. Paralelamente, partilhou alguns insights sobre projetos de extrema relevância, como o RISE-Health e o UBIMedical.

 

Prof. Miguel Castelo-Branco, Presidente

 

 

Em 2023 celebrou-se o 25º aniversário da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior (FCS-UBI). Que balanço traça deste percurso? 

O balanço que se faz do 25º aniversário da criação da Faculdade é positivo, relativamente àquilo que foi possível conseguir desde a construção de uma Faculdade de Medicina fora da zona “habitual” em Portugal. Tudo surgiu através de um desafio que o Governo lançou às universidades portuguesas, no sentido de criar dois novos cursos de Medicina, sendo que um deles deveria ser no Interior. O que a UBI fez foi responder aos requisitos, nomeadamente apresentar um projeto inovador e construir um projeto de ensino de Medicina na base de uma Universidade e nas instituições do Serviço Nacional de Saúde no Interior de Portugal. O projeto, desde o ponto de partida, não era apenas para a Medicina, incluía outras áreas de Ciências da Saúde e, por isso, a denominação “Faculdade de Ciências da Saúde”. As áreas de Ciências Farmacêuticas, Ciências Biomédicas e também a incorporação de um curso que funciona há muitos anos na UBI – o curso de Optometria e Ciências da Visão – estiveram na criação desta faculdade, sendo o balanço bastante positivo. Do ponto de vista da região, para além do aumento de profissionais nas áreas referidas, também tem tido um grande impacto na atração de pessoas e no desenvolvimento do conhecimento científico.

No plano de investigação, qual a importância do Centro de Investigação em Ciências da Saúde? Quais as áreas de investigação em que se concentra?

O Centro de Investigação em Ciências da Saúde foi criado em simultâneo com a Faculdade. Este centro serve para apoiar a investigação nas mais variadas áreas da saúde: Bio-Farmacêutica, Biomateriais, descoberta de drogas, hormonas e metabolismo, produtos naturais e investigação microbiológica, doenças neurológicas e neuro vasculares e, ainda, as doenças respiratórias e alérgicas. Estes foram os principais focos de atenção que se desenvolveram nos últimos anos. Fazemos ciência com laboratórios muito bem apetrechados e com investigadores de elevada qualidade, o que resultou em muitos trabalhos científicos, na criação de algumas empresas e na transferência para a indústria dos desenvolvimentos feitos no Centro de Investigação e Ciências da Saúde.

 Qual o objetivo primordial do RISE-Health?

O objetivo do RISE-Health é criar uma rede de centros de investigação em que o seus polos sejam constituintes no domínio de um centro único, permitindo que haja uma descentralização em termos dos polos, do funcionamento do próprio centro, mas sobretudo mais solidez, porque aumenta o número de investigadores e o número de áreas em volta dos pontos de investigação.

A intensificação da pesquisa na área da saúde é vista como uma alavanca para levar o nível da pesquisa científica na área da saúde em Portugal a patamares que, até então, ainda não foram alcançados. O RISE-Health é uma excelente iniciativa para a investigação na área da saúde, inclusive na expansão das áreas de pesquisa envolvidas.

 A instituição tem desbravado caminho em diversas áreas, desde simulação médica até parcerias estratégicas. Qual a importância destes vetores na estratégia da FCS?

 A importância é primordial. Hoje, há cada vez mais a evidência científica sobre quais são as melhores metodologias de ensino, quais são as formas mais úteis de transferir conhecimento e competências para as pessoas e capacitá-las para poderem ter um desenvolvimento, em termos profissionais mais adequado ao que se pretende. Procuramos melhorar a qualidade de serviços de saúde onde as pessoas colaboram e também contribuir para a área da investigação. Isso implica que as metodologias sejam comprovadamente eficazes e esse tem sido, desde o princípio, o esforço que temos feito em termos de Faculdade, ou seja, inovar nas áreas do ensino. Aliás, este constitui uma parte do desafio que foi lançado à UBI na altura da criação do curso de Medicina, ou seja, ser inovadora nas metodologias, uma aprendizagem que foi feita através de visitas e estudos do que estava documentado sobre a evolução pedagógica, em termos do ensino da Medicina e das outras áreas da saúde. Neste contexto, foi necessário logo à partida, criar um conjunto de parcerias com universidades internacionais para o estabelecimento destas redes de conhecimento e de transferência de informação para podermos realmente aproveitar estas sinergias. Por outro lado, obviamente, em termos operacionais, fomos desenvolvendo um conjunto de parcerias com outros centros de investigação e universidades para continuar a avançar, sob o ponto de vista das estratégias, quer em intercâmbios de alunos, quer de conhecimentos e, portanto, com resultados extremamente importantes para a FCS. Também em sede de projetos e de candidaturas nacionais e internacionais, tem-se feito um conjunto de parcerias com entidades da mais diversa índole, nacionais e internacionais, para dar corpo e adequação àquilo que são as candidaturas, obviamente, visando a majoração das condições para a aprovação dos projetos.

