Com uma dedicação profunda à pediatria e à osteopatia infantil, Vera Barata fundou a Clínica Pediátrica 4Kids e tem vindo a afirmar-se como uma referência nacional na sua área.
O seu percurso académico e profissional revela uma dedicação profunda à pediatria e à osteopatia infantil, o que originou a abertura da Clínica Pediátrica 4Kids. O que a levou a direcionar a sua prática para esta área, e que lacunas sentiu que precisava de colmatar no acompanhamento clínico das crianças?
Na qualidade de fisioterapeuta e osteopata pediátrica, tenho o privilégio de exercer uma prática que integra não apenas o tratamento de condições previamente instaladas, mas também a prevenção de fatores suscetíveis de impactar negativamente o desenvolvimento infantil e, por conseguinte, a vida adulta. Ao longo do meu percurso profissional, estabeleci uma ligação de profunda empatia e inspiração com a população pediátrica. Costumo afirmar, em tom de brincadeira, que “as crianças são as minhas pessoas preferidas”, pois recordam-me diariamente a relevância da autenticidade, curiosidade e simplicidade. Esta afinidade pessoal, aliada à convicção do papel primordial da prevenção, orientou de forma natural a minha atividade exclusivamente para o âmbito pediátrico. As principais lacunas que identifiquei relacionam-se com a necessidade de fomentar uma abordagem mais personalizada e humanizada. A constituição de equipas transdisciplinares, a promoção do diálogo entre especialidades e a partilha contínua de conhecimento constituem, a meu ver, pilares fundamentais para assegurar um acompanhamento clínico rigoroso e ajustado às particularidades de cada criança. Esta é a filosofia que sustenta o trabalho desenvolvido na Clínica Pediátrica 4Kids.

A sua formação é internacional e abrange áreas como neurociência do sono infantil, integração de reflexos primitivos e osteopatia na prematuridade. Como é que esta abordagem multidisciplinar se reflete na prática clínica diária?
A formação diversificada que tive a oportunidade de realizar com profissionais nacionais e internacionais possibilita-me analisar cada situação clínica de modo abrangente, identificando fatores que frequentemente não são evidenciados em avaliações convencionais. No exercício diário, esta integração de saberes reflete-se na elaboração de planos terapêuticos mais completos e adaptados às necessidades específicas de cada bebé e respetiva família. Este enquadramento multidisciplinar, que procuro igualmente transmitir aos meus alunos, contribui para resultados clínicos mais consistentes e intervenções individualizadas, sempre em respeito pelo ritmo e pelas características singulares de cada criança.
Tem vindo a formar profissionais e a colaborar com universidades e equipas clínicas. Que desafios identifica atualmente na formação em osteopatia pediátrica e que caminhos defende para uma maior valorização desta especialidade?
A osteopatia é uma profissão regulamentada em Portugal; contudo, no domínio pediátrico, persiste o desafio de definir critérios uniformes e exigentes que garantam uma preparação técnica aprofundada e segura. Paralelamente, subsiste alguma desinformação e perceções imprecisas sobre esta área, apesar do incremento de estudos científicos que comprovam a sua eficácia em diversos contextos clínicos. Considero que a valorização da osteopatia pediátrica assenta na regulamentação específica para a pediatria, e a consolidação de uma integração efetiva com outras especialidades da saúde infantil, no desenvolvimento de investigação científica robusta e na criação de redes colaborativas de partilha de conhecimento entre profissionais. Apenas desta forma será possível afirmar esta prática como uma intervenção reconhecida, valorizada e credível em saúde.