Quais são os principais desafios que a Inteligência Artificial pode ajudar a resolver em ambiente cirúrgico?

 Uma das áreas que foi identificada há algum tempo foi o desenvolvimento de competências na área cirúrgica. O que se fez, em simultâneo, foi criar condições de formação avançada nas diversas áreas da Medicina, incluindo a área cirúrgica. Há já alguns anos que dispomos de um laboratório de treino de competências cirúrgicas que se mantém atual e essencial, agora mais do que nunca, através da incorporação de tecnologias de ponta. Numa perspetiva ligada à tecnologia mais avançada, como é o caso da cirurgia robótica feita por apoio tecnológico, incluindo a Inteligência Artificial, criámos uma nova versão do centro de desenvolvimento e competências cirúrgicas, com a designação de CUBI – “Cirurgia na Universidade da Beira Interior”, e uma das áreas em que estamos a apostar é a da cirurgia robótica.

 

 

Quais são as principais áreas de pesquisa e especialidades médicas abordadas no Centro Académico Clínico das Beiras?

O Centro Académico Clínico das Beiras (CACB) é um consórcio, atualmente, constituído por quatro Unidades Locais de Saúde – Viseu, Guarda, Cova da Beira e Castelo Branco – e quatro Escolas Superiores de Saúde, nomeadamente, a Universidade da Beira Interior e os Institutos Politécnicos da Guarda, Viseu e Castelo Branco. A principal aposta de pesquisa desses centros são os principais problemas de saúde presentes na região, como as doenças vasculares, as doenças respiratórias obstrutivas, a diabetes, as doenças ligadas ao sistema nervoso, o cancro e a área de habituação de substâncias, como o álcool e o tabaco.

Qual o papel da UBIMedical na retenção de talento e no alavancar do potencial da região para o investimento científico e instalação de outras empresas na área da saúde?

O UBIMedical foi criado enquanto centro de interface entre a investigação nas áreas da saúde e ciências da vida que se faz na UBI e a sociedade. Assume dois eixos, a incubação de base tecnológica e a componente laboratorial. A incubadora de base tecnológica visa proporcionar um conjunto de serviços de scouting, pré-incubação e aceleração a projetos empreendedores de docentes, investigadores e pessoal não docente. Estes mecanismos têm sido extremamente eficazes para potenciar o surgimento e crescimento de 41 startups, atualmente incubadas no UBIMedical. Estas empresas, na sua maioria captadas da investigação ubiana, são catalisadores da criação e consolidação de um cluster biomédico e biotecnológico na região, potenciando a captação de outras empresas extra-região para o UBIMedical, de projetos e consórcios de I&D, e favorecendo a criação de emprego altamente qualificado. Em termos de exemplos, há a destacar startups ligadas ao desenvolvimento de medicamentos, empresas CRO, próteses, inteligência artificial ligada à deteção de marcadores, análise de dados ou aplicada ao drug design, IoT aplicada à monitorização em saúde, entre outros. Na componente laboratorial, o UBIMedical acolhe 11 laboratórios, em áreas como a fármaco-toxicologia, as radiações, os biosensores, a visão, as doenças respiratórias, o envelhecimento ativo, a fisiopatologia, a saúde nos edifícios, a química, as telecomunicações, e o centro académico clínico. Estes laboratórios assumem uma vertente aplicada, visando à prestação de serviços altamente especializados ao exterior, os projetos em consórcio e o apoio às empresas incubadas. O UBImedical visa, assim, reforçar a ligação da Universidade ao exterior, à sociedade civil e às empresas, bem como alavancar a área das ciências da vida na região, fixando pessoas e empresas.

 

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